segunda-feira, 29 de novembro de 2010




DE TÃO PERTO

Chega a doer olhar-te de tão perto
primeiro só tocar o infinito
da distância - depois em toda a parte
estar por dentro dela em ti - aí

onde a dor de te olhar se fará dia
ou o tempo agora ama e deita carne
de regresso ao imenso sol vazio
que em tudo o que acontece permanece

mortal nascente branca - e água e pura
transparência da ausência mais extrema
por onde morre e nasce enquanto pulsa
em cada veia todo o universo

Chega a doer olhar-te de tão perto
ousar a eternidade a tempo aberto


Miguel Serras Pereira


TODO O ANO, Limiar, 1990