terça-feira, 24 de setembro de 2013

E AGORA? LEMBRA-ME - Um filme de Joaquim Pinto

A propósito do filme E AGORA? LEMBRA-ME de Joaquim Pinto


“ Uma obra de Arte é boa quando nasce de uma necessidade”
Rainer Maria Rilke

 

A  Eduarda (escritora Eduarda Chiote) tinha-me avisado: Gracinha, tu vais chorar muitas vezes ao ver o filme do Quim Zé! Eu chorei, é verdade, mas talvez por razões diferentes das que a Eduarda imaginaria! Eu chorei como choro ao ouvir a Sonata a Kreutzer de Beethoven ou Tristão e Isolda de Wagner. Eu choro perante a evidência da BELEZA, eu choro com o excesso dessa beleza. E o filme do Joaquim Pinto é a BELEZA TOTAL. É um filme filosófico que me transporta para as palavras da filósofa Maria Zambrano nos seus livros “A Metáfora do Coração” ou “Clareiras do Bosque”. E porquê? Porque o filme de Joaquim Pinto ao focar uma libélula, um caracol ou lesma, os pássaros agitados, um pássaro morto, vermes, coelhos mortos, moscas, mosquitos, abelhas, todos na sua sobrevivência, no seu tempo de vida, REVELA-NOS  o renascer constante da natureza e a sua morte, o tempo, a destruição: Está a falar da VIDA! Da vida de todos nós, do planeta, das pessoas, da nossa condição precária, da nossa frágil imunidade. Mas não só, mais importante que tudo o que se revela neste filme tão poético e com imagens belíssimas é a consciência do AMOR! E só quem experienciou o amor, o pode reconhecer.  O amor atravessa este filme do princípio ao fim. E essa felicidade,  é a maior dádiva.  Como diz Joaquim Pinto são tralhas a mais, muita tralha que não vale a pena. A vida é imprevisível, é a realidade! Qualquer um de nós pode morrer amanhã, atropelado, na queda de um avião, num atentado, esfaqueado num assalto, um ataque cardíaco, um tiro numa cena de ciúmes, um acidente de automóvel, um simples mergulho no mar ou numa piscina, infectado com um vírus, uma picada de mosquito, tanta coisa, mas também já dizia Maria Gabriela Llansol: “Aquele que não amou vai prestar contas aos Deuses”.
A troca de amor, o afecto protector que nos aparece no filme de Joaquim Pinto, não como uma ficção mas como uma vivência real  é a MAIOR beleza deste filme, assim como o instinto de sobrevivência. Tratamentos de choque e a resistência para continuar porque o outro, aquele que está ao nosso lado, continua ali, atentamente, à nossa espera, ao nosso acordar. E se quisermos procurar essa história das mensagens, então a mensagem que me foi revelada é a de que andamos a perder tempo. A VIDA existe em toda a sua plenitude à nossa volta, seja na natureza e nos seus ciclos de vida, seja na beleza encontrada na pessoa que amamos, independentemente do seu género. Parabéns Joaquim Pinto (queridos  Quim Zé e Nuno). A tua poética já revelada nos belíssimos filmes “Onde bate o Sol” e “Uma pedra no bolso” é o fio condutor de todo um programa que aqui atinge o ponto máximo, com as suas imagens autobiográficas, políticas e sempre ligadas à natureza e à vida real. PARABÉNS!
 

Graça Martins