sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Escuridão Sem Fim Pintura de ISABEL DE SÁ


Palavras para quê ? Pintura de ISABEL DE SÁ


Palavras para quê ?


Viagem Ao Fim da Noite de Louis-Ferdinand Céline

Viagem Ao Fim Da Noite é uma obra prima inovadora que nada perdeu nem na sua vitalidade surpreendente nem na capacidade de chocar. Aproximativamente autobiográfica, a narrativa na primeira pessoa segue as experiências do jovem narrador, Bardamu, primeiro um voluntário de 21 anos do exército francês no início da I Guerra Mundial, depois um médico competente na década de 30. Ao longo deste período, ele sofre um colapso nervoso, viaja para a África Central e os Estados Unidos, e regressa à França a fim de concluir a faculdade de Medicina. O romance é caracterizado por uma proza impertinente, vibrante e enérgica, imbuída de um humor sardónico e de um cinismo mordaz. Geralmente escrito num estilo lírico e eloquente, a narrativa fervilha de gírias, obscenidades e coloquialismos. Bardamu revela uma perspectiva intransigentemente crua da humanidade - "a espécie humana consiste de duas raças diferentes: os ricos e os pobres", afirma- e embora esteja sobretudo preocupado com os segundos, despreza a ambos. Na vida, tudo o que podemos esperar é o sofrimento, velhice e morte. Desse panorama sombrio, porém, Céline extrai um espantoso humor, que nunca cessa de entreter.

A influência deste romance original , anárquico e cáustico foi inestimável. - William Burrough é apenas um de entre os seus muitos admiradores. Na visão ácida de Céline sobre os desamparados vislumbramos um óbvio precursor dos anti-heróis pessimistas de Beckett. Em suma, eis um livro crucial para a compreensão do desenvolvimento do romance.

Anthony Leaker, estuda Literatura Americana e Europeia. Ensinou na Universidade de Paris

Quando não se tem imaginação, morrer é uma coisa de nada, quando se tem, morrer é demasiado

CÉLINE

Auto-retrato de MAPPLETHORPE


quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Duas fotos de JOÃO BORGES



Poema de MANUEL DE FREITAS

ODE À NOITE ( INTEIRA)

Gosto do momento, exacto ou nem isso,
em que se torna possível colar cartazes
nas paredes ao lado dos meus ombros (espero
o autocarro, vejo devagar, sorrio). Mas
gosto, sobretudo, dos cães quase sem dono
que roçam as esquinas, pisando restos de garrafas
-ou das pessoas que desconheço
e das bebidas todas que ignoro
(porque me matam menos e se chamam
-como eu - insónia, pesadelo, golpe baixo).

Existem, claro, raparigas louras um tanto
heterodoxas que não te apetece beijar
(a forca do bâton, perfeita - o cigarro aceso
pedindo outro lume). Essas mesmas que hão-de
um dia procriar com zelo, evitando rugas,
tumores e o mundo como representação misógena.
Mais lírica, sem dúvida, é a lavagem das ruas,
com a cerveja a premiar a farda
demasiado verde e os bigodes de serviço.

Outros, alguns, tornam concreto o torpor
de um charro e pedem-te em crioulo básico
um cigarro português que tu vais dar,
sem esforço nem palavras. Entre shots, piercings,
t-shirts de Guevara e gel, podes não acreditar
por algumas horas no axioma frágil do teu corpo.
Esfumas-te, como eles, no espelho de um bar
qualquer, país de enganos e baratas. E
quase gostas disso, quase: a música de punhais,
servil, um certo e procurado desencontro.
Um táxi te ensinará depois o caminho de casa
- ou o seu contrário, pois só ali (anónimo
e desfocado) eras finalmente tu, ou podias ser.

