terça-feira, 24 de novembro de 2009
domingo, 22 de novembro de 2009
Eduarda Chiote
Entrevista - Eduarda Chiote ou a Literatura como um Acto de Autopunição
http://isabeldesaescritora.blogspot.com/
sábado, 21 de novembro de 2009
POEMAS DE SAFO
longamente te invoquei na minha solidão:
ajuda-me, déspota, que estou perdida;
a morte não chega e nada me consola.
Quero morrer, quero ver as orvalhadas
flores de loto nas margens do Aqueronte...
...porque a quem fiz tanto bem,
sobretudo esses me fizeram mal.
Nem eu sei que fazer: o pensamento dividido.
Vieste finalmente. Eu não podia mais.
Ao meu coração ardido o desejo voltou.
Abençoada sejas muitas vezes, tantas
quantos os dias que nos separaram.
Se ela te foge, seguir-te-á não tarda;
se o que lhe dás recusa, em breve será ela
a dar; se te não ama, sem saber como,
virá a amar-te.»
Oh vem, vem agora e liberta-me desta
angústia mortal! O que meu coração
tanto deseja, faz que aconteça. Vem,
ajuda-me a lutar!
Deixa-te estar de pé e face a face amigo,
desvenda a tua graça aos nossos olhos.
Quando o sono de uma noite inteira
cai sobre os olhos...
Ah, pudesses tu dormir
nos braços da mais terna amiga...
...porque o pranto na casa de um poeta
não é permitido, nem isso convém.
Safo
Poemas e Fragmentos de Safo, tradução de Eugénio de Andrade, limiar, 1974
APOLO - DEUS DOS JOVENS RAPAZES
A partir do século III também foi identificado com Hélios, deus do sol, pois era antes o deus da luz, e por paralelismo a sua irmã foi identificada com Diana, a deusa da lua/deusa da caça. Mais tarde ainda, foi conhecido principalmente como uma divindade solar.
Recebendo de Hermes a lira, firmou a sua posição como o deus da Música. Finalmente, Apolo é o deus dos jovens rapazes, ajudando na transição para a idade adulta, sendo os rapazes que o acompanhavam "alunos" do deus na prática da pederastia. Assim, ele é sempre representado como um jovem, frequentemente nu, para simbolizar a pureza e a perfeição.
Apolo representa a harmonia, a moderação, a ordem e a razão, em contraste complementar a Dionísio, o deus do êxtase e da desordem.
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
À HORA DO ALMOÇO, ENQUANTO TOMAVA CAFÉ E LIA UM JORNAL DIÁRIO
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE INVEJA E GRATIDÃO - MELANIE KLEIN
Melanie Klein (1882-1960), uma psicanalista que trabalhou com crianças através da técnica dos brinquedos, explorando o inconsciente.
Melaine Klein começou a trabalhar com a psicanálise infantil na década de 20, lançando uma nova luz sobre o seu desenvolvimento.
Freud relatava que todos os problemas se originam na infância, mas a psicanalista Melanie Klein, sua aluna e discípula, foi a primeira a realizar, estudos com crianças.
Ela desenvolveu a técnica de brincar, inspirada nas observações de Freud sobre o brincar da criança com carrinhos.
Melanie percebeu que isso representava simbolicamente as ansiedades e fantasias infantis. Assim, tratou os seus pequenos pacientes na sala de recreio, e foi lá que descobriu o caminho para o inconsciente da criança.
Austríaca, mas famosa como psicanalista britânica, Klein exerceu a sua profissão em Londres e até hoje os seus trabalhos permanecem actuais e fundamentais nos diagnósticos e tratamentos tanto para crianças como para adultos.
Em janeiro de 1929, começou a tratar de uma criança autista de quatro anos, filho de um dos seus colegas da BPS, à qual deu o nome de Dick. Logo percebeu que ele apresentava sintomas que ela nunca havia encontrado. Não expressava nenhuma emoção, nenhum apego, e não se interessava pelos brinquedos. Para entrar em contacto com ele, colocou dois comboios lado a lado e designou o maior como “comboio pai” e o menor como “comboio Dick”. Dick fez o comboio com o seu nome andar e disse a Melanie: “Corta!”. Ela desengatou o vagão de carvão e o menino guardou então o brinquedo quebrado numa gaveta, exclamando : “Acabou!”.
