segunda-feira, 26 de abril de 2010

MARILYN MONROE - A RAINHA - Um corpo tão saudável, um sorriso único e tantos nós que ninguém desatou. A morte ficou com tudo.






Poema de RUY BELO

NA MORTE DE MARILYN


Morreu a mais bela mulher do mundo
tão bela que não só era assim bela
como mais que chamar-lhe marilyn
devíamos mas era reservar apenas para ela
o seco sóbrio simples nome de mulher
em vez de marilyn dizer mulher
Não havia no fundo em todo o mundo outra mulher
mas ingeriu demasiados barbitúricos
uma noite ao deitar-se quando se sentiu sozinha
ou suspeitou que tinha errado a vida
ela de quem a vida a bem dizer não era digna
e que exibia vida mesmo quando a suprimia
Não havia no mundo uma mulher mais bela mas
essa mulher um dia dispôs do direito
ao uso e ao abuso de ser bela
e decidiu de vez não mais o ser
nem doravante ser sequer mulher
O último dos rostos que mostrou era um rosto de dor
um rosto sem regresso mais que rosto mar
e toda a confusão e convulsão que nele possa caber
e toda a violência e voz que num restrito rosto
possa o máximo mar intensamente condensar
Tomou todos os tubos que tinha e não tinha
e disse à governanta não me acorde amanhã
estou cansada e necessito de dormir
estou cansada e é preciso eu descansar
Nunca ninguém foi tão amado como ela
nunca ninguém se viu envolto em semelhante escuridão
Era mulher era a mulher mais bela
mas não há coisa alguma que fazer se certo dia
a mão da solidão é pedra em nosso peito
Perto de marilyn havia aqueles comprimidos
seriam solução sentiu na mão a mãe
estava tão sozinha que pensou que a não amavam
que todos afinal a utilizavam
que viam por trás dela a mais comum imagem dela
a cara o corpo de mulher que urge adjectivar
mesmo que seja bela o adjectivo a empregar
que em vez de ver um todo se decida dissecar
analisar partir multiplicar em partes
Toda a mulher que era se sentiu toda sozinha
julgou que a não amavam todo o tempo como que parou
quis ser atá ao fim coisa que mexe coisa viva
um segundo bastou foi só estender a mão
e então o tempo sim foi coisa que passou.



Ruy Belo
Transporte No Tempo

domingo, 25 de abril de 2010

O TAL 25 DE ABRIL QUE MUITOS JÁ ESQUECERAM...


SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

«TUDO O QUE FLUTUA NO INCONSCIENTE CORRE O RISCO DE SER PROJECTADO»


O MEU TEMA PREFERIDO...

Que se verifica na psicanálise?

Quando uma análise individual é suficientemente desenvolvida, quando o inconsciente pessoal é limpo, descascado e purgado, desembaraçado dos seus «bloqueios», dos seus complexos patológicos, das suas angústias, das suas inibições, das suas regressões, etc., desemboca-se num novo território do inconsciente, vasto e grandioso - o inconsciente colectivo e os seus arquétipos, fontes de energias por vezes prodigiosas.

Este inconsciente é semelhante a uma terra que, a cem metros de profundidade, contivesse uma toalha de petróleo, imutável desde há milhares de anos. Durante a análise, o paciente torna-se então como um espeleólogo que, após ter percorrido, ofegante, negros labirintos (o seu Inconsciente Pessoal), mergulhasse na luz de uma vasta sala onde se reencontrassem acumuladas, sempre actuantes, as riquezas dos homens que nos precederam durante milénios.
Certas condições são, pois, indispensáveis para se ter acesso ao inconsciente colectivo.
Porquê?
O inconsciente pessoal é individual. É são ou doente, mas, de qualquer maneira, contém a soma das nossas experiências pessoais. Suponhamos que contém um «complexo». Tal complexo é, evidentemente, de carácter negativo. Quero eu dizer que este complexo impede a acção livre. Bloqueia a energia, em vez de a distribuir. Enquanto a pessoa tropeçar contra este complexo, ser-lhe-á impossível descer à parte correspondente do inconsciente colectivo.
O inconsciente colectivo estará reservado exclusivamente a uma »elite»? De modo nenhum; contudo, só é acessível aos que se tornaram suficientemente conscientes de si próprios e se libertaram dos seus complexos patológicos. É evidente, pois, que só se aborda o inconsciente no fim da análise. (...)
Um mundo de quimeras
Em psicologia humana, reina uma lei implacável. Ei-la: «Tudo que flutua no inconsciente corre o risco de ser projectado». Por outras palavras: tudo o que erra no inconsciente, tudo o que não está «integrado» na personalidade, corre o risco de ser projectado no exterior. (...)
OS TRIUNFOS DA PSICANÁLISE, Pierre Daco, II Volume, Portugália, tradução de António Ramos Rosa,

