quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Quatro desenhos de RUI EFFE





DESPOJOS DE UMA TRAGÉDIA DE FREDERICO NIETZSCHE

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Corre a vida sem parar e os melhores amigos não sabem nada um do outro. Não é pequena habilidade viver sem que me deixe dominar pela melancolia. Frequentemente, atravesso estados nos quais quisera contrair um empréstimo com o meu velho, forte, florescente e valoroso amigo Rhodes, estados em que necessitaria duma transfusão de sangue - de sangue de leão e não de cordeiro! - e encontro-me perante o impossível, pois o meu amigo está em Tübingen, casado e rodeado de livros, isto é, inacessível para mim, por todos os motivos. Vejo, então - ai, meu amigo!- que tenho que continuar vivendo à custa das minhas próprias «reservas», ou seja (como sabem todos quantos hajam pretendido fazer idêntica experiência) bebendo o meu próprio sangue. Quando isto acontece, é preciso cuidar de não perder a sede de si mesmo, mas também de não esgotar por completo o rubro licor vital.

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