A história desse caso tornar-se-ia célebre, por mostrar como alguns psicanalistas não conseguem dar aos filhos o amor que esperam deles.
Dick continuou a análise com Melanie Klein até 1946, com uma interrupção durante a Segunda Guerra Mundial.
Quando Phyllis Grosskurth se encontrou com ela, então com cerca de 50 anos, não tinha mais nada a ver com o menino fechado de outrora. Era até francamente tagarela.
Em 1995, Melanie Klein, que nada perdera do seu dinamismo e da sua agressividade, interveio de maneira esmagadora no Congresso da IPA em Genebra, apresentando uma comunicação intitulada “Um estudo sobre a inveja e a gratidão”, na qual desenvolvia o conceito de inveja, que articulava com uma extensão da pulsão de morte, à qual dava um fundamento constitucional. Ao fazer isso, reatava com aquele que sempre considerara o seu mestre, Karl Abraham.
Diferentemente de Ana Freud, Melanie Klein considerava o brincar como um material susceptível de interpretação no quadro da situação transferencial. As brincadeiras eram a seu ver equivalentes às fantasias, dando acesso à sexualidade infantil e à agressividade: em torno delas podia instaurar-se uma relação transferencial e contra-trasferencial entre a criança e o analista.
Melanie Klein conferiu lugar capital à pulsão de morte, conceito que no entanto estava longe de gozar de unanimidade no seio do mundo psicanalítico. Radicalizando a posição de Freud, fez da angústia a consequência directa da acção da pulsão de morte no seio do organismo. Essas considerações estavam também presentes na sua concepção das fases ou posições por que a criança passava: a posição esquizo-paranóide, que traduziria o modo de relação dos quatro primeiros meses da existência, seria caracterizada por uma união entre as pulsões sexuais e as pulsões agressivas, por um objecto vivido como parcial e clivado em “bom” (gratificante) e “mau” (frustrante). “Na posição paranóide-esquizóide” , escreve Hana Segal, “a angústia dominante provém do temor de que o objecto ou os objectos persecutórios penetrem no eu, esmagando ou aniquilando o objecto ideal e o “self”. Dois mecanismos psíquicos seriam dominantes nessa fase: a introjecção e a projecção. Instalando-se por volta dos quatro meses, a posição depressiva dá lugar à posição paranóide, sendo por sua vez superada por volta do final do primeiro ano. O objecto já não é parcial, podendo ser apreendido pela criança como total, a clivagem “bom”-“mau” já não é tão categórica como outrora, a angústia é de natureza depressiva e está ligada ao temor de perder e de destruir a mãe. Em face de suas angústias, a criança desenvolve vários tipos de defesa e de actividades reparadoras, que constituem a primeira fonte da criatividade e da sublimação. A posição esquizo-paranóide e a posição depressiva voltam a estar presentes posteriormente na vida, em especial no adulto acometido de paranóia, de esquizofrenia ou de estados depressivos.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
THREE ILLUSIONS -PEDRO AYRES MAGALHÃES
A perfect and good feeling
Once lived in me
There's never been such a love
But the end
Arrived
The wind did a strange favor
The wind that time forgot
So come from faraway to listen
Because I Il'be singing high
Oh yes, I've already seen
Wat my Fate wil be
GUILT
-Oh Guilt, I don't want you to follow me!
-Swear, you'Il allow me to decide!
-Do you accept or not, that it is never too late.
-Do you accept or not that I will come back?
Perhaps, perhaps
tomorrow is going to bring me more, but I don't know,
perhaps, slowly,
I will return to the sorrow, I've just left.
BITTERNESS
Bitterness, relaxed and sad
-Does it seem that I'm distant or in fear?
