
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Novíssima Poesia Norte-Americana
ALLEN GINSBERG
AMÉRICA
América dei-te tudo e agora não sou nada
América dois dólares e vinte e sete cêntimos em 17 de Janeiro de 1956
Não aguento a minha própria mente.
América quando poremos fim à guerra entre os homens?
Vai-te lixar com a tua bomba atómica.
Não me sinto nada satisfeito não me chateies.
Não vou escrever o meu poema enquanto não estiver perfeitamente equilibrado.
(...)
América porque estão as tuas bibliotecas cheias de lágrimas?
América quando é que enviarás os teus ovos para a Índia?
Estou farto das tuas exigências loucas.
Quando poderei eu entrar no supermercado e comprar tudo
o que preciso com a minha beleza?
(...)
Continuarei como Henry Ford as minhas poesias são tão
pessoais como os seus automóveis mais ainda pois
são de sexos diferentes.
América vou vender-te poemas a 2 500 dólares, 500 dólares
de sinal para a tua epopeia.
ALLEN GINSBERG
AMÉRICA
América dei-te tudo e agora não sou nada
América dois dólares e vinte e sete cêntimos em 17 de Janeiro de 1956
Não aguento a minha própria mente.
América quando poremos fim à guerra entre os homens?
Vai-te lixar com a tua bomba atómica.
Não me sinto nada satisfeito não me chateies.
Não vou escrever o meu poema enquanto não estiver perfeitamente equilibrado.
(...)
América porque estão as tuas bibliotecas cheias de lágrimas?
América quando é que enviarás os teus ovos para a Índia?
Estou farto das tuas exigências loucas.
Quando poderei eu entrar no supermercado e comprar tudo
o que preciso com a minha beleza?
(...)
Continuarei como Henry Ford as minhas poesias são tão
pessoais como os seus automóveis mais ainda pois
são de sexos diferentes.
América vou vender-te poemas a 2 500 dólares, 500 dólares
de sinal para a tua epopeia.
POEMA DE MÁRIO CESARINY
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
TODOS OS DIAS SÃO NORMAIS
A manhã serve para arrumar a noite anterior. Dar-lhe um pontapé para um canto do quarto, deixá-la esquecida até mais ver. Há que correr entre o tomar banho, o vestir, o tomar o pequeno-almoço de pé, a olhar para fora da janela a ver sabe-se lá o quê, são coisas de que ninguém se lembra. Vestir o casaco, arrumar o que se quer levar, sair e fechar a porta à chave. A rua é sempre cinzenta, não interessa em que parte do dia se está. Percorro-a a andar depressa, como se estivesse atrasado para o comboio, e estou atrasado, mas não é para o comboio. Por vezes tenho muita pena de não sair de casa com tempo suficiente para percorrer as ruas devagarinho, reparar nos prédios antigos com azulejos que já não se usam, reparar nas clarabóias, reparar nas portas altíssimas de madeira envernizada sucessivas vezes, grades pintadas e vidros atrás, ainda que raramente se veja uma pessoa em vez do vidro, a olhar cá para fora, como se tivesse saudades da vida. Os carros fazem música quando aceleram, com mais pressa do que eu. Levantam poeiras várias, e deixam fumo cinzento evanescente atrás de si, como que a prolongar a sua presença. Quando o semáforo lhes mostra a luz vermelha rosnam furiosamente para quem atravessa a passadeira, como eu. Quando tenho que esperar no passeio, os olhos ficam-me presos na sombra dos carros e na sombra das pessoas, como se não me interessasse saber quem é, apenas me interessasse o movimento.Estar no trabalho é um aborrecimento, é querer não estar no trabalho, é querer sair e atravessar de volta a estrada, voltar para casa, talvez para dormir de novo, talvez levantar do canto do quarto a noite anterior. A hora de almoço é igualmente frustrante, ainda que seja tempo dito livre, serve essencialmente para voltar para de onde se veio. Sair do trabalho, sim, é uma libertação. As ruas estão ainda mais cinzentas. Quando faz frio, por norma o ar é negro, e as fachadas são iluminadas pela luz dos candeeiros, cor-de-laranja ou branca. Sempre gostei dessas luzes, parecem ser um rasgão na realidade, um furo piedoso na escuridão.Quando chego a casa, encontro-a dentro de um silêncio confortável, e de uma escuridão reconfortante. Acendo as luzes só para não tropeçar nas mesas, nas estantes, nos livros pousados pelo chão por falta de espaço. Por norma ouço música, ou fico a ler um pouco, ou as duas coisas. Comer não é importante, é sobrevivência. Faz-se para não se ter fome, para não se morrer. Depois do jantar, no tempo que resta até se ir dormir de novo, é provavelmente a melhor altura para, se houver razões para isso, ir buscar ao canto do quarto a noite anterior, ou, quem sabe, o dia de hoje. Em boa verdade, a única altura de mim para mim é antes de me deitar, quando estou à vontade para, se quiser, não fazer nada. Nada que não seja sentar-me ou deitar-me, e ficar a olhar para o tecto, quase a esquecer-me que tenho vida. Um pouco antes de me enrolar nos lençóis, e caminhar para uma noite da qual não me lembrarei, ou para mais uma insónia que me custe o dia seguinte, onde tudo se repete da mesma maneira, pois todos os dias são normais.
