terça-feira, 17 de novembro de 2009

"I dont't like Paradise - Because it's Sunday - all the time"

EMILLY DICKINSON



DOMINGO

as a tribute to J. M. M.

A água que ferve na chaleira
é um modo de vencer
a tentação, a tristeza, os licores.
É um modo diferente de perder
quando essas pequenas coisas
nos conseguem dizer que
nem o pecado deveras existe.

Mas uma tarde de domingo
será sempre uma tarde
de domingo, anedota fatídica
e insolúvel a descoser
as bainhas do tédio. Convoco
cigarros e mentiras fáceis
para não ter pena desta vida
que só por acaso é a minha.

E nisto amarelece a cidade,
o silêncio proletário
dos autocarros vazios que oficialmente
circulam pelo cancro das avenidas.
E os suplementos de semanários,
no lume estéril dos empedrados
pisados por namorados
que se chupam e que se apalpam,
com pressa de envelhecer e vocação
p'ra parir. É uma estória sem estória,
um desespero parado à procura de personagens
ou de uma razão que lhe baste.

Tudo o que da cinza já nada ficou.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

BOTEQUIM

NESTE PAÍS DE POETAS

Regressada da Capital não posso deixar de assinalar uma injustiça que presenciei e revela, mais uma vez, a forma como os criativos, escritores e artistas em geral, são tratados em Portugal. Trata-se SEMPRE de uma CENSURA, que selecciona os nomes politicamente correctos, esquecendo os mais rebeldes, aqueles que pagam com o seu perfil indomável, o avanço de um sistema social e político. Estou a referir-me à inauguração recente, antes das eleições, do Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen.
Mesmo ao lado, situa-se o prédio onde durante décadas existiu "O Botequim" da Natália Correia (abriu em 1971 e dele faziam parte, além da Natália, Isabel Meireles, Júlia Marenha e Helena Roseta). A vida literária aconteceu nesse lugar , actualmente ao abandono.Os poetas que por lá passaram, as conversas políticas que revolucionaram o país, a figura incontornável da escritora Natália Correia. Então, inauguram o Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen. Tem sentido?
Também aprecio a Sophia, mas não podia ter sido noutro Miradouro? As duas foram mulheres extraordinárias, mas a coragem de uma Natália, o percurso da sua vida, o seu discurso avançado para a época, merecia outra atenção. NÃO É JUSTO.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

PORTAS FECHADAS COMO ALGUNS CORAÇÕES NARCÍSICOS





























TISANAS - ANA HATHERLY

Ontem à noite, quando viajava de comboio adormeci e sonhei que estava no meio de um rio procurando desesperadamente atingir uma ponte romana. Mas tudo era inútil porque a água não era profunda e eu nem sequer tinha tirado os sapatos e as meias. Alguém me tinha atraiçoado, isso era certo
MÍSIA - ÚNICA NO SEU ESPLENDOR


domingo, 8 de novembro de 2009

A QUEDA DO MURO DE BERLIM

DE 8 PARA 9 DE NOVEMBRO DE 1989

FOI HÁ VINTE ANOS mas os muros interiores/mentais
continuam em metástases pelo Mundo.
























DOIS CORPOS - DOIS TEMPOS - OS ANTÚRIOS







POEMA DE JUAN LUIS PANERO

NUMA ESTAÇÃO DE MADRUGADA

Recorda-os,
antes que o álcool os leve
ou a memória os maquilhe e confunda,
antes que sejam sonhos esquecidos,
as marcas de uma pele noutra pele apagadas.

Recorda-os,
além da bruma e da noite,
sob as luzes de néon fantasmagóricas,
diante das vias de metal silencioso,
sem comboios, sem despedidas nem destino.

Recorda-os,
porque não te esperavam,
e nada te pediam, nem tu a eles também,
porque tudo era inútil, absurdo e desoportuno,
derrotada ternura e sombra da tua vida.

Recorda-os,
e beija outra vez aqueles lábios,
a sua alagada respiração, a língua surpreendida,
a sua frágil matéria húmida,
aqueles lábios que a tua boca imagina.

Recorda-os


Tradução de Joaquim Manuel Magalhães, Relógio D'Água, 2003

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

POEMA DE MANUEL DE FREITAS

NEXT TO NOTHING

Não acordei com o teu corpo,
mas com um verso
que me parece agora
o mais triste do mundo:
Le tuve tan cerca.

Foi verdade, foi tão depressa
mentira - acabarmos juntos
no último bar. Ou apertar-te
em plena desrazão os ombros,
o pescoço baixo,
a cor indecisa dos cabelos.
Enquanto se partem tão
tristes os tristes copos
que nessa noite derrubei - e eras tu.

Não sei o que te disse, que
outras partes de quem foste
toquei ou perdi. De qualquer modo,
perdi. E foi, só podia ser,
demasiado triste: dois corpos
que ninguém via desciam a rua
da Misericórdia, já perto da manhã.
Aquela nenhuma distância
não pôde ser um beijo. Apenas derrota,
ressaca, mais uma canção sem nós.

Tu não sabes - e ainda bem - que
este homem te desejou todas as noites,
até que fechasse o bar. Este homem
que não deseja e que tem,
infelizmente, um nome igual ao meu.

Da próxima vez, quero estar menos
bêbedo, saber se apanhámos
ou não o mesmo táxi. Mas
«da próxima vez» nunca existirá.

Walkmen de José Miguel Silva e Manuel de Freitas, foi composto e paginado por Olímpio Ferreira, edição & etc, Dezembro de 2007

JARDIM DO PRÍNCIPE REAL - LISBOA
















GALERIA GRAÇA BRANDÃO - LISBOA

Visita à GALERIA GRAÇA BRANDÃO e à exposição de EDGAR MARTINS

A Ordem de Convergência de Duas Trajectórias de Sistemas Opostos

As ruínas recordam-nos da materialidade muda do mundo, as coisas que em nada se importam dos nossos projectos fúteis, que em nenhum aspecto reconhecem a ordem que as nossas arquitecturas tentam impor no mundo. Na sua esmagadora maioria, elas são um dos constantes cenários da história, a partir dos quais muitos significados e representações emergiram. (...)
No entanto, é precisamente a ausência da figura humana que, nesta série, acentua uma paisagem profundamente humana, o humano como um princípio que se tivesse ausentado e que deixa um silêncio visual. (...)
Citando Ranciére mais uma vez:"o real", escreve ele, "tem de ser ficcionalizado para que possa ser pensado".
(...)
fragmento do texto que acompanha o catálogo da exposição de Edgar Martins por Peter d. Osborne.














































quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Galeria Graça.Brandão - Lisboa
Rua dos Caetanos, 26, Bairro Alto

UM ESPAÇO FABULOSO