sábado, 10 de dezembro de 2011

O AMIGO QUE DORME


Que vamos dizer esta noite ao amigo que dorme?
Sobem-nos aos lábios palavras frágeis
de um atroz sofrimento. Vamos olhar para ele,
para os seus lábios inúteis que permanecem silenciosos,
e falar baixinho.


A noite terá o rosto
da antiga dor que todas as tardes renasce
impassível e viva. O silêncio longínquo
sofrerá como uma alma, mudo, no escuro.
Vamos dirigir-nos à noite que respira baixinho.


Ouviremos os instantes a ressumar no escuro
para lá das coisas, na espera ansiosa da manhã,
que aparecerá de repente a imprimir as coisas
no silêncio morto. A luz inútil
descobrirá o rosto estático do dia. Os instantes
calar-se-ão. E as coisas falarão baixinho.


20 de Outubro de 1937

Cesare Pavese

O VÍCIO ABSURDO, &etc, 1990

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