SE VOLTASSEMOS A DANÇAR

Se a cabeça se lançasse
estilhaçada pelo espaço
sujando o céu.

Se ao sair de casa
aos tropeções pelas escadas,
não reparasse nas ruas
encardidas de todas
as formas de morrer.

Se eu tivesse o corpo
seco de ti.

Se voltássemos a dançar
na lenta vertigem do amor,
eu seria então a árvore
repleta de folhagem.
EDITORS/YOU DON'T KNOW LOVE

Palavras ardem
entre mim e o papel.
Perguntam por que já não
fazes parte.

A cidade inteira abriu ruas
para me indicar um caminho.
Passeios encardidos de chiclets,
prédios em construção,
espaços escuros
onde cabem delírios
que a tua voz não desmente.

Estas palavras ardem
proliferam nas areias do deserto.
E eu sou
o caminhante, exilado
entregue às sombras
de um corpo só.