quinta-feira, 21 de julho de 2011

Para esta manhã um Soneto de Shakespeare, traduzido por Vasco Graça Moura


CXXI


Bem melhor é ser vil do que por vil havido
quando a quem o não é o sê-lo se censura,
e vemos, como vil, justo prazer perdido
só porque o olhar dos mais - não nós - o desfigura.
Porque há-de agora o falso e turvo olhar alheio
cuidar da salvação deste meu sangue ardente?
E espiar-me as fraquezas quem delas é mais cheio
e teima em dizer mau o que eu julgo excelente?
Pois eu sou o que sou; e eles que denunciam
meus erros, vêem os seus e nisso são exactos.
Sou recto e eles oblíquos; ser nunca poderiam
seus baixos pensamentos medida dos meus actos,
a menos que mantenham esta geral maldade
e os homens todos nela governem a vontade.


50 Sonetos de Shakespeare, Editorial Inova, Porto, 1978