"Na véspera dos meus trinta e oito anos pensei nos poemas de Ruy Belo. E também eu quis escrever"Homenageio a tua primavera em flor". Passei o dia a desejar-te, amei o corpo adolescente."
quinta-feira, 23 de abril de 2009
quarta-feira, 22 de abril de 2009
terça-feira, 21 de abril de 2009
AL BERTO
Vestígios
noutros tempos
quando acreditávamos na existência da lua
foi-nos possível escrever poemas e
envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído
pelas salivas proibidas - noutros tempos
os dias corriam com a água e limpavam
os líquenes das imundas máscaras
hoje
nenhuma palavra pode ser escrita
nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras
ou se expande pelo corpo estendido
no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se
onde se pode - num vocabulário reduzido e
obsessivo - até que o relâmpago fulmine a língua
e nada mais se consiga ouvir
apesar de tudo
continuamos a repetir os gestos e a beber
a serenidade da seiva - vamos pela febre
dos cedros acima - até que tocamos o místico
arbusto estelar
e
o mistério da luz fustiga-nos os olhos
numa euforia torrencial
livro, Horto de Incêndio
Vestígios
noutros tempos
quando acreditávamos na existência da lua
foi-nos possível escrever poemas e
envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído
pelas salivas proibidas - noutros tempos
os dias corriam com a água e limpavam
os líquenes das imundas máscaras
hoje
nenhuma palavra pode ser escrita
nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras
ou se expande pelo corpo estendido
no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se
onde se pode - num vocabulário reduzido e
obsessivo - até que o relâmpago fulmine a língua
e nada mais se consiga ouvir
apesar de tudo
continuamos a repetir os gestos e a beber
a serenidade da seiva - vamos pela febre
dos cedros acima - até que tocamos o místico
arbusto estelar
e
o mistério da luz fustiga-nos os olhos
numa euforia torrencial
livro, Horto de Incêndio
quinta-feira, 16 de abril de 2009
NÓS NÓS NÓS NÓS NÓS
ISABEL LHANO
ISABEL LHANO
18 de Abril a 16 de Maio
Galeria Artes Solar de St. António
Galeria Artes Solar de St. António
Rua do Rosário, nº84, Porto
(…)
As mãos que se vêem nestas telas são como entidades completas, bastam-se a si mesmas para o que importa no discurso desta exposição. Ficam como seres inteiros que se recebem mutuamente e se relacionam produzindo no espectador um efeito imediato de conforto, ansiedade, rejeição, paixão, cumplicidade, etc
(…)
As mãos que se vêem nestas telas são como entidades completas, bastam-se a si mesmas para o que importa no discurso desta exposição. Ficam como seres inteiros que se recebem mutuamente e se relacionam produzindo no espectador um efeito imediato de conforto, ansiedade, rejeição, paixão, cumplicidade, etc
(...)
