quinta-feira, 2 de outubro de 2008

CAUSA AMANTE
de MARIA GABRIELA LLANSOL
(...)
Desdobro a carta de Luís M., não é uma carta , pois é um manuscrito fechado, mas sem endereço; é o que for, e eu lerei alto, a mim e a elas:
o que me atrai em ti é que te abras. Que te abras ao se. Que eu possa ir até todos os teus íntimos, como se fosses uma grinalda de flores secas, um velho pano de seda, um corpo de lembranças sensíveis, de homens desejados e perdidos, de visões sem lógica, de força de vontade, de pedaços de melodias simples trauteadas.
Cada vez que fui até a um teu segredo, a minha energia foi e, depois da retenção, eu ta dei.
foi na busca da mulher que principiou o meu caminho, é nele que encontrei o livro. Peguei no livro como se desfolhasse uma mulher muito desejada e adquiri uma forma fundamental de querer. Ensinou-me o livro a penetrar a mulher e estou com ela, como se a mulher seguisse os meandros do enredo.
o que me atrai no livro é que se abra. Que eu possa ir a todos os seus recantos, como se ele fosse um labirinto de acções, um guia em mundos que desconheço, uma sequência de imagens exactas, uma paisagem com força de existir, um velho manuscrito que fale verdade, e responda.
Cada vez que fui até ao fim do enredo, a minha energia foi e, depois de captada, se entregou.
a forma de te procurar e a forma do que procurei encontram-se quando, contigo, pude escrever o livro.
(...)

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