O resto, a vida, fica para outra vez.


quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O MEU ARQUITECTO PREFERIDO

FRANK GERHY


Sala de Concertos WALT DISNEY HALL -Los Angeles


MUSEU GUGGENHEIM DE BILBAO de FRANK GERHY

e a célebre "ARANHA" de LOUISE BOURGEOIS





ADEGA HOTEL de FRANK GERHY





Golden fish e o futurismo de frank Gerhy





O MEU ARQUITECTO PREFERIDO

FRANK GERHY

Arquitecto americano de origem canadiana. Nasceu em 28 de Fevereiro de 1929 em Toronto. Tem 78 anos. Gehry e é um dos principais representantes do desconstrutivismo, movimento arquitectónico surgido nos anos 70, que se caracteriza pela recusa dos princípios construtivos. Gehry combina de forma surpreendente os diferentes elementos da construção, diluindo as fronteiras entre os espaços interiores. Trabalha com frequência com materiais menos nobres, caso da chapa ondulada utilizada na construção de sua própria casa, em Santa Mônica (1975), que faz com que pareça ter sido transplantada de um bairro pobre da periferia das grandes cidades. O Museu do Desenho, em Weil Am Rhein (Alemanha, 1989), desenhado por Gehry, é uma construção de cubos montados entre si, como num tabuleiro de xadrez, que parecem desafiar as leis da gravidade. O California Aerospace Museum Los Angeles (1981-1984), de Gehry, é mundialmente conhecido. O Museu Guggenheim, feito em titânio,inaugurado em Bilbao em 1977, é considerado, por sua composição vanguardista, uma das obras arquitetónicas mais importantes deste séculoAs suas obras são facilmente reconhecidas, pois ele é arrojado, usa o metal e formas sinuosas. Estudou e formou-se em Harvard nos EUA. Foi o vencedor do Prêmio Pritzker, o Oscar da Arquitectura em 1989. Entre as suas obras famosas estão: o Disney Concert Hall em Los Angeles; a Casa Dançante, em Praga; a loja de Issey Miyake em NY; o Pavilhão Pritzker no Millennium Park em Chicago; a cafeteria do prédio Condé Nast em NY; e a sua própria casa, em Santa Mônica.Para o futuro, estão em projeto: a Foundation for Creation da Louis Vuitton em Paris; o Museu de Tolerância em Jerusalém; a Beekman Tower em NY; Museu da Biodiversidade no Panamá; Guggenhein Abu Dhabi (em parceria com Zaha Hadid); Museu de Arte de Filafélfia.
FRANK GERHY






terça-feira, 2 de setembro de 2008

A propósito de LILAC WINE na versão de JEFF BUCKLEY
que tanto apreciei e na voz de NINA SIMONE
Os Dom Rodrigos são para o Paulo e para o Jorge Fallorca
www.frenesi-livros.blogspot.com


DOIS POEMAS DE PAULO DA COSTA DOMINGOS

»Sometimes while a person is talking I step out my
shoes and, like a plant drifting with the current,
I begin the voyage of my rootless self.»
Henry Miller

Os meus sapatos ficaram junto à retrete nas traseiras
Se te mexeres dessa cama imunda podes encontrá-los lá
Vomitei-te o chão todo da marquise e olhava encandeado a flor no vaso sobre o parapeito
Sabias que eu lia nessa altura Henry Miller mas não me ajudaste a «dar o salto»
E agarravas-me à tua cumplicidade doméstica
E eu vomitei-te o chão da tua cozinha
Afinal os meus sapatos mal-cheirosos talvez estejam na dispensa, quando roubava rodelas de chouriço
E tu batias-me
E agora já ninguém tem mão em mim
Porque eu leio Henry Miller e oiço Bob Dylan dos primeiros tempos
A tua filha bebe Coca Cola estupidamente
Os Amantes correm o país de automóvel de parque de diversões, de Feira Popular
E a mim só tenho este papel apanhado nas escadas do metro e já me resta pouco tempo
Como queres que eu me saiba sentar à mesa?

10-9-977

Paulo da Costa Domingos, TRAVESTI, & etc, Lisboa
Eu sou a cabra que tu vês à esquina logo de manhã quando caminhas com o cabaz das compras e a criada atrás
Fui eu quem assaltou hoje a mercearia do sr. José, coitado, mesmo à tua porta, e que causou um alvoroço enorme
Eu arrastei a tua catraia tão sossegadinha à força para dentro duma escada e, acredita, nunca pensei que uma miúda já soubesse tanto
E passo acima-abaixo na tua rua rente à janela do teu lar à procura dum homem, tu és dos que chamam palavrões a este cio homoxessual e escondes a cara nas cortinas
Eu sou dos que perde os dias no café sem fazer nada, essa canalha
Deito-me com mulheres de qualquer idade e até faço amor com a tua filha
Tenho vícios astrais, a minha boca conhece a do anjo de Filadélfia
Visto-me de mulher, visto-me de homem, quando calha até me visto de coisa sonsa e hipócrita
Durante a noite ando aos caixotes, mergulho o nariz na náusea dos edifícios
E partilho das gamelas dos freaks desta cidade
Não me chateies mais com os teus problemas transcendentes
18-10-977
Paulo da Costa Domingos, TRAVESTI, & etc
Pintura de EGON SCHIELE
e interpretação de JULIANNE MOORE






