sábado, 27 de dezembro de 2008

Café Muller de PINA BAUSCH

A história de Café Muller : A acção é despojada e cortante. Na floresta de cadeiras vazias e gastas, pesa a angústia de uma solidão remota. Pina Bausch recorta-se ao fundo, ligeira e espectral, com uma túnica de tom claro. O passo é curto e incerto, os olhos fechados, as mãos estendidas para a frente : vidente sonâmbula , fantasma da consciência de si própria. Levada pelo som dilacerante das árias de Purcell.

Café Muller é uma lamentação de amor, uma metáfora doce e inquieta sobre a impossibilidade de um contacto profundo. é um trabalho estruturalmente simples e emocionalmente flagelante, que impressiona pela sua pureza e coerência. A desolação ambiental, o langor fúnebre, a violência da tipificação do relacionamento do casal, constituem todos elementos de verdade, de absoluta sinceridade expressiva.

Leonetta Bentivoglio - O teatro de Pina Bausch, Acarte, Fundação Calouste Gulbenkian, 1994

1 comentário:

Unknown disse...

Intenso e dramático, sublime. Os corpos desvendam almas desassosssegadas pela possibilidade da solidão pela incompreensão. Um momento de rara beleza comovente. e por isso nasceram lágrimas e lágrimas do espectador desconcertado pela evidência de uma realidade tão dura