valter Hugo mãe
ATITUDES URBANAS NA CIDADE DO PORTO
Programa "Regime de 1/2 Pensão"
RESIDÊNCIAS:
Isabel Carvalho
- Café Guarany
16.Abr > 11:00 - 13:00 / tarde - horário livre / 21:00 - 24:00
17.Abr > 10:00 - 12:00
18.Abr > 11:00 - 13:00 / tarde - horário livre / 21:00 - 23:00
João Gesta
- Leitaria da Quinta do Paço
16.Abr > 14:30 - 18:30
17.Abr > 14:30 - 18:30
18.Abr > 14:30 - 18:30
Jorge Andrade
- Plano B
16.Abr > 22:00 - 02:00
17.Abr > 22:00 - 02:00
Pedro Eiras
- Café Ceuta
16.Abr > 10:30 - 14:30
17.Abr > 10:30 - 14:30
18.Abr > 16:30 - 22:00
valter hugo mãe
- Maus Hábitos
16.Abr > 23:00 - 02:00
17.Abr > 23:00 - 02:00
18.Abr > 22:00 - 01:00
Apresentações de Trabalhos
João Gesta
- Leitaria da Quinta do Paço
18.Abr > 17:30 - 18:30
Pedro Eiras
- Café Ceuta
18.Abr > 21:00 - 22:00
Isabel Carvalho
- Café Guarany
18.Abr > 22:00 - 23:00
Jorge Andrade
- Plano B
18.Abr > 23:00 - 23:59
valter hugo mãe
- Maus Hábitos
18.Abr > 23:59 - 01:00
Programa "Regime de 1/2 Pensão"
RESIDÊNCIAS:
Isabel Carvalho
- Café Guarany
16.Abr > 11:00 - 13:00 / tarde - horário livre / 21:00 - 24:00
17.Abr > 10:00 - 12:00
18.Abr > 11:00 - 13:00 / tarde - horário livre / 21:00 - 23:00
João Gesta
- Leitaria da Quinta do Paço
16.Abr > 14:30 - 18:30
17.Abr > 14:30 - 18:30
18.Abr > 14:30 - 18:30
Jorge Andrade
- Plano B
16.Abr > 22:00 - 02:00
17.Abr > 22:00 - 02:00
Pedro Eiras
- Café Ceuta
16.Abr > 10:30 - 14:30
17.Abr > 10:30 - 14:30
18.Abr > 16:30 - 22:00
valter hugo mãe
- Maus Hábitos
16.Abr > 23:00 - 02:00
17.Abr > 23:00 - 02:00
18.Abr > 22:00 - 01:00
Apresentações de Trabalhos
João Gesta
- Leitaria da Quinta do Paço
18.Abr > 17:30 - 18:30
Pedro Eiras
- Café Ceuta
18.Abr > 21:00 - 22:00
Isabel Carvalho
- Café Guarany
18.Abr > 22:00 - 23:00
Jorge Andrade
- Plano B
18.Abr > 23:00 - 23:59
valter hugo mãe
- Maus Hábitos
18.Abr > 23:59 - 01:00
sábado, 11 de abril de 2009
sexta-feira, 10 de abril de 2009
Poema de MANUEL DE FREITAS
LICEU SÁ DA BANDEIRA
Quando somos demasiado novos
e o tapume de sentidos e vontades
nos obriga ao inferno real da escrita,
pouco adianta acrescentar
que esses passos num abismo alheio
não interessavam sequer à ocasional
professora de português que, entre duas
bicas, nos falava do monóculo de Cesário.
Eu confundo tudo - até já de pronome
mudo (e rimo). Na verdade, talvez tenha
amado essa magra professora de liceu
que só me leu (se é que leu) passados
muitos anos. Mas o que importa, neste poema,
é o susto com que chegamos às palavras
que não temos. Enquanto a dor, apenas,
se revela soberana e intransmissível.
Havia o Campos, Sá-Carneiro
-descobertos por acaso na pequena
livraria que em breve terá de sofrer
a sombra do maior centro comercial
de Santarém. Mas depois era o deserto.
E em minha casa apenas se liam
(se é que se liam) sonetos das primas
pelas mesmas editados, tão incertas
em grau quanto em talento.
Não gosto de lhe chamar destino,
mas houve uma espécie de sorte
nesse azar imenso (estar vivo,
numa cidade indizivelmente bronca):
Dois crepúsculos que a penosa biblioteca
do liceu me fez seguir durante meses,
deixando que a cicuta e o assombro
se conformassem a «sons e sentidos»
que não eram, nem poderiam ser, os meus.
Alguns desses nomes viriam talvez
a salvar-me. Não de mim, claro,
mas do esterco mais ou menos consensual
dos que então se tinham por poetas.
Eu não percebia: como pode um poeta
não sofrer? Já disse que confundia tudo:
a biografia e a obra, antes de mais, mas
também, num plano diverso, a clamorosa
insignificância em que me pareciam comungar
os malabaristas de escola, os secos
& institucionais ou os que pelo escárnio
e pela ruptura queriam o mesmo e assinavam.
