terça-feira, 19 de abril de 2011

BROKEN HEARTS BLOODY HEARTS







EMILIANA TORRINI - TO BE FREE

MARIA ZAMBRANO- A METÁFORA DO CORAÇÃO





O amor transcende sempre, é o agente de toda a transcendência. Abre o futuro; não o porvir, que é o amanhã que se pressupõe certo, repetição com variações do hoje e réplica do ontem. O futuro essa abertura sem limite, para outra vida que nos aparece como a vida de verdade. O futuro que atrai também a história.

Mas o amor lança-nos para o futuro, obrigando-nos a transcender tudo o que concede. A sua promessa indecifrável desacredita tudo o que se consegue, toda a realização. O amor é o agente de destruição mais poderoso, porque, ao descobrir a inanidade do seu objecto, deixa livre um vazio, um nada que é aterrador no princípio de ser apercebido. É o abismo em que se some não somente o amado, mas a própria vida, a própria realidade do que ama. É o amor que descobre a realidade e a inanidade das coisas, e que descobre o não-ser e até o nada. (...)

A consciência aumenta após um desengano de amor, como a própria alma se dilatara com o seu engano.(...)

Pois o amor que integra a pessoa, agente da sua unidade, condu-la à sua entrega; exige fazer do próprio ser uma oferenda, isso que é tão difícil de dizer hoje: um sacrifício. E este abatimento que há no próprio centro do sacrifício antecipa a morte. O que verdadeiramente ama, aprende a morrer. É uma verdadeira aprendizagem para a morte.




Assírio & Alvim, 1993, Lisboa