sábado, 11 de abril de 2009

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O EROTISMO DAS MAGNÓLIAS




Poema de MANUEL DE FREITAS

LICEU SÁ DA BANDEIRA

Quando somos demasiado novos
e o tapume de sentidos e vontades
nos obriga ao inferno real da escrita,
pouco adianta acrescentar
que esses passos num abismo alheio
não interessavam sequer à ocasional
professora de português que, entre duas
bicas, nos falava do monóculo de Cesário.

Eu confundo tudo - até já de pronome
mudo (e rimo). Na verdade, talvez tenha
amado essa magra professora de liceu
que só me leu (se é que leu) passados
muitos anos. Mas o que importa, neste poema,
é o susto com que chegamos às palavras
que não temos. Enquanto a dor, apenas,
se revela soberana e intransmissível.

Havia o Campos, Sá-Carneiro
-descobertos por acaso na pequena
livraria que em breve terá de sofrer
a sombra do maior centro comercial
de Santarém. Mas depois era o deserto.
E em minha casa apenas se liam
(se é que se liam) sonetos das primas
pelas mesmas editados, tão incertas
em grau quanto em talento.

Não gosto de lhe chamar destino,
mas houve uma espécie de sorte
nesse azar imenso (estar vivo,
numa cidade indizivelmente bronca):
Dois crepúsculos que a penosa biblioteca
do liceu me fez seguir durante meses,
deixando que a cicuta e o assombro
se conformassem a «sons e sentidos»
que não eram, nem poderiam ser, os meus.

Alguns desses nomes viriam talvez
a salvar-me. Não de mim, claro,
mas do esterco mais ou menos consensual
dos que então se tinham por poetas.
Eu não percebia: como pode um poeta
não sofrer? Já disse que confundia tudo:
a biografia e a obra, antes de mais, mas
também, num plano diverso, a clamorosa
insignificância em que me pareciam comungar
os malabaristas de escola, os secos
& institucionais ou os que pelo escárnio
e pela ruptura queriam o mesmo e assinavam.
Provavelmente, não me estava a enganar.

Eram dos que iam realmente às escolas,
o que ajuda a tirar dúvidas (que me desculpe
a Sophia, que também lá foi uma tarde).
E ou viviam disso ou sempre garantiam
férias mais folgadas num paraíso suburbano.
Eu preferia ficar em casa, a ler por exemplo a Florbela.
Quantos poemas dela não passei à máquina...
Esses e os outros, os que escrevia mal e tão bem
fui sabendo deitar fora. Tinha dezassete
anos, vontade de morrer, maus hábitos.

Não sei se o país mudou. Eu não.
Haverá mais estradas, menos lugar
para o corpo e, nas letras, os do costume
foram como se previa substituídos
pelos mais novos do costume. «Já cansa
a cona, caramba». diria o Mário
-que nunca fez exactamente parte deste
horror quotidiano sem reabilitação possível.

Desenganem-se. Há muito pouco a reter
disto a quem um atávico pudor nos impede
de chamar morte. Talvez aquele primeiro
corpo, numa praia a que não voltei
nem voltou a anoitecer assim. Ou o diálogo
perfeito entre uma pavana de Byrd
e o mar de Santa Cruz. A poesia, se quisermos
insistir no termo, começa no corpo
(cf. Herberto Helder) para acabar num livro
- ou em lado nenhum, que é o melhor dos destinos.

Do Liceu Sá da Bandeira até ao fim do mundo.
PAPOILAS E MAIS PAPOILAS










Roland Barthes dizia que, sempre que escrevia, ia ferir um amigo sem querer.

"De todos os animais da criação, o homem é o único que bebe sem ter sede, come sem ter fome e fala sem ter nada que dizer"

John Steinbeck

*CRIAR

//v.tr. dar existência a; tirar do nada; gerar; produzir; promover a procriação de; alimentar para desenvolver; inventar; fundar; educar.

Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, 2009

Na minha passagem por Lisboa, nestas mini-férias de Páscoa, visitei duas livrarias que me interessaram: Livraria Poesia Incompleta e Letra Livre.
Na Livraria Letra Livre admirei a organização das estantes e o destaque por editoras.
Uma prateleira de comprimento razoável, para os livros da editora de culto & etc, do meu querido amigo Vitor Silva Tavares, outras para os livros da editora Averno, Frenesi e muitas mais. Os livros alinhados, bem conservados. Algumas raridades.
Falo destas editoras porque os livros expostos são essencialmente de POESIA.














