HANDEL cantado por FARINELLI
LASCIA CH'IO PIANGA MIA CRUDA SORTE
Dia 27 de Novembro
Quinta-Feira
21.30h.
Café Progresso
Porto
Poemas de Natália Correia, Isabel de Sá, Florbela Espanca, Ana Luísa Amaral, Sophia de Mello Breyner, Catarina Nunes de Almeida,Helga Moreira, Eduarda Chiote, Inês Lourenço, Graça Pires, Fiama Hasse Pais Brandão, Maria do Rosário Pedreira,Adília Lopes, Irene Lisboa, Maria Albertina Mitelo.
Leitura de poemas por:José Carlos Tinoco, Susana Guimarães, Ana Afonso, André Sebastião, Olga Oliveira, Rui Fernandes, Celeste Pereira, João Borges.
Acompanhamento Musical: Orlando Mesquita - viola
A CÂMARA CLARA
de ROLAND BARTHES
(...) Todavia, quando se trata de uma pessoa - e já não de uma coisa - a evidência da Fotografia tem todo um outro sentido. Ver fotografados uma garrafa, um ramo de íris, uma galinha, um palácio, apenas compromete a realidade. Mas um corpo, um rosto e, mais ainda, tantas vezes os de um ser amado? Uma vez que a Fotografia (é esse o seu noema) autentifica a existência de tal pessoa, eu quero encontrá-la por inteiro, isto é, na essência, «tal como ela própria é», para além de uma mera semelhança, civil ou hereditária. Aqui , a crueza da foto torna-se mais dolorosa, porque ela só pode responder ao meu desejo louco através de qualquer coisa de indizível: evidente (é a lei da fotografia) e, contudo, improvável (não posso prová-lo). Esse qualquer coisa é o ar.
O ar de um rosto é indecomponível (a partir do momento em que posso decompor, eu provo ou recuso; em suma, duvido, afasto-me da Fotografia que, por natureza, é toda a evidência: a evidência é aquilo que não quer ser decomposto). O ar não é um dado esquemático, intelectual, como o é uma silhueta. O ar também não é uma simples analogia - por muito avançada que seja - como o é a «semelhança». Não, o ar é essa coisa exorbitante que leva do corpo à alma - animula, pequena alma individual, para uns boa, para outros má. (...) O ar é, assim, a sombra luminosa que acompanha o corpo; se a foto não consegue mostrar esse ar, então o corpo vai sem sombra, e, uma vez cortada essa sombra, como no Mito da Mulher sem Sombra, nada mais resta do que um corpo estéril, é através desse umbigo subtil que o fotógrafo dá vida. Se ele não sabe, ou por falta de talento ou por falta de oportunidade, dar à alma transparente a sua sombra clara, o sujeito morre para sempre. (...)