sábado, 24 de abril de 2010


SHAKESPEARE - Dia 29 - Quinta-Feira - CAFÉ PROGRESSO - 21.30H

mais uma sessão de poesia organizada pela livraria POETRIA
Camões tinha morrido há menos de 20 anos quando foi publicado este soneto de... Shakespeare.
So, to be or not to be... A tentação é grande de deixar recair o mistério, também nos sonetos que lhe são atribuídos: foi Shakespeare autor ou imitador duma obra imortal?

Ao jurar-me ela seu fiel amor,
palavra que acredito e sei que mente;
deve pensar-me um jovem sem tutor,
nos enganos do mundo inexperiente.

Assim, pensando em vão que me crê jovem,
saiba embora já fui melhor do que hoje,
as suas falas falsas me comovem
e a verdade de parte a parte foge.

Mas porque não dirá ser ela injusta?
Porque não digo minha idade avança?
No amor, idade e anos dizer custa

e é costume de amor fingir confiança.
Deitamo-nos, mentimos, mente, minto.
Mentir em culpa é-nos lisonja, sinto.

Além da leitura dos sonetos será encenado um texto-surpresa que põe em paralelo a avassaladora tragédia de Hamlet e a tragédia nossa de cada dia..., no próximo dia 29/4 às 21,30h no Café Progresso.


quinta-feira, 22 de abril de 2010

BRILHO NO ESCURO nº 1 - Verão e nº 2 - Inverno - revistas de poesia




Palavras da escritora YVETTE CENTENO a propósito dos números de Verão e de Inverno da revista de poesia Brilho no Escuro - Edições Anjo da Guarda,

Blog de YVETTE CENTENO
Brilho no Escuro
Outras ocupações me deixaram um pouco afastada do blog, mas não há coincidências e aqui regresso pela mão amiga de quem ama a literatura e arte e me envia outros números da revista Brilho no Escuro:agradeço a Isabel de Sá, a Graça Martins e ao João Borges, que me anuncia a preparação de um n.4.Estejam atentos.Podemos agora ver melhor como de um onirismo sarcástico, fazendo evocar alguns dos poemas e das collagens de Jacques Prévert bem como as leituras apaixonadas da obra de Comte Lautréamont - a grande Bíblia do surrealismo em França e entre nós - as criadoras partiram para a expressão mais intensa, quem sabe se mais dolorosa, dos atamentos da alma de que as cordas e os nós são a marca visível e quantas vezes sangrenta.Tantos e tantos anos passados, e as almas sangram na mesma. Podemos dizer, como Verlaine "em diálogo" com Rimbaud:Chora-se no meu coraçãocomo chove na cidadeVerlaine chorava o amor perdido de Rimbaud, nós choramos hoje a esperança traída, o horizonte fechado, e só na arte temos refúgio, nos criadores que continuam presentes: o seu dizer torna-se o único dizer possível, na pintura, no poema, na ilustração, neste caso concreto destas revistas de fulgurante brilho..Por um lado são eles que nos apontam novamente o caminho, como fizeram outrora (nos anos sessenta, os anos da "verde" esperança dos Verdes Anos) .João Borges, partindo de um título de Agustina Bessa Luís, oferece um ciclo de poemas:Canção Diante De Uma Porta Fechada...Diante de uma porta fechada, estou sentado e canto. Para a chuva, para o que está do outro lado....Este verso é uma entrada em diálogo com o espaço de um quarto, de uma cidade onde também chove, como na de Verlaine, uma entrada em diálogo com a leitura íntima de uma autora, uma obra (foi de início Agustina) é de seguida Irene Lisboa, a minuciosa, a ciosa da sua escrita, a tão esquecida apesar de tão inscrita no mundo. Um mundo fechado.Interessante é ver como os poetas, através das suas obras, falam uns com os outros, como no tempo o diálogo pode não ter interrupção, é uma questão de acaso e de momento.Mas:O livro tem de estar ali, tem de estar disponível, como a pintura tem de ter direito à sua legítima parede, a ilustração à folha que já chama por ela, clama desesperadamente por ela, para ser um tempo que se torna espaço, como em Parzival acontece ao reino do Graal, um tempo mágico que se torna actual, presente, só ali, para cada um e para todos, para sempre.Não me esqueçam, pinta Graça Martins na imagem que escolhi para o post, e eu digo com ela, não a esqueçam, nem a ela nem a nenhum destes nossos compagnons de route!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Rui Pires Cabral - Oráculos de Cabeceira