Foto de Hedi Slimane

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Livraria de POESIA Poesia Incompleta
Estive uns dias em Lisboa e adorei conhecer o Changuito e a sua Livraria.
O respirar de um conceito de livraria, o respeito pelos autores/obras.
http://poesia-incompleta.blogspot.com/






domingo, 5 de abril de 2009


foto de Johann Pinto
UM DOMINGO COM POESIA

HOJE - 5 de Abril - 18 horas , rua do Breyner nº85, Porto

Poetas Emergentes no espaço BREYNER85
Poemas de Pedro S.Martins, Susana Guimarães,
Luís Pedro Afonso, Pedro Tavares,
João Borges,Nuno Brito,Bruno Brasil,
Jorge Afonso e Marco Dias
Sessão organizada pela Poetria

sábado, 4 de abril de 2009

A PROPÓSITO DA PÁTRIA

(...)
Mas quanto mais infantilizados e incultos nos tornarmos, mais facilmente seremos dominados, tal como o fomos quando éramos maioritariamente analfabetos. Ler e dar a ler livros de qualidade não poderia então ser um dos nossos deveres para com a pátria?»
Maria do Rosário Pedreira
(...)
Comboios apitam, o vento mudou,
nublou-se o céu. O povo tem
uns trocos, vai a todo o lado.
Tem aquele gosto ofuscante
no vestuário e cospe para o chão.
Na classe política muitos javardos
aprendem com o livre trânsito.
Aparentam serenidade, apenas
um sorriso para encobrir a vergonha,
a pobreza de sermos tão sós. Os hoteis
de luxo repletos de turistas
da Comunidade. Vestem calções,
calçam chinelos de piscina, sentem-se
à vontade na pátria de Camões.
(...)
Isabel de Sá, Erosão de Sentimentos, 1994/1996. Décimo terceiro livro, integrado em Repetir o Poema, Quasi edições, 2005
Fotos de HEDI SLIMANE








Poema de Jaime Gil de Biedma

Imagina agora que tu e eu
muito tarde na noite
vamos falar de homem para homem, finalmente.
Imagina-o,
numa dessas noites memoráveis
de rara comunhão, com a garrafa
meio vazia, os cinzeiros sujos,
e depois de esgotado o tema da vida.
Que te vou mostrar um coração,
um coração infiel,
nu da cintura para baixo,
leitor hipócrita - mon semblable, - mon frère!

Porque não é a impaciência do buscador de orgasmos
que me atira do corpo para outros corpos
jovens, se for possível:
procuro também o doce amor,
o terno amor que adormeça a meu lado
e alegre a minha cama ao acordar,
próximo como um pássaro.
Se jamais posso despir-me,
se nunca pude penetrar nuns braços
sem sentir - ainda que só por um momento -
igual deslumbramento que aos vinte anos!
Para saber de amor, para aprendê-lo,
ter estado sozinho é necessário.
E é necessário em quatrocentas noites
- com quatrocentos corpos diferentes -
ter feito amor. Que seus mistérios,
como disse o poeta, são da alma,
mas um corpo é o livro onde se lêem.

E por isso me alegro de me ter rebolado
sobre a areia espessa, os dois meio vestidos,
enquanto buscava esse tendão do ombro.
Comove-me a lembrança de tantas ocasiões...
Aquela estrada de montanha
e os bem empregados abraços furtivos
e o instante indefeso, de pé, após a travagem,
colados contra o muro, ofuscados pelas luzes.
Ou aquele entardecer perto do rio,
nus e a rir-nos, coroados de hera.
Ou aquele portal em Roma - em via del Babuino.
E lembranças de caras e cidades
quase desconhecidas, de corpos entrevistos,
de escadas sem luz, de camarotes,
de bares, de passagens desertas, de prostíbulos,
e de infinitas barracas de praia,
de fossos de um castelo.
Lembranças vossas, sobretudo,
oh noites em hoteis de uma só noite,
definitivas noites em sórdidas pensões,
em quartos recém-frios,
noites que devolveis a vossos hóspedes
um esquecido sabor a si próprios!
A história em corpo e alma, como uma imagem destruída,
de la languer goutée à ce mal d'être deux.
(...)
Embora saiba que nada me valeriam
trabalhos de amor disperso
se não houvesse o verdadeiro amor.
Meu amor,
imagem total da minha vida,
sol das próprias noites que lhe roubo.
(...)

