segunda-feira, 2 de novembro de 2009

POEMA DE MANUEL DE FREITAS

NEXT TO NOTHING

Não acordei com o teu corpo,
mas com um verso
que me parece agora
o mais triste do mundo:
Le tuve tan cerca.

Foi verdade, foi tão depressa
mentira - acabarmos juntos
no último bar. Ou apertar-te
em plena desrazão os ombros,
o pescoço baixo,
a cor indecisa dos cabelos.
Enquanto se partem tão
tristes os tristes copos
que nessa noite derrubei - e eras tu.

Não sei o que te disse, que
outras partes de quem foste
toquei ou perdi. De qualquer modo,
perdi. E foi, só podia ser,
demasiado triste: dois corpos
que ninguém via desciam a rua
da Misericórdia, já perto da manhã.
Aquela nenhuma distância
não pôde ser um beijo. Apenas derrota,
ressaca, mais uma canção sem nós.

Tu não sabes - e ainda bem - que
este homem te desejou todas as noites,
até que fechasse o bar. Este homem
que não deseja e que tem,
infelizmente, um nome igual ao meu.

Da próxima vez, quero estar menos
bêbedo, saber se apanhámos
ou não o mesmo táxi. Mas
«da próxima vez» nunca existirá.

Walkmen de José Miguel Silva e Manuel de Freitas, foi composto e paginado por Olímpio Ferreira, edição & etc, Dezembro de 2007

JARDIM DO PRÍNCIPE REAL - LISBOA
















GALERIA GRAÇA BRANDÃO - LISBOA

Visita à GALERIA GRAÇA BRANDÃO e à exposição de EDGAR MARTINS

A Ordem de Convergência de Duas Trajectórias de Sistemas Opostos

As ruínas recordam-nos da materialidade muda do mundo, as coisas que em nada se importam dos nossos projectos fúteis, que em nenhum aspecto reconhecem a ordem que as nossas arquitecturas tentam impor no mundo. Na sua esmagadora maioria, elas são um dos constantes cenários da história, a partir dos quais muitos significados e representações emergiram. (...)
No entanto, é precisamente a ausência da figura humana que, nesta série, acentua uma paisagem profundamente humana, o humano como um princípio que se tivesse ausentado e que deixa um silêncio visual. (...)
Citando Ranciére mais uma vez:"o real", escreve ele, "tem de ser ficcionalizado para que possa ser pensado".
(...)
fragmento do texto que acompanha o catálogo da exposição de Edgar Martins por Peter d. Osborne.














































quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Galeria Graça.Brandão - Lisboa
Rua dos Caetanos, 26, Bairro Alto

UM ESPAÇO FABULOSO

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

LOVE BOX - DE ISABEL DE SÁ, 2008




JUKEBOX - 4 POEMAS DE MANUEL DE FREITAS

JOY DIVISION

Arrastávamos por adegas e cocheiras
um tremor de ganza e de
mau vinho, um destino sem razão.

E julgávamo-nos urbanos,
suburbanos- como se a dor tivesse
tempo a perder com geografias
ou nos pudessem valer esses corações
de plástico, colados a t-shirts pretas.

«Here are the young men»,
agora que se tornou inútil
contar de novo a ninguém
aquele sorriso enforcado
que durará até ao fim do mundo.



NICK CAVE & THE BAD SEEDS, 2001

Agora que Nick Cave já passou
dos quarenta ( e a nós, Rui,
pouco nos falta) nem vale a pena
reparar na dança irrequieta do violino
ou dos actorzinhos de merda
que vieram substituir os punks,
os skins, outras modas igualmente tristes.

Vinte anos depois - como tu gostas
de sublinhar -, não sabemos já o que fazer
à morte, a este inútil sobejo de vida que
deixámos de mostrar aos porteiros da noite

ou do inferno, coisas de que podemos
enfim sorrir. Mas as lágrimas, de
há vinte anos, talvez fossem preferíveis.




PINA BAUSCH, 2008


Muller,
Café Muller.

A morte sabe onde fica.



PORTISHEAD,1999

«Las rosas de papel son, en verdad,
demasiado encendidas para el pecho.»

JAIME GIL DE BIEDMA


«It could be sweet» - mas a verdade
é que nunca mais foi tão contundente
a bruma dos eléctricos no Loreto,
enquanto, pela primeira vez,
os meus braços já não queriam desistir.

Dançava até ao fim da noite nos últimos bares
e escrevia poemas sobre ti, invariavelmente:
rosas mal acesas neste peito de papel,
gestos que só o excesso e o desejo perdoavam.

Desconhecia ainda que vida, amor
ou morte são palavras insonoras,
coisas que não se dizem
mas inquinariam, tanto tempo depois,
os passos todos que não demos,
as manhãs que nos encontraram juntos.