Provavelmente, não me estava a enganar.
Eram dos que iam realmente às escolas,
o que ajuda a tirar dúvidas (que me desculpe
a Sophia, que também lá foi uma tarde).
E ou viviam disso ou sempre garantiam
férias mais folgadas num paraíso suburbano.
Eu preferia ficar em casa, a ler por exemplo a Florbela.
Quantos poemas dela não passei à máquina...
Esses e os outros, os que escrevia mal e tão bem
fui sabendo deitar fora. Tinha dezassete
anos, vontade de morrer, maus hábitos.
Não sei se o país mudou. Eu não.
Haverá mais estradas, menos lugar
para o corpo e, nas letras, os do costume
foram como se previa substituídos
pelos mais novos do costume. «Já cansa
a cona, caramba». diria o Mário
-que nunca fez exactamente parte deste
horror quotidiano sem reabilitação possível.
Desenganem-se. Há muito pouco a reter
disto a quem um atávico pudor nos impede
de chamar morte. Talvez aquele primeiro
corpo, numa praia a que não voltei
nem voltou a anoitecer assim. Ou o diálogo
perfeito entre uma pavana de Byrd
e o mar de Santa Cruz. A poesia, se quisermos
insistir no termo, começa no corpo
(cf. Herberto Helder) para acabar num livro
- ou em lado nenhum, que é o melhor dos destinos.
Do Liceu Sá da Bandeira até ao fim do mundo.
Quando somos demasiado novos
e o tapume de sentidos e vontades
nos obriga ao inferno real da escrita,
pouco adianta acrescentar
que esses passos num abismo alheio
não interessavam sequer à ocasional
professora de português que, entre duas
bicas, nos falava do monóculo de Cesário.
Eu confundo tudo - até já de pronome
mudo (e rimo). Na verdade, talvez tenha
amado essa magra professora de liceu
que só me leu (se é que leu) passados
muitos anos. Mas o que importa, neste poema,
é o susto com que chegamos às palavras
que não temos. Enquanto a dor, apenas,
se revela soberana e intransmissível.
Havia o Campos, Sá-Carneiro
-descobertos por acaso na pequena
livraria que em breve terá de sofrer
a sombra do maior centro comercial
de Santarém. Mas depois era o deserto.
E em minha casa apenas se liam
(se é que se liam) sonetos das primas
pelas mesmas editados, tão incertas
em grau quanto em talento.
Não gosto de lhe chamar destino,
mas houve uma espécie de sorte
nesse azar imenso (estar vivo,
numa cidade indizivelmente bronca):
Dois crepúsculos que a penosa biblioteca
do liceu me fez seguir durante meses,
deixando que a cicuta e o assombro
se conformassem a «sons e sentidos»
que não eram, nem poderiam ser, os meus.
Alguns desses nomes viriam talvez
a salvar-me. Não de mim, claro,
mas do esterco mais ou menos consensual
dos que então se tinham por poetas.
Eu não percebia: como pode um poeta
não sofrer? Já disse que confundia tudo:
a biografia e a obra, antes de mais, mas
também, num plano diverso, a clamorosa
insignificância em que me pareciam comungar
os malabaristas de escola, os secos
& institucionais ou os que pelo escárnio
e pela ruptura queriam o mesmo e assinavam.
Provavelmente, não me estava a enganar.
Eram dos que iam realmente às escolas,
o que ajuda a tirar dúvidas (que me desculpe
a Sophia, que também lá foi uma tarde).
E ou viviam disso ou sempre garantiam
férias mais folgadas num paraíso suburbano.
Eu preferia ficar em casa, a ler por exemplo a Florbela.
Quantos poemas dela não passei à máquina...
Esses e os outros, os que escrevia mal e tão bem
fui sabendo deitar fora. Tinha dezassete
anos, vontade de morrer, maus hábitos.