segunda-feira, 1 de setembro de 2008


Escultura de GEORGE SEGAL


LOUISE BOURGEOIS fotografada por MAPPLETHORPE


Poema de LUÍS MIGUEL NAVA

NÃO MUITA VEZ

Não muita vez nos vemos, mas, se poucos
amigos há para falar
dos quais me sirvo de relâmpagos, de todos
é ele o que melhor vai com a minha fome.

Os dedos com que me tocou
persistem sob a pele, onde a memória os move.
Tacteiam, impolutos. Tantas vezes
o suor os traz consigo da memória, que não tenho
na pele poro através
do qual eles não procurem
sair quando transpiro. A pele é o espelho da memória

Instalação em Chicago de MAGDALENA ABAKANOWICS












A grande carreira internacional de Magdalena Abakanowicz, polaca, que atualmente se dedica à escultura, (formação em tapeçaria) foi iniciada nas exposições da Bienal de Tapeçaria de Lausanne e da VIII Bienal de Arte em São Paulo (1965) onde lhe foi atribuída a medalha de ouro.


OS HOMENS PALHA de MAGDALENA ABAKANOWICS





domingo, 31 de agosto de 2008

Rita Hayworth atingiu o sucesso pleno na década de 1940, tornando-se símbolo sexual daquela era.
Após dançar com Fred Astaire em Bonita como nunca e Ao compasso do amor, e depois com Gene Kelly em Modelos, Rita Hayworth foi considerada uma das maiores dançarinas de Hollywood e a maior estrela romântica dos anos 40. Mas foi em 1946,no auge da sua beleza e com o clássico noir Gilda, ao lado de Glenn Ford, que Hayworth se transformaria na maior estrela da década e numa das mulheres mais desejadas e famosas do mundo.
Rita casou-se cinco vezes: a primeira com Edward C. Judson (1937-1943); a segunda com
Orson Welles (1943-1948) e tiveram uma filha: Rebecca Welles; a terceira com o príncipe Aly Khan (1949-1953) e, tiveram uma filha, a princesa Yasmin Aga Khan; a quarta com o cantor Dick Haymes (1953-1955), e a última com James Hill (1958-1961).

Para a atriz, o insucesso no amor era definido por ela como: "A maioria dos homens apaixona-se por Gilda, mas acorda comigo".
RITA HAYWORTH

