sábado, 9 de agosto de 2008

DECADÊNCIA

"Os grandes bárbaros brancos" (Verlaine)

"O poeta de As Flores do Mal gostava daquilo a que impropriamente se chama o estilo da decadência, e que outra coisa não é senão a arte que atinge aquele ponto de maturidade extrema que as civilizações que envelhecem determinam nos seus sóis oblíquos." No seu prefácio (1868) a As Flores do Mal, Téophile Gautier (1811-1872) estabelece a relação entre decadência histórica e zénite poético. No mesmo sentido, "Langor" de Verlaine (1884) celebra o apogeu de um estilo requintado.

Quer se considere este fenómeno literário como uma primeira manifestação do simbolismo (o aparecimento da revista Le Decadent de Anatole Baju é, aliás, contemporâneo do manifesto de Móreas), quer se tente distingui-lo dele, a decadência define-se por um estado de espírito impregnado de pessimismo e por uma escrita mais rebuscada , em que abundam as palavras raras, os neologismos, e que recorre a perversas metáforas e a uma sintaxe complicada.

Este estilo impõe-se num romance, À rebours, em que Huysmans traça o retrato inesquecível do duque Jean Floressas des Esseintes, arquétipo do esteta decadente, dandy neurótico que prefere a arte à vida. A pintura participa activamente na criação destas atmosferas insalubres. Cronista dos vícios e da corrupção da sua época, Jean Lorrain (1855-1906), nas suas próprias palavras eterómano e "enfilantropo", escreve Monsieur de Phocas (1900), romance de clima deletério, percorrido por descrições de obras de Moreau, Ensor ou Khnopff.

Séverine Jouve, jornalista e escritora.

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