sábado, 9 de agosto de 2008

POESIA E VERSO LIVRE: ABOLIR AS VELHAS FORMAS

Em Baudelaire (1821-1867, que define o poder encantatório das palavras e se dedica a decifrar, através das correspondências, o mistério da criação, encontram Verlaine, Rimbaud e Mallarmé um precursor. Este último é o autor de uma definição que passa a ser o credo de muitos poetas: " A Poesia é a expressão, pela linguagem humana reconduzida ao seu ritmo essencial, do sentido misterioso dos aspectos da existência : por isso ela confere autenticidade à nossa estada e constitui a única tarefa espiritual."

A fórmula do verso livre dispensa a contagem das sílabas. O seu número e repartição são livremente fixados em função da respiração ou da busca de musicalidade. A questão da sua paternidade é levantada um ano depois da afirmação de um simbolismo na literatura (ver manifesto). Gustave kahn (1859-1936) assina, nos seus Palais nomades (1887), uma primeira certidão de reconhecimento, certidão que confirma dez anos depois, no "Prefácio" aos seus Premiers poèmes. Mas o director da revista la vogue não podia ignorar os poemas de Rimbaud, nomeadamente "Marinha" e "Movimento", que este enviara para publicação em 1886, nem os Derniers vers de Jules Laforgue (1860-1887) e as traduções que este fez de As Folhas de Erva, do poeta americano Walt Whitman (1819-1892). Paul Valéry (1871-1945), muitos anos depois da "deliciosa emancipação" saudada pelo seu mestre Mallarmé, irá restabelecer, com La Jeune Parque (1917), uma ordem prosódica rigorosa.

Séverine Jouve, jornalista e escritora

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