quinta-feira, 19 de abril de 2012

Poema de Mário de Sá-Carneiro

O FANTASMA




O que farei na vida - o Emigrado
Astral após que fantasiada guerra
Quando este Oiro por fim cair por terra,
Que ainda é Oiro, embora esverdinhado?


(De que revolta ou que país fadado?)
Pobre lisonja a gaze que me encerra...
Imaginária e pertinaz, desferra
Que fôrça mágica o meu pasmo aguado?


A escada é suspeita e é perigosa:
Alastra-se uma nódoa duvidosa
Pela alcatifa, os corrimões partidos...


Taparam com rodilhas o meu norte,
As formigas cobriram minha sorte,
Morreram-me meninos nos sentidos...


Paris - 21 Janeiro 1916.

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