
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Viagem Ao Fim da Noite de Louis-Ferdinand Céline
Viagem Ao Fim Da Noite é uma obra prima inovadora que nada perdeu nem na sua vitalidade surpreendente nem na capacidade de chocar. Aproximativamente autobiográfica, a narrativa na primeira pessoa segue as experiências do jovem narrador, Bardamu, primeiro um voluntário de 21 anos do exército francês no início da I Guerra Mundial, depois um médico competente na década de 30. Ao longo deste período, ele sofre um colapso nervoso, viaja para a África Central e os Estados Unidos, e regressa à França a fim de concluir a faculdade de Medicina. O romance é caracterizado por uma proza impertinente, vibrante e enérgica, imbuída de um humor sardónico e de um cinismo mordaz. Geralmente escrito num estilo lírico e eloquente, a narrativa fervilha de gírias, obscenidades e coloquialismos. Bardamu revela uma perspectiva intransigentemente crua da humanidade - "a espécie humana consiste de duas raças diferentes: os ricos e os pobres", afirma- e embora esteja sobretudo preocupado com os segundos, despreza a ambos. Na vida, tudo o que podemos esperar é o sofrimento, velhice e morte. Desse panorama sombrio, porém, Céline extrai um espantoso humor, que nunca cessa de entreter.
A influência deste romance original , anárquico e cáustico foi inestimável. - William Burrough é apenas um de entre os seus muitos admiradores. Na visão ácida de Céline sobre os desamparados vislumbramos um óbvio precursor dos anti-heróis pessimistas de Beckett. Em suma, eis um livro crucial para a compreensão do desenvolvimento do romance.
Anthony Leaker, estuda Literatura Americana e Europeia. Ensinou na Universidade de Paris
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
ODE À NOITE ( INTEIRA)
Gosto do momento, exacto ou nem isso,
em que se torna possível colar cartazes
nas paredes ao lado dos meus ombros (espero
o autocarro, vejo devagar, sorrio). Mas
gosto, sobretudo, dos cães quase sem dono
que roçam as esquinas, pisando restos de garrafas
-ou das pessoas que desconheço
e das bebidas todas que ignoro
(porque me matam menos e se chamam
-como eu - insónia, pesadelo, golpe baixo).
Existem, claro, raparigas louras um tanto
heterodoxas que não te apetece beijar
(a forca do bâton, perfeita - o cigarro aceso
pedindo outro lume). Essas mesmas que hão-de
um dia procriar com zelo, evitando rugas,
tumores e o mundo como representação misógena.
Mais lírica, sem dúvida, é a lavagem das ruas,
com a cerveja a premiar a farda
demasiado verde e os bigodes de serviço.
Outros, alguns, tornam concreto o torpor
de um charro e pedem-te em crioulo básico
um cigarro português que tu vais dar,
sem esforço nem palavras. Entre shots, piercings,
t-shirts de Guevara e gel, podes não acreditar
por algumas horas no axioma frágil do teu corpo.
Esfumas-te, como eles, no espelho de um bar
qualquer, país de enganos e baratas. E
quase gostas disso, quase: a música de punhais,
servil, um certo e procurado desencontro.
Um táxi te ensinará depois o caminho de casa
- ou o seu contrário, pois só ali (anónimo
e desfocado) eras finalmente tu, ou podias ser.
O resto, a vida, fica para outra vez.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
FRANK GERHY
terça-feira, 2 de setembro de 2008
que tanto apreciei e na voz de NINA SIMONE
Os Dom Rodrigos são para o Paulo e para o Jorge Fallorca
www.frenesi-livros.blogspot.com

»Sometimes while a person is talking I step out my
shoes and, like a plant drifting with the current,
I begin the voyage of my rootless self.»
Henry Miller
Os meus sapatos ficaram junto à retrete nas traseiras
Se te mexeres dessa cama imunda podes encontrá-los lá
Vomitei-te o chão todo da marquise e olhava encandeado a flor no vaso sobre o parapeito
Sabias que eu lia nessa altura Henry Miller mas não me ajudaste a «dar o salto»
E agarravas-me à tua cumplicidade doméstica
E eu vomitei-te o chão da tua cozinha
Afinal os meus sapatos mal-cheirosos talvez estejam na dispensa, quando roubava rodelas de chouriço
E tu batias-me
E agora já ninguém tem mão em mim
Porque eu leio Henry Miller e oiço Bob Dylan dos primeiros tempos
A tua filha bebe Coca Cola estupidamente
Os Amantes correm o país de automóvel de parque de diversões, de Feira Popular
E a mim só tenho este papel apanhado nas escadas do metro e já me resta pouco tempo
Como queres que eu me saiba sentar à mesa?
10-9-977
Paulo da Costa Domingos, TRAVESTI, & etc, Lisboa
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
NÃO MUITA VEZ
Não muita vez nos vemos, mas, se poucos
amigos há para falar
dos quais me sirvo de relâmpagos, de todos
é ele o que melhor vai com a minha fome.
Os dedos com que me tocou
persistem sob a pele, onde a memória os move.
Tacteiam, impolutos. Tantas vezes
o suor os traz consigo da memória, que não tenho
na pele poro através
do qual eles não procurem
sair quando transpiro. A pele é o espelho da memória
domingo, 31 de agosto de 2008
Rita casou-se cinco vezes: a primeira com Edward C. Judson (1937-1943); a segunda com Orson Welles (1943-1948) e tiveram uma filha: Rebecca Welles; a terceira com o príncipe Aly Khan (1949-1953) e, tiveram uma filha, a princesa Yasmin Aga Khan; a quarta com o cantor Dick Haymes (1953-1955), e a última com James Hill (1958-1961).
Para a atriz, o insucesso no amor era definido por ela como: "A maioria dos homens apaixona-se por Gilda, mas acorda comigo".
sábado, 30 de agosto de 2008
Rainer Maria Rilke
Carta IX
Furnborg, Jonsered, Suécia,
4 de Novembro de 1904
A Metáfora do Coração e outros escritos