domingo, 29 de março de 2009

POESIA IN POESIA IN POESIA IN

No próximo Domingo - 5 de Abril
Poetas Emergentes no espaço BREYNER85
Porto - Rua do Bryner 85 - 18horas
Poemas de Pedro S.Martins, Susana Guimarães,
Luís Pedro Afonso, Pedro Tavares, João Borges,
Nuno Brito,Bruno Brasil, Jorge Afonso e Marco Dias
Sessão organizada pela Poetria

sábado, 28 de março de 2009


Poema de JOÃO BORGES

Lá ao longe está a vida, e eu aqui a vê-la decorrer sem tomar parte nela.
Sinto por vezes que tenho muita idade. Estou cansado e desiludido. É como se tivesse feito um percurso e o fim dele se aproximasse já.
Talvez seja mesmo isso.
Sei que dentro de mim, alastra esta tristeza e a vontade de não estar aqui. Fora de mim, este largo é caótico, são os carros que quase se atropelam, as pessoas velhas, feias, mal vestidas e quando falam parecem alucinadas; uns quantos jovens, alguns mais velhos que eu, não têm noção de que mundo é este e entregam-se de olhos fechados ao paraíso que outros ficcionaram para eles.
Dentro de mim , a solidão de um amor que se desfaz e se repete, corroendo-me. Tudo é negro e cansativo. Há o silêncio que equivale à morte e o meu cadáver esquecido no deserto.
No entanto o coração insiste em bater, os pulmões respiram e acabo por viver mais um dia e mais outro, paredes -meias com este pesadelo.



Fotos de Mariana Costa, N.Y.
Poema de JOÃO RIOS

apressavam os verbos as mulheres sentadas mudando a natureza escondiam os homens obscurecendo os lugares e mergulhavam
para a usura dos dedos
absorvendo a música de um dévio rumor de erecção revolvendo águas
aclarando-se em golpes alçavam as suas guelras e guiavam os nomes mais
para dentro dos demónios de um amor sem salvação um amor ocupado
por estreitas redes de entenebrecer
Poema do livro "O Ópio da Tempestade", 2009
Preparativos para o Dia da Poesia em Vila do Conde
João Rios, Isaque Ferreira e a minha irmã Isabel Lhano







quarta-feira, 25 de março de 2009

MARIA TERESA HORTA

MORRER DE AMOR

Morrer de amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
à pele
do sorriso

Sufocar
de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso
EUGÉNIO DE ANDRADE

O AMOR

Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.

A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.

A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.

Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável.

A marcar sobre os teus flancos
itinerários da espuma.

Assim é o amor: mortal e navegável.
GRAÇA MARTINS











Love Come Back To My Heart , acrílico s/tela, 80x120cm, 2008
The Look, acrílico s/tela, fragmento, 70x120cm, 2004

The Silence, fragmento, acrílico s/tela, 70x120cm, 2004


The Key, acrílico e colagem s/tela, 83x60cm, 2003












Borderline Case, acrílico s/tela, 80x120cm, 1992

Na próxima Sexta-Feira, 27 de Março, vou estar presente numa aula de História de Arte, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a convite da Dra. Leonor Barbosa Soares. Irei falar do meu percurso artístico, projectar trabalhos e apresentar alguns exemplos da minha obra gráfica como Designer. Quem quiser pode assistir. A aula começa às 17.30h, no 2ºpiso da Faculdade.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Ainda recordações de uma noite memorável

Uma preciosidade interpretada pelo COLECTIVO SILÊNCIO DA GAVETA

Poema de ISABEL DE SÁ - O PÓ NEGRO DA CIDADE

Diseur - JOÃO RIOS

Poemas de dois poetas emergentes - JOÃO BORGES e PEDRO TAVARES

Dia da Poesia - A noite ouviu e GOSTOU

domingo, 22 de março de 2009

Dez passos depois das árvores
DIA DA POESIA EM VILA DO CONDE
Organizado pelo colectivo SILÊNCIO DA GAVETA
Mais de 500 poemas dos quatro cantos do Mundo
Leitura encenada por JOÃO RIOS
Eduardo Patriarca - electrónica
José Peixoto - guitarra
Tiago Pereira - violino
Fátima Fonte - piano
Daniel Curval - imagem






























Fotos de Graça Martins
Imagens surreais da Av.Júlio Graça em Vila do Conde

A POESIA ESTÁ NA RUA


















POESIA POESIA POESIA POESIA POESIA
A noite estava fria, muito fria, mas as pessoas permaneciam de pé, algumas sentadas e todas atentas às palavras, aos poemas ditos pelo João Rios, acompanhado pelo seu Colectivo Silêncio da Gaveta. Foi uma sessão de poesia memorável. Poemas de autores indiscutíveis e também de jovens poetas emergentes. Autores como João Borges, Pedro Tavares e outros que, emocionados, ouviram os seus poemas com acompanhamento musical lançados para a noite, em Vila do Conde.