«Perhaps the world's empty.»

Ninguém perde um livro
no comboio, ninguém o acha
inutilmente sublinhado
noutra terra, noutra cama.

Ninguém fuma na arcada
rente ao frio de Dezembro,
ninguém sangra no passeio
à mesma hora.

Ninguém parte de repente
à procura de mais mundo,
ninguém chega por acaso
ao seu nenhum sentido
olhando simplesmente
da varanda.

Oráculos de Cabeceira, Averno 027, 2009, Lisboa.
Capa e Ilustrações de Daniela Gomes
Composto e paginado por Inês Mateus

JUP - Jornal Universitário do Porto - 23 ANOS de PRESENÇA CULTURAL

PARABÉNS
http://njapjup.extendr.com/
(http://issuu.com/jup_njap/docs/jup_marco2010)

JUP - uma missão que se cumpre a cada edição

DIRECÇÃO - Filipa Mora e Manuel Ribeiro
Directora de Paginação - Joana Koch Ferreira
Director de Fotografia - José Ferreira
Chefe de Redacção-Mariana Jacob
Editores :
Educação - Tatiana Rodrigues
Sociedade - Leandro Rodrigues
CULTURA- Tiago Sousa Garcia
Opinião - Pedro Ferreira
Desporto - Francisco Ferreira
Tiragem - 10.000 exemplares
(...)
Em tempos de novas tecnologias, ninguém quer ficar atrás quando se fala no salto para a internet.
O meio académico é um meio privilegiado, em que o contacto com as novas redes são não só importantes como essenciais para o enriquecimento dos estudantes. Muitos assumem que os jornais universitários, inseridos neste contexto de inovação, devem acompanhar essa evolução. mas isso não se passa da mesma forma em todos os jornais.
O JUP tenta aliar-se a estas novas potencialidades a passos cada vez maiores. Possui um site e um blog dos espaços JUP, que destaca as actividades do NJAP (Núcleo de Jornalismo Académico do Porto).
No entanto, ainda não tem um espaço fixo para distribuir informação na Internet. A ideia do site de notícias do JUP ainda é um projecto por concretizar. "Por mais obsoleto que possa soar em 2010, falta um site actualizado. Mas só depois do mínimo de colaboradores assegurado é que partimos para o online", explica Filipa Mora, directora da publicação. O que falta? "Tu, eu, nós e eles, os estudantes. Falta a equipa!", pensa Manuel Ribeiro, também director.
Enquanto isso, o jornal traça o seu caminho pelas redes sociais. Além da cobertura do Fantasporto através de um blog em parceria com o portal Rascunho. net, está presente no Twitter (ferramenta utilizada para a cobertura das Férias Desportivas) e em outros blogs, como o que cobriu a Queima das Fitas 2009 além das noites do Queimódromo e outro para trabalhos que não são publicados em papel. A pouco e pouco, o objectivo é chegar cada vez mais directamente aos estudantes.
(...) JUP de 10 de Março de 2010

A cidade de névoa e granito - JUP de Março ( colaboração da pintora Graça Martins)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

DOIS VERSOS

"nada me foi pedido
por que respondi eu?"