JUKEBOX 2, de Manuel de Freitas, com uma fotografia de Inês Dias, foi composto por Paulo Araújo (Teatro de Vila Real) e impresso na Dom Texto, em Outubro de 2008, numa tiragem de 400 exemplares.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A LARANJA MECÂNICA DE STANLEY KUBRICK -1971

AS CÉLEBRES MESAS DE ALLEN JONES

Estes objectos/esculturas de Allen Jones, motivaram Stanley Kubrick para a decoração do Bar do Leite no Filme A LARANJA MECÂNICA - 1971




JEMIMA STEHLI - O AUTO-ELOGIO DO NU

A artista britânica Jemima Stehli é conhecida por batalhar contra as noções de narcisismo, usando o seu próprio corpo, nu, como arma de arremesso. Para isso , serve-se da câmara, transformando-se, ela própria, em sujeito e objecto da imagem. (...) É com estas ousadias performativas que Jemima pretende garantir uma osmose entre a escultura e a fotografia, sendo o seu corpo a base da matéria. Helmut Newton, Allen Jones e Larry Bell são algumas das influências da artista, havendo mesmo trabalhos seus que passam por aliar referências icónicas destes criadores. (...)
Texto de Daniel Faiões, Cultura e tendências urbanas
Trabalhos desta artista patentes na Galeria Lisboa 20 Arte Contemporânea, Rua Tenente Ferreira Durão, 18-B, LISBOA . Até 31 de Outubro. Das 14h./20h. Sáb. 12h./20h.





























sábado, 24 de outubro de 2009

PERDER A CABEÇA - Dois trabalhos de Graça Martins



VITÓRIA DE SAMOTRÁCIA - A minha escultura preferida está no Louvre.












Soneto de Giuseppe Gioachino Belli - Tradução de Alexandre O'Neill

LA VITA DELL'OMO

Nove mesi a la puzza: poi in fasciola
tra sbaciucchi, lattime e lagrimoni:
poi p'er laccio, in ner crino, e in vesticciola,
cor torcolo e l'imbraghe per carzoni.

Poi comincia er tormento de la scola,
l'abbeccé, le frustate, li geloni,
la rosalía, la cacca a la sediola,
e un po' de scarlattina e vormijoni.

Poi viè l'arte, er diggiuno, la fatica,
lo spedale, li debbiti, la fica,

er zol d'istate, la neve d'inverno...
per urtimo, Iddio ce' benedica,
è la morte, e finisce co l'inferno.

A VIDA DO HOMEM

Nove meses no fedor, depois nas faixas,
por entre crostas, beijocas, lagrimonas.
Depois à trela, na andadeira, em camisinha,
pára-turras na testa, cueiros por calções.


Depois começa o tormento da escola,
o á-bê-cê, a vergasta e as frieiras,
a rubéola, a caca na cagadeira
e um pouco de escarlatina e de bexigas.

Depois o ofício, o jejum, a trabalheira,
a pensão a pagar, as prisões, o governo,
o hospital, as dívidas, a crica,
o sol no verão, a neve no inverno...
E por último- e que Deus nos abençoe!-
vem a morte, e acaba no inferno.

FOTOS DE PAULO NOZOLINO

PARA SEMPRE, fotografias de PAULO NOZOLINO, fecha com um soneto de GIUSEPPE GIOACHINO BELLI, traduzido por ALEXANDRE O'NEILL, foi diagramado por PAULO DA COSTA DOMINGOS, Setembro de 1982, Lisboa





terça-feira, 20 de outubro de 2009

LINGUAS PERIGOSAS


























postagem do blogue E A Nave Vai

POEMA DE ANA LUISA AMARAL

CONSTELAÇÕES

Usamos todos a ilusão
de fabricar a vida:
história, constelações
de sons e gestos

Usamos todos a suprema glória
do amor: por generosidade
ou fantasia, ou nada, que de nada se fazem
universos

Usamos todos mil chapéus de bicos
mal recortados e de encontro
ao sol:
o nosso mais perfeito em franja e bico
e um arremedo tal e seicentista
que ofuscando-se: o sol

Usamos todos esta condição
de pó de vento, ou de rio
sem pé: único dom de fabricar o tempo
em raiz de palmeira
ou de cipreste

FOTOS DE TRACEY MOFFATT



JODIE FOSTER
Linda em qualquer idade







Postagem do blogue sobre cinema E A Nave Vai

CARTAS DE AMOR - FERNANDO PESSOA

domingo, 18 de outubro de 2009

Postagem dedicada ao Manuel de Freitas












JUKEBOXES LINDAS, E IRMÃS OU PRIMAS DA JUKEBOXE DO CAFÉ ESTÁDIO EM LISBOA








CAFÉ ESTÁDIO - DESENHO DE LUÍS HENRIQUES


POEMAS DO LIVRO ESTÁDIO - MANUEL DE FREITAS

para o Alexandre Sarrazola

Lembro-me, de repente, que já
estive em cada uma destas mesas,
com mortos e vivos que prefiro
não nomear - enquanto se apequena
(ou avoluma?) a nenhuma diferença:
mãos que nos tocaram, que apodrecem,
que brindaram e morreram.
Demasiado connosco, até nisso.

Estas mesas azuis,
tão dolorosamente concretas,
o roxo sem perdão da jukebox.
Parece, de repente, que nunca
falei de outra coisa (e aquilo
de que falei, afinal, não existe).

Vejo as sombras, os rostos
que se despedem, um a um,
da mentira de estarmos vivos.
Peço outra cerveja, inventamos
juntos uma razão para ficar.

Mas eu só gostava, no fundo, que
o inferno também fechasse às duas.

Estádio, (Janeiro-Dezembro de 2007) de Manuel de Freitas, com capa e um desenho de Luís Henriques, é uma edição dos autores composta e paginada por Pedro Serpa. Edição limitada, números assinados. Fevereiro de 2008.
Mais uma visita a Lisboa e paragem obrigatória na Rua Anchieta, Sábado de tarde.
Encontro com o Paulo da Costa Domingos na banca da FRENESI.
Atencão às raridades que pode encontrar nesta feira de livros.