Não sei se o país mudou. Eu não.
Haverá mais estradas, menos lugar
para o corpo e, nas letras, os do costume
foram como se previa substituídos
pelos mais novos do costume. «Já cansa
a cona, caramba». diria o Mário
-que nunca fez exactamente parte deste
horror quotidiano sem reabilitação possível.
Desenganem-se. Há muito pouco a reter
disto a quem um atávico pudor nos impede
de chamar morte. Talvez aquele primeiro
corpo, numa praia a que não voltei
nem voltou a anoitecer assim. Ou o diálogo
perfeito entre uma pavana de Byrd
e o mar de Santa Cruz. A poesia, se quisermos
insistir no termo, começa no corpo
(cf. Herberto Helder) para acabar num livro
- ou em lado nenhum, que é o melhor dos destinos.
Do Liceu Sá da Bandeira até ao fim do mundo.
Na minha passagem por Lisboa, nestas mini-férias de Páscoa, visitei duas livrarias que me interessaram: Livraria Poesia Incompleta e Letra Livre.
Na Livraria Letra Livre admirei a organização das estantes e o destaque por editoras.
Uma prateleira de comprimento razoável, para os livros da editora de culto & etc, do meu querido amigo Vitor Silva Tavares, outras para os livros da editora Averno, Frenesi e muitas mais. Os livros alinhados, bem conservados. Algumas raridades.
Falo destas editoras porque os livros expostos são essencialmente de POESIA.

Foto de Hedi Slimane
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Livraria de POESIA Poesia Incompleta
Estive uns dias em Lisboa e adorei conhecer o Changuito e a sua Livraria.
O respirar de um conceito de livraria, o respeito pelos autores/obras.
http://poesia-incompleta.blogspot.com/

Estive uns dias em Lisboa e adorei conhecer o Changuito e a sua Livraria.
O respirar de um conceito de livraria, o respeito pelos autores/obras.
http://poesia-incompleta.blogspot.com/
domingo, 5 de abril de 2009
sábado, 4 de abril de 2009
A PROPÓSITO DA PÁTRIA
(...)
(...)
Mas quanto mais infantilizados e incultos nos tornarmos, mais facilmente seremos dominados, tal como o fomos quando éramos maioritariamente analfabetos. Ler e dar a ler livros de qualidade não poderia então ser um dos nossos deveres para com a pátria?»
Maria do Rosário Pedreira
(...)
Comboios apitam, o vento mudou,
nublou-se o céu. O povo tem
uns trocos, vai a todo o lado.
Tem aquele gosto ofuscante
no vestuário e cospe para o chão.
Na classe política muitos javardos
aprendem com o livre trânsito.
Aparentam serenidade, apenas
um sorriso para encobrir a vergonha,
a pobreza de sermos tão sós. Os hoteis
de luxo repletos de turistas
da Comunidade. Vestem calções,
calçam chinelos de piscina, sentem-se
à vontade na pátria de Camões.
(...)
Isabel de Sá, Erosão de Sentimentos, 1994/1996. Décimo terceiro livro, integrado em Repetir o Poema, Quasi edições, 2005
Poema de Jaime Gil de Biedma
Imagina agora que tu e eu
muito tarde na noite
vamos falar de homem para homem, finalmente.
Imagina-o,
numa dessas noites memoráveis
de rara comunhão, com a garrafa
meio vazia, os cinzeiros sujos,
e depois de esgotado o tema da vida.
Que te vou mostrar um coração,
um coração infiel,
nu da cintura para baixo,
leitor hipócrita - mon semblable, - mon frère!
Porque não é a impaciência do buscador de orgasmos
que me atira do corpo para outros corpos
jovens, se for possível:
procuro também o doce amor,
o terno amor que adormeça a meu lado
e alegre a minha cama ao acordar,
próximo como um pássaro.