Y.K.Centeno

PAINEL 1

Este conjunto de 6 paineis foi criado para a exposição
25 ANOS DE PINTURA de GRAÇA MARTINS e ISABEL DE SÁ
na GALERIA ALVAREZ - PORTO, 2002
Notícias, recensões críticas do trabalho plástico
e literário das autoras, ao longo da carreira de ambas.

PAINEL 2


PAINEL 3


PAINEL 4


PAINEL 5


PAINEL 6


Fragmento de uma entrevista de CARLOS AMARAL DIAS

Acontece-lhe pensar que o inconsciente das pessoas é mais interessante do que o consciente?
Sempre. Obrigatoriamente. Interessa-me muito mais o não-dito do outro do que aquilo que ele diz. Conversas sobre o tempo definitivamente não me interessam.

Alguma vez consultou um psicanalista?
Fiz duas análises de personagem e fiz psicodrama durante 17 anos.

Disse que gostava de conseguir arranjar o seu inconsciente. Está sempre a psicanalisar-se?
Sim, claro. De manhã, quando faço a barba, analiso sempre os meus sonhos. Às vezes, acontece-me acordar a meio da noite, perceber o sonho, e de manhã lembrar-me do seu significado, mas não do sonho.

Vale a pena interpretar os sonhos?
Quando se tem uma mina de ouro, às vezes, abrimos pistas e não encontramos nada; mas há um dia em que pode valer a pena.

"Portugal ainda não fez o luto pelo salazarismo. Basta encontrarmos obstáculos para percebermos como muita gente ainda procura o protector, o salvador que nos livre de todos os males."
Carlos Amaral Dias, Farpas JN

O TEMPO - SEMPRE O PROBLEMA DO TEMPO - REFIRO-ME AO TEMPO DE VIVENCIAR E INTROJECTAR AS EMOÇÕES

segunda-feira, 12 de abril de 2010

CARLOS AMARAL DIAS ENTREVISTADO

É a favor da adopção por casais do mesmo sexo?
Eu sou favorável. Há uma série de estudos, não são um nem dois, são muitos, sobre as crianças criadas por pais do mesmo sexo. Não se verificam alterações nas escalas de comportamento moral, no desempenho na escola, e não há um maior número de homossexuais.

Os dados científicos provam então que não há quaisquer malefícios para a criança.
Provam, e isso vale a pena ser dito. Eu não tenho nenhuma visão ideológica sobre o assunto. Tenho um ponto de vista objectivo: não há prejuízo para a criança. Este é um debate muito marcado pela ideologia e muito pouco pela ciência. E devia ser marcado pela ciência.

Quando fala na representatividade do masculino e do feminino - o próprio conceito do complexo de Édipo assenta na ideia de a criança perceber que o pai e a mãe são diferentes, identificar-se com um e desejar o outro -, como se processa num casal homossexual?
Da mesma forma que acontece numa criança que perde o pai ou a mãe. Há figuras substitutivas, quantas e quantas existem no quotidiano? O avô, a avó, o tio... Não têm que existir necessariamente em casa. Não há apenas o pai e a mãe, há muitos outros canais.

Essa posição é consensual dentro da classe?
Não. Devo estar numa posição minoritária. Mas nunca deixei que factor ideológico prevalecesse sobre o científico.

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS







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domingo, 11 de abril de 2010

WEEKEND

3 ACONTECIMENTOS SIGNIFICATIVOS NESTE FIM DE SEMANA


1º - Uma tarde a conversar com um adolescente
2º - Leitura de um livro de Daniel Sampaio ( Tudo o Que Temos Cá Dentro),Editorial Caminho, 2ªedição, 2000, Lisboa
3º- Alice no País das Maravilhas - Cinema

Falo destes três acontecimentos porque para mim há um fio que os une:
O CRESCIMENTO INTERIOR/EMOCIONAL

No 1ºponto , a dificuldade em acertar as ideias, o desvio constante, o medo, a insegurança, a mentira para o próprio (adolescente), e para o mundo.
E quem assiste a um discurso destes, relembra o seu com aquela idade. A hostilidade de uma sociedade reaccionária, fechada, apenas conduzida pelo discurso da Fé e pelo obscurantismo. A força e rebeldia que os adolescentes nessa época revelaram. Mas, agora, os adolescentes, com bastantes exigências resolvidas rejeitam lutar e culpam a escola, os professores, os colegas, dizem-se vitimas de bullying, tentam suicidar-se e alguns até conseguem. Mas que sociedade é esta? São adolescentes hedonistas? Demasiado frágeis? Por que razão? O bullying sempre existiu em todas as épocas. Todos fomos vitimas, de uma maneira ou de outra...
Estão sempre cansados? Só querem festas e fantasia, álcool e charros? E a família? Fala com eles, interessa-se por eles, sabe se alguns dos filhos são gays, se as filhas estão grávidas ou vivem algum desgosto de amor, uma paixão não correspondida? Ou só coloca dinheiro na conta para os levantamentos e não pergunta nada?


