segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

TOLSTOI e SÓNIA


LEON E SÓNIA TOLSTOI
Escritor famoso, autor de Guerra e Paz e Ana Karenina, Leon viveu mais em guerra do que em paz com a sua mulher. Tinha 34 anos quando se casou com Sónia, de 18, numa cerimónia feita à pressa. Tolstoi sempre foi terrivelmente contraditório: anjo e fera, génio e miserável. Era bissexual e bebia muito. Até se casar, contraiu doenças venéreas de várias mulheres de vida fácil, amava platonicamente alguns homens e manteve uma tórrida relação com uma das suas camponesas, mulher casada com a qual teve um filho. Entre o noivado e o casório passaram-se apenas sete dias. No decorrer dessa mesma semana Tolstoi teve a cruel e original idéia de que a noiva lesse todos os seus diários íntimos, para saber com quem estava a casar-se. E a pobre Sónia, ainda uma menina, teve que engolir as escabrosas revelações de um senhor de 34 anos que mal conhecia. Ficou horrorizada. Após o casamento, foram morar em dois pavilhões apertados, imundos e escuros, sem tapetes, invadidos por ratos e com o jardim devorado pelas ervas daninhas. As dívidas de jogo de Leon haviam consumido a bela mansão de 36 quartos.
Sónia ficou grávida 16 vezes, sofreu três abortos e quatro dos 13 filhos que teve, morreram. Viveu o inferno do tolstoísmo. Aos 49 anos, Tolstoi mergulhou numa profunda crise de depressão. Tinha idéias suicidas e não via sentido na existência; até que decidiu criar uma nova religião, o tolstoísmo, e tornou-se uma espécie de guru pregando coisas como a abstinência sexual. Tudo adubado por furiosos sermões e iradas censuras, porque Tolstói transformou-se num fanático intolerante que imputava aos outros (sobretudo à mulher) as suas próprias falhas. Sónia enfrentou ainda o discípulo Chértkov que teve Tolstoi nos braços no leito de morte.
Por mais de duas décadas a mulher de Tolstoi tentou pôr ordem e sensatez no delírio: "O meu marido deixou absolutamente tudo sobre as minhas costas", escreveu lucidamente no seu diário, os filhos, a fazenda, a casa, os seus livros, os problemas económicos, o contacto com as pessoas e com os editores, e depois, com uma indiferença egoísta e críticas, despreza-me por eu fazer tudo isso. Mas, se o louco não era tido como tal, então ela, Sónia, o que era? Pouco a pouco foi perdendo a noção do real. Se o louco não estava louco, então a louca era ela.
Sónia perde a razão e entrega-se a comportamentos histéricos e paranoicos. Durante as várias crises, atirou-se para uma represa gelada, tentar atirar-se a um poço e golpear o próprio peito com um martelo. A sanidade só voltou com a morte do marido. Sónia administrou as propriedades da família, começou a escrever as suas memórias e visitava todos os dias o túmulo do marido, onde depositava flores até à sua morte.

1 comentário:

Anónimo disse...

Acabei de assistir ÚLTIMA ESTAÇÃO, baseado nos últimos dias de Tolstoi. Seu artigo, seu relato coincide com o que vc faz. Parabéns pela lucidez nada tolstoina.
Abs,

Marcio
marcioautomare@yahoo.com.br