Se jamais posso despir-me,
se nunca pude penetrar nuns braços
sem sentir - ainda que só por um momento -
igual deslumbramento que aos vinte anos!
Para saber de amor, para aprendê-lo,
ter estado sozinho é necessário.
E é necessário em quatrocentas noites
- com quatrocentos corpos diferentes -
ter feito amor. Que seus mistérios,
como disse o poeta, são da alma,
mas um corpo é o livro onde se lêem.
E por isso me alegro de me ter rebolado
sobre a areia espessa, os dois meio vestidos,
enquanto buscava esse tendão do ombro.
Comove-me a lembrança de tantas ocasiões...
Aquela estrada de montanha
e os bem empregados abraços furtivos
e o instante indefeso, de pé, após a travagem,
colados contra o muro, ofuscados pelas luzes.
Ou aquele entardecer perto do rio,
nus e a rir-nos, coroados de hera.
Ou aquele portal em Roma - em via del Babuino.
E lembranças de caras e cidades
quase desconhecidas, de corpos entrevistos,
de escadas sem luz, de camarotes,
de bares, de passagens desertas, de prostíbulos,
e de infinitas barracas de praia,
de fossos de um castelo.
Lembranças vossas, sobretudo,
oh noites em hoteis de uma só noite,
definitivas noites em sórdidas pensões,
em quartos recém-frios,
noites que devolveis a vossos hóspedes
um esquecido sabor a si próprios!
A história em corpo e alma, como uma imagem destruída,
de la languer goutée à ce mal d'être deux.
(...)
Embora saiba que nada me valeriam
trabalhos de amor disperso
se não houvesse o verdadeiro amor.
Meu amor,
imagem total da minha vida,
sol das próprias noites que lhe roubo.
(...)
Imagina agora que tu e eu
muito tarde na noite
vamos falar de homem para homem, finalmente.
Imagina-o,
numa dessas noites memoráveis
de rara comunhão, com a garrafa
meio vazia, os cinzeiros sujos,
e depois de esgotado o tema da vida.
Que te vou mostrar um coração,
um coração infiel,
nu da cintura para baixo,
leitor hipócrita - mon semblable, - mon frère!
Porque não é a impaciência do buscador de orgasmos
que me atira do corpo para outros corpos
jovens, se for possível:
procuro também o doce amor,
o terno amor que adormeça a meu lado
e alegre a minha cama ao acordar,
próximo como um pássaro.
Se jamais posso despir-me,
se nunca pude penetrar nuns braços
sem sentir - ainda que só por um momento -
igual deslumbramento que aos vinte anos!
Para saber de amor, para aprendê-lo,
ter estado sozinho é necessário.
E é necessário em quatrocentas noites
- com quatrocentos corpos diferentes -
ter feito amor. Que seus mistérios,
como disse o poeta, são da alma,
mas um corpo é o livro onde se lêem.
E por isso me alegro de me ter rebolado
sobre a areia espessa, os dois meio vestidos,
enquanto buscava esse tendão do ombro.
Comove-me a lembrança de tantas ocasiões...
Aquela estrada de montanha
e os bem empregados abraços furtivos
e o instante indefeso, de pé, após a travagem,
colados contra o muro, ofuscados pelas luzes.
Ou aquele entardecer perto do rio,
nus e a rir-nos, coroados de hera.
Ou aquele portal em Roma - em via del Babuino.
E lembranças de caras e cidades
quase desconhecidas, de corpos entrevistos,
de escadas sem luz, de camarotes,
de bares, de passagens desertas, de prostíbulos,
e de infinitas barracas de praia,
de fossos de um castelo.
Lembranças vossas, sobretudo,
oh noites em hoteis de uma só noite,
definitivas noites em sórdidas pensões,
em quartos recém-frios,
noites que devolveis a vossos hóspedes
um esquecido sabor a si próprios!
A história em corpo e alma, como uma imagem destruída,
de la languer goutée à ce mal d'être deux.