It's almost certain
That nothing exist:
Nothing is close to me.
Neither am I sad.
Dois poemas de MANUEL DE FREITAS - Os Infernos Artificiais - frenesi, 2001
«Home is so sad.»
Philip Larkin
Amanhece, como um parto inútil e reticente.
Suponhamos que estou vivo, na casa
tão branca e vazia, com este corpo em trespasse
-quase meu. O irritante chlireio dos pássaros
poderia ter um encanto anacrónico, se acaso o tivesse.
Mas mesmo ele será daqui a pouco sufocado
pelo ruído do primeiro avião
que passará rasante vindo de longes terras
onde se é mais feliz por delegação.
Saúdo a manhã como quem dispensava vê-la,
copo de whisky barato na mão
para tentar tornar menos barata
a literatura vã que daqui possa sair.
A pouco e pouco, o flagelo da luz
conquista a casa e reaparecem
os nomes dos livros, os cinzeiros cheios,
a mágoa insuportavelmente banal
de mais um dia que começa e que não será
talvez o último - embora estatísticas
várias comprovem que a morte existe
(são poucos é os que se apercebem disso).
A noite passou, sem sono nem alegria.
E eu esqueci-me de lavar a louça
e de encontrar um sentido para a vida
(truque poético bastante conhecido).
O amor não bateu à porta com as suas mãos
frágeis e desonestas, nenhum amigo
- desses que não tenho - quis ludibriar
a sua solidão bebendo um copo comigo.
Limitei-me a folhear alguns livros,
com o cansaço prévio de saber
que os vou ler. Pus em dia a correspondência
cada vez mais escassa, ofício de afectos
fingidos, calculados silêncios, fórmulas
feitas. E ouvi música desolada, que
é a parte de Deus que melhor conheço.
Fiz não o que pude, mas aquilo
que me permitiu o fluente nada dos gestos.
A claridade é agora fulminante e eu
não tive nenhum êxtase místico,
coisa tão decorativa em esgares, não
deparei com nenhum programa social
que me parecesse exequível, não
aderi a qualquer crença política
para enfim conhecer Bruxelas.
Não me lembrei de nada que valesse a pena.
Fiquei em casa sozinho, no renovado
esforço de não reparar em como
é fétido tudo. E embebedei-me,
como sempre faço quando me sinto
sentir (o que por azar é frequente).
Não fechei as janelas, deixei a luz corromper-me.
Há talvez uma harmonia bizarra
no modo como o pó assenta nos móveis,
uma razão insondável para as nuvens
que conspurcam o vazio céu,
um motivo confrangedor para eu respirar
ainda, sem jeito para a morte.
Não sei. Vivi mais um dia, inglório
como os que já foram, fútil como os que virão.
Acariciei o vazio com mãos de seda quebradas
e não me queixei nem sorri
(de resto, porque haveria de o fazer?).
Outro avião passou, trazendo ou levando
pessoas que é suposto terem alma,
essa indefinível e funesta coisa
sem a qual este poema desabaria
antes mesmo de se ter começado. Pouco
se perderia, aliás, pois não é nas palavras
que o que se perde regressa alguma vez.
Sucessivos malogros, interstícios vagos
do que nunca poderá ser
ou se dissipou em remorso e ausência.
A vista sobre Monsanto é agora quase bela,
mas não me lembro de ter sido feliz
(há ainda obscenidades que desconheço).
O sol passeia-se sobre todos os telhados
que daqui se lobrigam e eu perscruto atento
a dor que há nisso e em tudo.
Não dormi, estou até demasiado desperto,
a olhar para mim sem me ver. é curioso,
ou chega quase a sê-lo: são precisos
mais de vinte cigarros e uma garrafa inteira
de whisky para escrever um poema
que de sublime terá a intenção - ou nem isso.
A morte pode esperar,
hei-de estar lá a horas, finalmente anónimo,
capaz de desfrutar a mais ampla morada,
a mais verdadeira e total.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
EMILLY DICKINSON
DOMINGO
as a tribute to J. M. M.