2ºponto – O Livro ( Tudo o Que Temos Cá Dentro) de Daniel Sampaio – Um livro interessantíssimo como, aliás, todos os livros deste psiquiatra. “A partir de um caso clínico real ( um jovem perturbado pelo suicídio daquela que ele nem pode definir como namorada, tão fugaz foi o relacionamento dos dois – do ponto de vista dele – e apesar disso, ou talvez por isso, tão intenso – do ponto de vista dela)”. A partir desta situação a perturbação do rapaz, que não consegue fazer o luto, desencadeia um estado depressivo, origina uma psicoterapia em que toda a família é envolvida, e descobre-se nessas sessões a incomunicabilidade da família, a mentira, a hipocrisia, a ocultação de factores que serão cruciais para o desenvolvimento do rapaz e para a sua libertação desse estado de sofrimento. Nada pior para um adolescente que a falta de diálogo, com a família, um professor, um amigo. As emoções desencadeadas no confronto com os outros, as diferenças de idade nesses confrontos são essenciais. Só assim a evolução natural e a segurança interior pode acontecer. Porque os mais velhos já estão neste mundo/sociedade, já venceram e conseguiram. Quando os adultos fogem do confronto com os jovens, não querem perceber ou disponibilizar-se para os ouvir, quando têm medo até de os contrariar, não estão a ajudar que um adolescente cresça. É mais fácil resolver tudo no Multibanco.

3ºponto – O Filme ( Alice no País das Maravilhas) de Tim Burton
O realizador dá continuidade à conhecida história de Lewis Carroll. Alice é agora uma rapariga que vai fazer 20 anos. Uma adolescente.
O mergulho de Alice não é apenas em direcção a um mundo de fantasia, mas também a um mundo negro, subterrâneo, em que as relações de poder definem os papeis, e os oprimidos sonham com a revolta. Alice embarca numa fantástica viagem para encontrar o seu verdadeiro destino, e acabar com o reino de terror da rainha vermelha. Alice é uma adolescente que coloca sempre no seu quotidiano a fantasia, Alice chegou depressa aos 20 anos e é obrigada pela família a tomar uma decisão, CASAR com um Lord de quem não gosta, enquanto tem uma cara bonita, porque senão fica para sempre uma tia velha, sem homem. Uma premissa deliciosa, que coloca questões sociais muito interessantes. Na frente da “traição”familiar e social, para Alice tomar uma decisão, já com festa de noivado, Alice foge e vai atrás de um coelho. A partir desse mergulho, Alice sofre emoções ambivalentes. Afinal o mundo da fantasia, o retardar o crescimento, as decisões, não é tarefa fácil. Acaba por ser obrigada a enfrentar um monstro para salvar a honra de um grupo de oprimidos, e ao fazer essa opção, vence o obstáculo (decapita o monstro), e prepara-se para enfrentar a família, regressando ao lugar onde tinha mergulhado. Um final fantástico em que Alice tem a coragem de recusar o casamento, e segue o seu destino como empresária numa viagem até ao Oriente. O mundo do trabalho espera Alice, e ela já não está insegura. Um final muito realista.
Ao longo da História, da Arte, sempre existiu este tema. É PRECISO PERDER O MEDO E ENFRENTAR A REALIDADE. CRESCER É NÃO TER MEDO. É TER UM PROJECTO DE VIDA E PERSEGUI-LO.

