terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Juan Luis Panero

Um belo poema de Juan Luis Panero (e que nos fala das naturezas mortas de Zurbarán). Tradução de Joaquim Manuel Magalhães.


FUMO AO ENTARDECER

Depois de ter cheirado o perfume agridoce da morte,
depois de tantos corpos e paixões e sonhos,
olho agora, sobre a mesa, um copo vazio,
uns livros, papeis em desordem, velhas fotografias,
a luz do entardecer, apagando-se na janela.
Como numa natureza de Zurbarán
- a natureza morta, a natureza eterna -,
deixo-me viver já sem perguntas,
enquanto o fumo do cigarro desenha
todos os meus rostos: o que fui, o que sou,
o que serei, no frágil e caprichoso tempo.


Relógio D'Água, Lisboa, 2003

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