
PARA A INFÂNCIA
Hansel e Gretel
dos irmãos Grimm
Prémio de Ilustração 2007
SUSANNE JANSSEN
A CÂMARA CLARA
de ROLAND BARTHES
(...) Todavia, quando se trata de uma pessoa - e já não de uma coisa - a evidência da Fotografia tem todo um outro sentido. Ver fotografados uma garrafa, um ramo de íris, uma galinha, um palácio, apenas compromete a realidade. Mas um corpo, um rosto e, mais ainda, tantas vezes os de um ser amado? Uma vez que a Fotografia (é esse o seu noema) autentifica a existência de tal pessoa, eu quero encontrá-la por inteiro, isto é, na essência, «tal como ela própria é», para além de uma mera semelhança, civil ou hereditária. Aqui , a crueza da foto torna-se mais dolorosa, porque ela só pode responder ao meu desejo louco através de qualquer coisa de indizível: evidente (é a lei da fotografia) e, contudo, improvável (não posso prová-lo). Esse qualquer coisa é o ar.
O ar de um rosto é indecomponível (a partir do momento em que posso decompor, eu provo ou recuso; em suma, duvido, afasto-me da Fotografia que, por natureza, é toda a evidência: a evidência é aquilo que não quer ser decomposto). O ar não é um dado esquemático, intelectual, como o é uma silhueta. O ar também não é uma simples analogia - por muito avançada que seja - como o é a «semelhança». Não, o ar é essa coisa exorbitante que leva do corpo à alma - animula, pequena alma individual, para uns boa, para outros má. (...) O ar é, assim, a sombra luminosa que acompanha o corpo; se a foto não consegue mostrar esse ar, então o corpo vai sem sombra, e, uma vez cortada essa sombra, como no Mito da Mulher sem Sombra, nada mais resta do que um corpo estéril, é através desse umbigo subtil que o fotógrafo dá vida. Se ele não sabe, ou por falta de talento ou por falta de oportunidade, dar à alma transparente a sua sombra clara, o sujeito morre para sempre. (...)
MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO aquém de si próprio
por Maria Manuela Brazette
(Texto publicado na Revista Portuguesa de Psicanálise, n.14, 1996)
Através da sua poesia, Mário de Sá-Carneiro mostra uma enorme necessidade de se conhecer e uma ânsia desesperada de se ligar a Alguém para poder viver e gostar de si próprio. Com espantosa lucidez e grande capacidade de análise, fala do seu mundo interior e descreve, em linguagem poética, fenómenos como a despersonalização, a susceptilidade narcísica, a dificuldade de identificação e de relação com o Outro. Neste trabalho dá-se primazia à palavra de Mário de Sá-Carneiro.
"É desolador como sabemos pouco de nós. Tudo é silêncio em nossa volta. O que é a vida? O que é a morte?...Donde somos, para onde viemos, para onde vamos?...Mistérios. Nuvens. Sombra fantástica...E o homem de siso não crê nos espectros!...Mas não seremos espectros nós próprios?O Mistério?...Olhem-nos: O Segredo Total, o Mistério Maior, somos nós, em verdade...Ah!, diante dum espelho, devíamos sempre ter medo! Deixemos o futuro, esqueçamos Amanhã -sonhadores heróicos de Além. Entretanto olhemos o passado - tentemos vará-lo, saber ao menos quem fomos Aquém".
Palavras de Mário de Sá-Carneiro ditas pela personagem da novela A estranha morte do Prof.Antena.