segunda-feira, 20 de julho de 2009

A Poesia de LORCA quando visitou a cidade de Nova Iorque
A queixa de Lorca contra Nova Iorque tinha origem no divórcio entre vida e natureza que ele encontrava na arquitectura extra-humana e no ritmo furioso, dissociação que a cidade impõe ao visitante. Antes de atendermos a esta queixa deveríamos dizer, porém, que a Nova Iorque dos poemas - sobretudo para nós, que os lemos cinquenta ou mais anos depois de terem sido escritos - não se limita a ser cidade mas encarnação global dos valores sociais e culturais dos americanos, e além disso encarnação de uma qualquer megalópolis do mundo capitalista.
A sua angústia e a sua geometria triunfam sobre os elementos da existência, ao passo que a comunidade orgânica, que entre si e a natureza não abriu nenhuma brecha, passa precisamente pelo contrário: os elementos é que governam os seres vivos e alguns esquemas impõem às suas ambições e aos seus desejos. O canto profundo cantava a noite, e a quem os escutasse recordava a natureza trágica do homem. Lembrá-lo era espiritualmente saudável e unia-os mais, relacionando-os também com o mundo das plantas e dos outros seres. Por outro lado, a noite de Nova Iorque está adulterada, e o céu viciado, e a lua escurecida. Ninguém dorme, insiste Lorca em dizer, na cidade sem sono . Ninguém dorme em nenhum dos sentidos da palavra dormir, pois nem aos mortos a cidade oferece paz:
Há um morto no cemitério mais distante
que há três anos se queixa
por ter no joelho uma paisagem seca;
e o menino que esta manhã enterraram chorava tanto
que só chamando os cães se calou.
Fragmento de A Cidade Sem Sono, Lorca, Nova Iorque num poeta, Hiena

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