sexta-feira, 7 de novembro de 2008











O CIÚME

Francesco Alberoni






Os ciúmes não são um furto. Não somos ciumentos porque nos seja tirada qualquer coisa que consideramos nossa. Nós não somos ciumentos da pessoa que nos é raptada, nem do raptor. Nós só temos ciúmes quando é a própria pessoa que amamos a deixar-se raptar, seduzir, levar por outro, quando o prefere a nós. Os ciúmes são sempre uma traição da exclusividade.
Ciumento é aquele que se apercebe que, com razão ou não, ele não é o único, o exclusivo, para a pessoa amada, tal como ela o é para ele. Que ela encontra noutra pessoa o valor que devia ter encontrado só nele. (...) Sente-se nada, precisamente porque ela lhe ensinara que era tudo. Porque o exaltara até onde nunca pensara elevar-se. E agora tira-lhe a primogenitura acabada de conceder, derruba-o do trono a que o associara. Expulsa-o do paraíso, mergulha-o no abismo e ergue outro no seu lugar.
Algumas vezes no amor nascente, os ciúmes estimulam a vontade. Levam o enamorado a lutar pelo seu amor. Isto acontece quando há esperança.