domingo, 15 de março de 2009

No próximo sábado 21 de Março inicia-se a PRIMAVERA
e comemora-se o DIA DA POESIA
Instalação de poemas nas árvores e leitura
pelo colectivo Silêncio da Gaveta.
Acompanhamento musical de Eduardo Patriarca
23h junto ao coreto da Avenida Júlio Graça.
Poemas de vários poetas contemporâneos e de
poetas emergentes. Paulo da Costa Domingos,
Jorge Velhote, Eduarda Chiote, Helga Moreira,
Pedro Tavares, João Rios, Isabel de Sá,
valter hugo mãe, João Borges e muitos mais.

sábado, 14 de março de 2009


O Fenómeno da Sedução

O fenómeno da sedução possui três características fundamentais: a subjectividade, pois o que fascina uma pessoa pode deixar outra indiferente; a desproporção, já que não existe correlação entre a relevância do estímulo e o seu efeito (um simples perfume pode despoletar uma paixão e um documentário televisivo pode mudar a trajectória profissional de um indivíduo); e a imprevisibilidade, pois a atracção do objecto surge de modo fulgurante, invadindo o espaço da pessoa afectada para modificá-lo ligeiramente ou para desordená-lo por completo. Por tudo isto, a sedução não pode ser pensada, planificada ou explicada a priori, as suas causas só são encontradas depois. Os psicólogos falam dessa flecha instantânea para se referir aos detonadores que iniciam um processo de amizade, uma porta que só abre após a misteriosa faísca que surge no momento em que duas pessoas se conhecem.
Cada um apaixona-se por um tipo de pessoa
No âmbito sentimental acontece o mesmo. Todos acreditamos que se trata do terreno da sedução por excelência, mas uma relação estável baseia-se no carinho, na admiração, no interesse ou noutras razões que fazem que o vínculo seja firme e não necessariamente satisfatório. Por isso, seria melhor falar em paixão, um sentimento que nunca se experimenta por conveniência.
Embora elementos como o dinheiro possam disfarçar de sedutor quem os possui, o processo de deixar-se arrebatar por uma pessoa é sincero, espontâneo e esmagador. Os psicólogos não sabem ao certo por que motivo acontece mas, nas três ou quatro ocasiões em que isso se produz ao longo da vida, rendemo-nos a gente parecida, a pessoas que, embora possam ter aspectos distintos, possuem características fisicas ou psicológicas semelhantes.
O segredo, por conseguinte, não reside no outro e nas suas características, mas sim em nós mesmos e nos nossos próprios gostos. Em concreto, cada qual é sensível a determinadas tipologias humanas, embora, neste jogo, alguns sejam os "engatatões" e outros os propensos a apaixonar-se.
Mais adiante, quando a paixão começa a arrefecer e é substituída pelo amor, o que nem sempre acontece, a sedução perde efervescência e o mistério dilui-se. Nessa altura, conhecemo-nos mais, mas seduzimo-nos menos.
(...) A vida oferece-nos grandes doses de beleza e a passagem do tempo ensinou-nos a saber onde encontrá-la. Ellen S. Berscheid, investigadora e professora da Universidade do Minnesota, estudou o impacto da atracção estética e a influência inconsciente que exerce nas relações interpessoais para chegar a uma conclusão tão indiscutível como injusta: para os favorecidos, a vida é mais fácil.
Devido ao "efeito de halo", como se designa em psicologia esse mecanismo de avaliação cognitivo, as pessoas de aspecto agradável são consideradas mais inteligentes, honestas e benevolentes, ganham mais dinheiro, ocupam cargos mais importantes e casam com maior facilidade. Em definitivo, seduzem.
Texto da psicóloga Pilar Varela, As Chaves Psicológicas da Sedução.
"A sedução está relacionada com o êxito no amor mas não só. Seduzimos de cada vez que comunicamos uns com os outros e conseguimos que a pessoa em causa se sinta atraída por nós. Tem uma carga genética, porque há pessoas mais extrovertidas, que conseguem seduzir mais facilmente, e outras que nem tanto. Mas também têm influência as relações precoces com pais, amigos, professores. Até os mais introvertidos aprendem técnicas para conseguir seduzir. E há quem se sirva dessa introversão para os mesmos fins, conseguindo conquistar de uma forma muito original.
ELIZABETH PEYTON
Retratos de adolescentes e figuras do rock