A BELA RUIVA AMERICANA DE ASCENDÊNCIA
ESPANHOLA E IRLANDESA




A MAIS BELA RUIVA DO CINEMA

RITA HAYWORTH








sábado, 30 de agosto de 2008


Cartas a um poeta
Rainer Maria Rilke

Carta IX
Furnborg, Jonsered, Suécia,
4 de Novembro de 1904
Meu caro senhor kappus: Durante todo este tempo, em que não teve notícias, andei em viagem e estive muito ocupado. É-me ainda difícil escrever: cartas numerosas cansaram-me a mão. Se pudesse ditar, dir-lhe-ia muitas coisas; mas, como não posso, aceite estas poucas palavras como resposta à sua longa carta.Penso tantas vezes em si, meu caro senhor Kappus, concentro de tal forma os meus votos sobre a sua vida, que , de qualquer modo, isto deveria ajudá-lo. Bem pelo contrário, duvido muitas vezes de que as minhas cartas lhe sejam benéficas. Não me diga que o são. Aceite-as simplesmente, sem me agradecer demasiado, e deixe agir o tempo.Talvez não seja necessário entrar no pormenor do que me diz. Tudo o que poderia dizer-lhe sobre as suas tendências para a dúvida, sobre as dificuldades que tem em conciliar a sua vida exterior com a sua vida interior, ou sobre quaisquer outras dificuldades, já lho disse. Apenas posso formular, uma vez mais, o voto de que possa encontrar em si próprio paciência bastante para suportar a simplicidade bastante para crer. Confie-se cada vez mais à sua solidão e a tudo o que é difícil. Quanto ao resto, tenha confiança na vida. Acredite: a vida tem sempre razão.Pelo que diz respeito a sentimentos, puros são todos os sentimentos em que concentra todo o seu ser e que o elevam; impuros, todos aqueles que apenas correspondem a uma parte de si próprio e por consequência o deformam. Tudo o que pensa quando se reporta à sua infância - é bom. Tudo o que faz de si mais do que era até então nas suas melhores horas - é bom. Se toda a sua substância nela participar, toda a exaltação é boa, desde o momento que não seja simples perturbação ou embriaguez mas alegria clara e transparente.Compreende o que quero dizer? A sua própria dúvida, se a educar, poderá tornar-se uma coisa salutar, isto é, transformar-se em instrumento de conhecimento e selecção. Pergunte-lhe, cada vez que a vir tentada a estragar qualquer coisa, por que razão acha essa coisa feia. Exija-lhe provas. Observe-a: vê-la-á talvez desorientada, em busca de uma pista. Sobretudo, não abdique nunca. Não se esqueça nunca de perguntar-lhe as suas razões. Virá o dia em que a dúvida, essa destruidora, se transformará num dos melhores artífices - o mais inteligente, talvez, de todos os que trabalham na construção da sua vida.Eis meu caro senhor Kappus, tudo o que por hoje posso dizer-lhe. Mando-lhe, pelo menos correio, uma tiragem especial de um poema que acabo de publicar na Deutsche Arbeit, de Praga. Nesse poema continuo a falar-lhe da Vida e da Morte, duas coisas grandes e magníficas. Seu
Rainer Maria Rilke


THE LOVE BOX de ISABEL DE SÁ




MARÍA ZAMBRANO
A Metáfora do Coração e outros escritos
(...)O amor transcende sempre, é o agente de toda a transcendência. Abre o futuro; não o porvir, que é o amanhã que se pressupõe certo, repetição com variações do hoje e réplica do ontem. O futuro essa abertura sem limite, para outra vida que nos aparece como a vida de verdade. O futuro que atrai também a História.
Mas o amor lança-nos para o futuro, obrigando-nos a transcender tudo o que concede. A sua promessa indecifrável desacredita tudo o que consegue, toda a realização. O amor é o agente de destruição mais poderoso, porque, ao descobrir a inanidade do seu objecto, deixa livre um vazio, um nada que é aterrador no princípio de ser apercebido. É o abismo em que se some não somente o amado, mas a própria vida, a própria realidade do que ama. É o amor que descobre a realidade e a inanidade das coisas, e que descobre o não ser e até o nada.
(...)A consciência aumenta após um desengano de amor, como a própria alma se dilatara com o seu engano.
Mas não existe engano algum no amor, que, por o haver, obedece à necessidade da sua essência. Porque, ao descobrir a realidade no duplo sentido do objecto amado e do que ama, a consciência de quem ama não sabe situar essa realidade que a transcende. Se não houvesse engano, não haveria transcendência, porque permaneceríamos sempre encerrados dentro dos mesmos lomites.
(...)Pois o amor que integra a pessoa, agente da sua unidade, condu-la à sua entrega; exige fazer do próprio ser uma oferenda, isso que é tão difícil de dizer hoje: um sacrifício. E este abatimento que há no próprio centro do sacrifício antecipa a morte. O que verdadeiramente ama, aprende a morrer. é uma verdadeira aprendizagem para a morte.
(...) O amor aparecerá perante o olhar do mundo na época moderna como amor-paixão. Mas essa paixão, essas paixões, quando se dão realmente, serão, têm sido sempre, os episódios da sua grande história semi-escondida. Estações necessárias para que o amor possa dar o seu último fruto, para que possa actuar como instrumento de consumação, como fogo que depura e como conhecimento.
María Zambrano, filósofa, tradução de José Bento, ASSÍRIO & ALVIM
Cena de Gata em Telhado de Zinco Quente
com Paul Newman e Elizabeth Taylor