João Borges
Porto, 12 de Maio de 2008
terça-feira, 26 de agosto de 2008
POEMA DE ISABEL DE SÁ
ELOGIO AO AMOR
Encontram-se num bar,
uma era escritora e a outra
master em literatura inglesa.
Ambas nascidas no princípio do século,
viriam juntas a celebrar a vida.
Ainda eu não tinha nascido
e elas fixavam residência
na ilha dos Montes Desertos
para o esplendor e a decadência.
Marguerite preocupada
com o enigmático percurso da vida:
papeis em ordem, placa fúnebre.
Grace
fustigando a morte,
coração queimado pela doença
intrusa.
A privação das viagens foi tormentosa,
a glória e a desolação
foram um só corpo.
É preciso esquecer
que a vida mata e o espelho
reflecte aquilo que somos.
Ficaram as cinzas
no cemitério da Ilha.
DeeDee, a incansável, o ser de excepção.
ELOGIO AO AMOR
Encontram-se num bar,
uma era escritora e a outra
master em literatura inglesa.
Ambas nascidas no princípio do século,
viriam juntas a celebrar a vida.
Ainda eu não tinha nascido
e elas fixavam residência
na ilha dos Montes Desertos
para o esplendor e a decadência.
Marguerite preocupada
com o enigmático percurso da vida:
papeis em ordem, placa fúnebre.
Grace
fustigando a morte,
coração queimado pela doença
intrusa.
A privação das viagens foi tormentosa,
a glória e a desolação
foram um só corpo.
É preciso esquecer
que a vida mata e o espelho
reflecte aquilo que somos.
Ficaram as cinzas
no cemitério da Ilha.
DeeDee, a incansável, o ser de excepção.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Poema de MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO
CARANGUEJOLA
Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada!...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fôres.
Lã vermelha, leito fôfo. Tudo bem calafetado...
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira...
Façam apenas com que tenha sempre a meu lado
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.
Não, não estou para mais; não quero mesmo brinquedos.
Pra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...
Que querem fazer de mim com estes enleios e mêdos?
Não fui feito para festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar!...
Noite sempre plo meu quarto. As cortinas corridas,
E eu aninhado a dormir, bem quentinho - que amor!...
Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor -
Plo menos era o sossêgo completo...História! era a melhor das vidas...
Se me doem os pés e não sei andar direito,
Pra que hei de teimar em ir para as salas, de Lord?
Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde
Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito...
De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso esperar, com a minha delicadeza?...
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom édredon, bom fogo -
Enão penses no resto. é já bastante, com franqueza...
Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará.
Pra que hei de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. Co'a breca! levem-me prá enfermaria!-
Isto é , pra um quarto particular que o meu Pai pagará.
Justo. Um quarto de hospital, higiénico, todo branco, moderno e tranquilo;
Em Paris, é preferível, por causa da legenda...
De aqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda;
E depois estar maluquinho em Paris fica bem, tem certo estilo...
Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras...
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.
Paris - Novembro 1915.
CARANGUEJOLA
Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada!...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fôres.
Lã vermelha, leito fôfo. Tudo bem calafetado...
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira...
Façam apenas com que tenha sempre a meu lado
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.
Não, não estou para mais; não quero mesmo brinquedos.
Pra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...
Que querem fazer de mim com estes enleios e mêdos?
Não fui feito para festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar!...
Noite sempre plo meu quarto. As cortinas corridas,
E eu aninhado a dormir, bem quentinho - que amor!...
Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor -
Plo menos era o sossêgo completo...História! era a melhor das vidas...
Se me doem os pés e não sei andar direito,
Pra que hei de teimar em ir para as salas, de Lord?
Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde
Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito...
De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso esperar, com a minha delicadeza?...
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom édredon, bom fogo -
Enão penses no resto. é já bastante, com franqueza...
Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará.
Pra que hei de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. Co'a breca! levem-me prá enfermaria!-
Isto é , pra um quarto particular que o meu Pai pagará.
Justo. Um quarto de hospital, higiénico, todo branco, moderno e tranquilo;
Em Paris, é preferível, por causa da legenda...
De aqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda;
E depois estar maluquinho em Paris fica bem, tem certo estilo...
Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras...