LISBOA - CAFÉ A BRASILEIRA - As PÉROLAS de LISBOA e do PORTO
















PORTO - LIVRARIA LELLO





































PORTO - CAFÉ MAJESTIC
















sexta-feira, 9 de abril de 2010

GRAÇA MARTINS - Crónica sobre o Porto - JUP- 10 de Março de 2010 ( Jornal Universitário do Porto)

A cidade de névoa e granito

Nas minhas viagens a Lisboa, vivo com mais intensidade as diferenças gritantes entre o Porto e a Capital. Desde os três anos de idade que os meus pais vieram de Vila do Conde para o Porto. Nesta cidade frequentei a escola primária, o liceu Rainha Santa Isabel, a escola secundária e artística de Soares dos Reis e, por fim, a Faculdade de Belas Artes.
O prazer de passear na rua de Santa Catarina, frequentar o Café Majestic, as ruas 31 de Janeiro, Passos Manuel, Clérigos, a avenida dos Aliados, os cafés Piolho, ( Ancora de Ouro), Ceuta, Guarany, Brasileira e claro, as livrarias do Porto. A Leitura, a Latina, a Lello. Enfim, um mundo artístico de cafés, livrarias e galerias de arte. Foi na Galeria Alvarez, do recentemente falecido galerista Jaime Isidoro, que realizei as minhas primeiras exposições. Depois, na Cooperativa Árvore, espaço cultural de relevante importância para os artistas, dinamizada pelo escultor José Rodrigues. Mas os tempos são outros e eu também não pertenço ao grupo dos saudosistas.
O mundo é dinâmico, a vida avança e o futuro é transformação. Sou optimista por natureza e acredito no FUTURO do Porto. A cidade está bonita, mais arranjada. Respira-se uma atmosfera Europeia. No entanto, existe um forte obscurantismo. Lisboa revela fragilidades na área da recuperação, mas as pessoas que frequentam a cidade exibem um comportamento urbano e aspecto mais agradável. Relacionam-se com disponibilidade citadina, sabem apreciar os momentos do fim da tarde nas esplanadas. Há o espírito do lazer. No Porto as pessoas exprimem-se de forma agressiva, boçal. São desconfiadas. Sinto mais a diferença de classes no Porto. Mesmo nas zonas favorecidas, como a Foz, existe mendicidade. É como se o Porto do Camilo, da Agustina, do Eugénio, continuasse no século passado. Uma cidade medieval e romântica, com torres, mansardas, clarabóias, mirantes, a reflectir a sua luz multifacetada e projectada nas pesadas massas graníticas. Uma cidade de ruas estreitas e soturnas, povoada de jardins provincianos. Uma cidade enleada na prosa do Camilo. A tragédia, a sombra. Torturada por emoções enlameadas.
A BELEZA do Porto é um postal de “Recuerdo”. O Porto na sua neblina junto ao Douro e ao casario, nas aguarelas icónicas do pintor António Cruz. Essa luz única do entardecer que atinge os habitantes. E, claro, as gaivotas que sobrevoam a cidade, desesperadamente famintas. Talvez por isso o Porto seja um lugar de pintores e poetas. Afinal, a minha pintura é intimista e melancólica. Uma paleta de cores secundárias, tons quentes, por vezes trágicos, que atingem a representação das figuras na sua duplicidade, de verso e reverso.
(…)
« Descia a neblina
sobre os prédios, gaivotas
vinham da Foz. Um mendigo de barbas
atravessou a rua, despreocupadamente. »

Do poema DESCIA A NEBLINA de Isabel de Sá
Colectânea de Poesia sobre o Porto, publicações Dom Quixote, 2001

Graça Martins
Fevereiro de 2010

Poema de Isabel de Sá

SERÁ NO PRÓXIMO SÉCULO?

O nosso amor arrasou cidades. Éramos
muito jovens e pensávamos assim.
O mundo pertencia-nos. Ninguém
percebia mas nós vivíamos contra
tudo - era um acto político.

Assim alguns seres no mundo
construíram vidas, amaram
e sofreram isolados, por vezes
espoliados, queimados na fogueira.

Mas o nosso amor resistirá
às fronteiras, aos muros de fogo
e à injustiça. Gostaríamos de viver
o tempo da verdadeira transformação,
da felicidade universal.



14 de Março de 1996

Repetir o Poema, Quasi, 2005, Décimo Terceiro Livro, Erosão de Sentimentos - 1994-1996