(...)
Embora saiba que nada me valeriam
trabalhos de amor disperso
se não houvesse o verdadeiro amor.
Meu amor,
imagem total da minha vida,
sol das próprias noites que lhe roubo.
(...)
sexta-feira, 3 de abril de 2009
domingo, 29 de março de 2009
POESIA IN POESIA IN POESIA IN
No próximo Domingo - 5 de Abril
Poetas Emergentes no espaço BREYNER85
Porto - Rua do Bryner 85 - 18horas
Poemas de Pedro S.Martins, Susana Guimarães,
Luís Pedro Afonso, Pedro Tavares, João Borges,
Nuno Brito,Bruno Brasil, Jorge Afonso e Marco Dias
Sessão organizada pela Poetria
No próximo Domingo - 5 de Abril
Poetas Emergentes no espaço BREYNER85
Porto - Rua do Bryner 85 - 18horas
Poemas de Pedro S.Martins, Susana Guimarães,
Luís Pedro Afonso, Pedro Tavares, João Borges,
Nuno Brito,Bruno Brasil, Jorge Afonso e Marco Dias
Sessão organizada pela Poetria
sábado, 28 de março de 2009
Poema de JOÃO BORGES
Lá ao longe está a vida, e eu aqui a vê-la decorrer sem tomar parte nela.
Sinto por vezes que tenho muita idade. Estou cansado e desiludido. É como se tivesse feito um percurso e o fim dele se aproximasse já.
Talvez seja mesmo isso.
Sei que dentro de mim, alastra esta tristeza e a vontade de não estar aqui. Fora de mim, este largo é caótico, são os carros que quase se atropelam, as pessoas velhas, feias, mal vestidas e quando falam parecem alucinadas; uns quantos jovens, alguns mais velhos que eu, não têm noção de que mundo é este e entregam-se de olhos fechados ao paraíso que outros ficcionaram para eles.
Dentro de mim , a solidão de um amor que se desfaz e se repete, corroendo-me. Tudo é negro e cansativo. Há o silêncio que equivale à morte e o meu cadáver esquecido no deserto.
No entanto o coração insiste em bater, os pulmões respiram e acabo por viver mais um dia e mais outro, paredes -meias com este pesadelo.
Sinto por vezes que tenho muita idade. Estou cansado e desiludido. É como se tivesse feito um percurso e o fim dele se aproximasse já.
Talvez seja mesmo isso.
Sei que dentro de mim, alastra esta tristeza e a vontade de não estar aqui. Fora de mim, este largo é caótico, são os carros que quase se atropelam, as pessoas velhas, feias, mal vestidas e quando falam parecem alucinadas; uns quantos jovens, alguns mais velhos que eu, não têm noção de que mundo é este e entregam-se de olhos fechados ao paraíso que outros ficcionaram para eles.
Dentro de mim , a solidão de um amor que se desfaz e se repete, corroendo-me. Tudo é negro e cansativo. Há o silêncio que equivale à morte e o meu cadáver esquecido no deserto.
No entanto o coração insiste em bater, os pulmões respiram e acabo por viver mais um dia e mais outro, paredes -meias com este pesadelo.
Poema de JOÃO RIOS
apressavam os verbos as mulheres sentadas mudando a natureza escondiam os homens obscurecendo os lugares e mergulhavam
para a usura dos dedos
absorvendo a música de um dévio rumor de erecção revolvendo águas
aclarando-se em golpes alçavam as suas guelras e guiavam os nomes mais
para dentro dos demónios de um amor sem salvação um amor ocupado
por estreitas redes de entenebrecer
absorvendo a música de um dévio rumor de erecção revolvendo águas
aclarando-se em golpes alçavam as suas guelras e guiavam os nomes mais
para dentro dos demónios de um amor sem salvação um amor ocupado
por estreitas redes de entenebrecer
Poema do livro "O Ópio da Tempestade", 2009
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