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.
Paris - Novembro 1915.
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
SARAH LUCAS
Instalações de Sarah Lucas e foto da artista no seu retrato - instalação.
As caricaturas e as tragicomédias apresentadas por Sarah Lucas convencem através da sua linguagem insistente, precisa e segura.Uma das artistas contemporâneas que, a par de Cindy Sherman e Louise Bourgeois, revela o seu mergulho no universo feminino, desconstruindo os arquétipos e conceitos.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
O FUTURO DO AMOR
Quando a Alma Entra
Daphne Rose Kingma, psicoterapeuta e especialista em relações amorosas
Quando a Alma Entra
À medida que nos dirigimos para as relações com alma, surgem inúmeras questões prementes. Se a alma estiver no comando, quais serão os atributos que definem uma relação? Como saberemos se a relação é "boa", reconfortante, correcta ou valiosa nas nossas vidas correntes?Como saberemos se determinada relação serve verdadeiramente o percurso da alma ou o desenvolvimento da nossa personalidade, que não é apenas um desvio que faríamos melhor em evitar? (...)O amor é o trabalho da alma, mas para que assim seja, temos de fazer primeiro o trabalho da personalidade, que requer auto-consciência. A auto-consciência é conhecer-se sensata, verdadeira e profundamente, e agir segundo esse conhecimento. As novas relações apelam a que deixemos os padrões passivos do passado para nos tornarmos nitidamente conscientes. Significa isto que em vez de tropeçarmos nas verdadeiras questões ou no verdadeiro significado das nossas relações depois de terminadas, somos convidados a estar conscientes delas no desenrolar de cada relação. Isto também nos encoraja a assumir a reponsabilidade pela vida sendo mais conscientes na escolha das relações. Em vez de nos limitarmos a apresentarmo-nos casualmente a quem quer que apareça para qualquer relação que surja sem se saber como nem donde, temos de nos consciencializar de que cada momento das nossas vidas é precioso e que cada transformação que partilhamos com outra pessoa é um sopro irrepetível de vida. (...)
VIVACIDADE
A vivacidade é energia. É o sumo, a vitalidade e a paixão que desperta as células todas as manhãs. É o que faz com que nos apeteça dançar. É a energia que conduz uma relação do statos quo para algo mais grandioso e muito mais expansivo, algo que faz os corações baterem mais depressa, as mentes e os olhos abrirem-se mais do que nunca. Tudo tem interesse para uma pessoa verdadeiramente viva, quer seja um desafio, um momento de amor, um instante de tristeza ou um relance de beleza. Enquanto vivemos, é a nossa vivacidade que cria desenvolvimento, mudança, alegria e possibilidade. A vivacidade é a própria vida. Portanto, se a relação que mantém no momento ou que planeia para o futuro não tem vivacidade - de modo a fazer com que se sinta animado, indómito, extremamente sereno, belo, pensativo, apaixonado, aberto, ousado, sensual e sensível - então talvez deva continuar a procurar. Para ser digna da sua alma, uma relação deve proporcionar-lhe a sensação de que tanto voçê como ela estão vivos - e continuam a renascer continuamente. A vivacidade numa relação é a sensação de que algo está a acontecer, de que há uma evolução em curso, de que juntos chegarão a algum lado. Quando uma relação tem vivacidade, tudo nela vos aproximará um do outro, permitirá que se conheçam melhor, que se sintam mais ligados com o passar do tempo.
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Mulheres & Gravatas
Durante muito tempo, as mulheres só usaram gravata - a graciosa lavallière - por simples coqueteria. No século XIX, quando se exprimiram as primeiras ideias feministas, a gravata - mas desta vez à maneira dos homens - tornou-se para as mulheres um dos meios de afirmar a sua emancipação. Georg Sand e Flora Tristan, que se vestiam à homem e portanto usavam gravata, foram das primeiras a desafiar as convenções. (...) A evolução visível , do estatuto da mulher esteve na origem, antes da I Guerra Mundial e durante os «anos loucos», de uma masculinização acentuada do vestuário feminino. No extremo dessa tendência, nada ou quase nada distinguia, em matéria de aparência, a garçonnette do homem; usava cabelo curto, casaco, calças, camisa e gravata. Mas essa moda de pura imitação só foi seguida por um pequeno número de citadinas, levadas pelo perfume de escândalo que emanava de algumas criaturas fascinantes que mais ou menos abertamente exibiam a sua homossexualidade, como Rachilde, Nathalie Barney ou Colette.
O uso de gravata pelas mulheres mudara, pois, radicalmente de natureza: a gravata, a princípio simples ornamento de renda e colorido para seduzir os homens, tinha-se tornado pouco a pouco a maneira de elas afirmarem a sua igualdade. (...).
François Chaille, escritor
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