sexta-feira, 2 de abril de 2010

SEMPRE RADICAL NUNCA COERENTE (Expresso, António Guerreiro)

DESCONCERTANTE, INTEMPESTIVO, IMPLACÁVEL: EIS O NOVO LIVRO DE UM POETA QUE QUER COM ELE, REVOGAR TUDO O QUE ESCREVEU ANTES.
CONSUMA-SE neste livro a mais radical operação poética - e a mais cheia de consequências - da literatura portuguesa das últimas décadas. Falamos de "operação poética"para designar um gesto violento contra a obra do próprio autor, contra a ideia cumulativa de obra e contra a poesia que lhe é contemporânea. A operação comporta uma dimensão afirmativa (à qual não se acede se nos deixarmos obnubilar ou fascinar pelo "escândalo", algo inevitável num primeiro momento), mas actualiza um princípio enunciado por Mandelstam: "Na poesia, é sempre de guerra que se trata."(...) O leitor em busca de belos poemas acha que tudo isto é estranho, áspero e o mais afastado possível de qualquer harmonia? Pois acha, e com toda a razão. Porque estes poemas são extenuantes, e o seu idioma constitui-se contra as linguagens do poético. Eles desfazem-se do belo como quem esconjura uma ameaça. E sem concessões quebram ferozmente a prosódia ( triunfa uma aprosódia) e tomam o partido do ritmo: o sentido do poema é o seu ritmo staccato e não legato. As palavras são isoladas, autonomizadas, de modo a desarticular a estrutura métrica do poema, fazendo-a explodir em estilhaços até à paralesia não apenas prosódica mas também semântica. As grandes figuras de invocação da poesia de Joaquim Manuel Magalhães - o sentido, a lógica discursiva, o conteúdo pragmático do poema - são soberanamente liquidadas, sem complacências e com um esmero genial. (...)
Mas, se queremos sobreviver, não nos podemos instalar definitivamente e de maneira exclusiva por baixo de "Um Toldo Vermelho":a poesia anterior de Joaquim Manuel Magalhães continua disponível e serve-nos de vingança. É a guerra.
António Guerreiro, Actual, Expresso, 2 de Abril de 2010

1 comentário:

Supermassive Black-Hole disse...

um chorrilho de asneiras. compreensivelmente. se fosse outro qualquer, nem se falava do livro ou dizia-se que era mau. como é o joaquim dão voltas e mais voltas até que a merda pareça dourada.