A água que ferve na chaleira
é um modo de vencer
a tentação, a tristeza, os licores.
É um modo diferente de perder
quando essas pequenas coisas
nos conseguem dizer que
nem o pecado deveras existe.
Mas uma tarde de domingo
será sempre uma tarde
de domingo, anedota fatídica
e insolúvel a descoser
as bainhas do tédio. Convoco
cigarros e mentiras fáceis
para não ter pena desta vida
que só por acaso é a minha.
E nisto amarelece a cidade,
o silêncio proletário
dos autocarros vazios que oficialmente
circulam pelo cancro das avenidas.
E os suplementos de semanários,
no lume estéril dos empedrados
pisados por namorados
que se chupam e que se apalpam,
com pressa de envelhecer e vocação
p'ra parir. É uma estória sem estória,
um desespero parado à procura de personagens
ou de uma razão que lhe baste.
Tudo o que da cinza já nada ficou.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
NESTE PAÍS DE POETAS
Mesmo ao lado, situa-se o prédio onde durante décadas existiu "O Botequim" da Natália Correia (abriu em 1971 e dele faziam parte, além da Natália, Isabel Meireles, Júlia Marenha e Helena Roseta). A vida literária aconteceu nesse lugar , actualmente ao abandono.Os poetas que por lá passaram, as conversas políticas que revolucionaram o país, a figura incontornável da escritora Natália Correia. Então, inauguram o Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen. Tem sentido?
Também aprecio a Sophia, mas não podia ter sido noutro Miradouro? As duas foram mulheres extraordinárias, mas a coragem de uma Natália, o percurso da sua vida, o seu discurso avançado para a época, merecia outra atenção. NÃO É JUSTO.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
TISANAS - ANA HATHERLY
domingo, 8 de novembro de 2009
A QUEDA DO MURO DE BERLIM
POEMA DE JUAN LUIS PANERO
Recorda-os,
antes que o álcool os leve
ou a memória os maquilhe e confunda,
antes que sejam sonhos esquecidos,
as marcas de uma pele noutra pele apagadas.
Recorda-os,
além da bruma e da noite,
sob as luzes de néon fantasmagóricas,
diante das vias de metal silencioso,
sem comboios, sem despedidas nem destino.
Recorda-os,
porque não te esperavam,
e nada te pediam, nem tu a eles também,
porque tudo era inútil, absurdo e desoportuno,
derrotada ternura e sombra da tua vida.
Recorda-os,
e beija outra vez aqueles lábios,
a sua alagada respiração, a língua surpreendida,
a sua frágil matéria húmida,
aqueles lábios que a tua boca imagina.
Recorda-os
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães, Relógio D'Água, 2003
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
POEMA DE MANUEL DE FREITAS
Não acordei com o teu corpo,
mas com um verso
que me parece agora
o mais triste do mundo:
Le tuve tan cerca.
Foi verdade, foi tão depressa
mentira - acabarmos juntos
no último bar. Ou apertar-te
em plena desrazão os ombros,
o pescoço baixo,
a cor indecisa dos cabelos.
Enquanto se partem tão
tristes os tristes copos
que nessa noite derrubei - e eras tu.
Não sei o que te disse, que
outras partes de quem foste
toquei ou perdi. De qualquer modo,
perdi. E foi, só podia ser,
demasiado triste: dois corpos
que ninguém via desciam a rua
da Misericórdia, já perto da manhã.
Aquela nenhuma distância
não pôde ser um beijo. Apenas derrota,
ressaca, mais uma canção sem nós.
Tu não sabes - e ainda bem - que
este homem te desejou todas as noites,
até que fechasse o bar. Este homem
que não deseja e que tem,
infelizmente, um nome igual ao meu.
Da próxima vez, quero estar menos
bêbedo, saber se apanhámos
ou não o mesmo táxi. Mas
«da próxima vez» nunca existirá.
Walkmen de José Miguel Silva e Manuel de Freitas, foi composto e paginado por Olímpio Ferreira, edição & etc, Dezembro de 2007