quinta-feira, 12 de março de 2009

Poema de Jorge Velhote

O meu olhar dobra-se como um seixo impelido
pela espuma do mar, declina-se como o cristal
no fogo, o brilho da bruma inflama as árvores,
no entanto, rompem líquenes e iridescentes
pétalas, os mortos rodam em redor dos troncos
as suas cabeças de musgo e pólen – silvam
como o vento nas pupilas, debicam-me as gotas
do suor, murmuram porque espreitam
sedentos a lavra discernida dos animais.


Perscruto no labirinto dos mortos a fresca sombra,
as folhas caídas na sua secura e ferrugem -- na pupila
cessa de crescer o bosque luminoso, o acaso fluvial
das sílabas, o enigma da solidão e destino --,
o que estremece quando se despenha ao alto
no antiquíssimo vinho que nas ânforas se acolhe,
o que nos ribeiros é rumor ou pousada de silêncio apenas.


Na fissura da penumbra o tumulto ensombrece o meu
olhar que declina infindo, bactéria que se hospeda
no perímetro muscular e se demora célere
expande o que observo esquecido na aragem
de um ramo de siglas e eclipses e tábuas.

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