sexta-feira, 8 de agosto de 2008

ANDROGINIA

"Masculino-feminino: categorias demasiado grosseiras, e também demasiado simplistas, para poderem satisfazer um fim- de-século atormentado por desejos túrbidos. A rejeição da moral tradicional, passando pela indiferenciação sexual e pelas metamorfoses da imagem da mulher, encontram expressão numa figura legitimada pela tradição estética: o andrógino. Tanto quanto obceca a pintura, em que impera a ambiguidade sexual, este "sexo artístico por excelência"

(Praz, 1977), obceca a literatura da época, do Monsieur Vénus de Rachilde (1889) à Morte em Veneza de Thomas Mann (1912), passando por Le Désir et la poursuite du tout de Frederick Rolfe (1911) e Le Martyre de saint Sébastien de D'Annunzio (1911). Além da carga claramente fantástica, o andrógino, ao remeter para o mito platónico das origens, representa a procura de uma unidade inacessível, o sonho de uma reconciliação entre o paganismo e cristianismo, entre a idealização do ser amado e os imperativos de Eros."

Texto de François Vergne, professor na Universidade de Paris III - Sorbonne Nouvelle.

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