quinta-feira, 1 de abril de 2010

Poema de Eugénio de Andrade

SERENATA



Venho ao teu encontro a procurar

bondade, um céu de camponeses,

altas árvores onde o sol e a chuva

adormecem na mesma folha.



Não posso amar-te mais,

luz madura, espaço aberto.

Não posso dar-te mais do que te dou:

sangue, insónias, telegramas, dedos.



Aqui estou, fronte pura, rodeado

de sombras, de soluços, de perguntas.

Aceita esta ternura surda,

este jasmim aprisionado.



No meus lábios, melhor: no fogo,

talvez no pão, talvez na água,

para lá dos suplícios e do medo,

tu continuas: matinalmente.



A Palavras Interditas/Até Amanhã, Limiar, 1978, Porto

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