segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

EGON SCHIELE


Poema de RUI PIRES CABRAL

SHIRLEY ANN EALES (2005)


Na vitrina lê-se Livros Raros
e Usados sob o azul inclinado
de um toldo – mesmo em frente
à glacial cafetaria de franchise
onde o dia destrata o desejo
e não se pode fumar. Subo
aos pequenos gabinetes
mergulhados no doce bafio
da literatura e percorro de A
a Z as espinhas estreitas


e rachadas da poesia. É o sítio
mais vazio de Novembro
e o que mais me reconforta;
o livro que escolho, por metade
de uma libra, traz no frontispício
um nome e uma morada: Shirley Ann
Eales, de Scottsville – um sumido
autógrafo de maiúsculas magras
e triangulares onde a imaginação
encontra por enquanto pretexto


e oxigénio suficientes para arder.
O livro teve outra existência,
pertenceu a outra casa, a outra mesa
de cabeceira – e o pensamento,
de tão óbvio, conjura de repente
uma vertigem, é um corredor
abrupto para a imensidão do mundo
onde trafica o acaso. Ah, sabemos
que a vida é improvável se damos
por nós a cismar, a meio de uma tarde


insípida, numa mulher desconhecida
que lia poemas em Scottsville, nos anos
70. Mas haverá aqui alguma espécie
de sentido, algum sinal guardado
para alguém mais sábio ou inocente
do que eu? Não sei quem és
nem onde estás agora, Shirley Ann,
mas como seria belo se pudesses
um dia encontrar, por obra da mesma
sorte, o teu nome nestes versos.

LONGE DA ALDEIA, 2005

sábado, 16 de janeiro de 2010

DREAM BROTHER MY KILLER MY LOVER - PINTURA DE GRAÇA MARTINS


DOIS POEMAS DE JOÃO BORGES

TRAVESSA DO CORONEL PACHECO


Da janela de guilhotina

vêem-se os telhados,

as varandas abertas

anunciam a casa perfeita

da família-modelo.

Do lado de cá, é

um quarto de pensão.

Sem artifícios, luz fraca,

pouca mobília.

Podia ficar a viver aqui.

A colcha enrodilhada da

cama quase guarda a

forma dos nossos corpos.

Algumas manchas de esperma

secam enquanto eu vagueio

nu pelo quarto. Lentamente

tudo se esquece que estivemos

aqui. As vozes das pessoas

lá em baixo

chegam em tempo real a esta morte.

Partiste para os teus

afazeres, mas eu demoro-me

um pouco mais. Demoro-me

sempre. O vento agita as

cortinas e gela-me.

Na varanda em frente,

uma menina corre provavelmente

para dizer à mãe que está

ali um homem nu.




O homem nu está morto.

E tu combinaste um encontro

para esta noite, neste quarto,

com o homem nu.



Talvez realmente nos encontremos

e de novo as tuas mãos

não se amedrontem ante o

frio da minha pele.

Um cheiro íntimo teu

nas pontas dos meus dedos

diz que já uma vez

não tiveste medo.



Vou sair. Vou percorrer

o Porto desconcentrado do nosso

potencial encontro. Amar a chuva

como se ama um rosto beijado

pela boca ardente,

sedenta de alegria viva.

Não quero que me relembres,

tu que aprecias um bom drama,

que amanhã logo de manhã

nos despedimos até mais ver.

Vou percorrer a cidade

fixo no infinito.

O teu corpo destruído por dentro

mas suave ao toque

não mais será que uma memória.

Vou percorrer a cidade

nu e morto. Serei feliz

e eterno. Porque ninguém nos rouba

a nudez nem a morte.



Afinal a carta

não veio.



As trevas tomavam

cada vez mais o coração.

As palavras eram parcas

e não poderiam

mudar nada do que

aconteceu.

A tristeza vem.



O tempo passará

sobre o sepulcro em que

deixámos cada beijo

de cada abraço.

A escuridão substitui

a dor.

E o abandono vem.



Ao sentar-me no café

relembro a última vez que

te vi. Foi aqui. O teu rosto alternava

entre a alegria de me reencontrar

e o abismo que a tua vida

sempre foi.

E a memória vem.



Eu olhava-te ainda

com o afecto confuso de sempre.

Que agora se mudou.

E o ódio vem.



O empregado entra com os

sacos do talho, carne crua

e ensanguentada, apertada

dentro do plástico como se

quisesse rompê-lo.

É um vislumbre tão nítido

do meu coração.

E a ameaça vem.



E neste café onde estivemos

a última vez antes do ódio,

a carne será confeccionada,

destruída.

E a morte vem.


MARIA GABRIELA LLANSOL - Abri a porta da casa de escrever...voz de João Barrento

Fragmentos dos cadernos inéditos de MARIA GABRIELA LLANSOL - lidos por João Barrento

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

BARBIES de ISABEL DE SÁ

DON'T SPEAK - DON'T WALK




13 DE JANEIRO DE 2010 - 35 ANOS DEPOIS - no mesmo PARQUE EDUARDO VII - Lisboa

A 1ªMANIFESTAÇÃO FEMINISTA -A SEGUIR AO 25 DE ABRIL E CRITICADA PELAS ORGANIZAÇÕES DE ESQUERDA DA ALTURA - DESDE OS MILITANTES DO PCP AOS MAOISTAS, TROTSKISTAS E OUTROS.
Para os ESQUERDISTAS - as FEMINISTAS eram um grupo de BURGUESAS. Os esquerdistas afirmavam que, numa sociedade SOCIALISTA - a igualdade entre homens e mulheres seria perfeita, não haveria lugar para a DISCRIMINAÇÃO, nem para a homossexualidade.
COMO ERAM LÍRICOS E INFANTIS. Agora são os grupos de esquerda que se manifestam por estes valores. ONDE ESTÁ A COERÊNCIA? Em todas as mulheres, que sempre lutaram pelo direito a ter VOZ, IDENTIDADE, e não TROCARAM de discurso. A DISCRIMINAÇÃO CONTINUA A EXISTIR E VAI CONTINUAR. O FEMINISMO está VIVO. A REALIDADE REVELA a DESIGUALDADE.
visitar o CIBERESCRITAS para mais informação sobre este acontecimento ÚNICO

35 Anos depois - Recordação da 1ª manifestação do MLM - A casa onde existia o andar da Maria Helena Barbosa (Milena) - na qual estive algumas vezes

EU ESTIVE LÁ - MLM - MOVIMENTO DE LIBERTAÇAO DAS MULHERES - FOI UM DIA INESQUECÍVEL- O MACHISMO DOS HOMENS INDIGNADOS COM A ATITUDE DAS MULHERES.

MORREU O CINEASTA ERIC ROHMER - MAIS UMA ESTRELA QUE SE APAGOU

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

BUSCAR CONSOLO NA CRUELDADE

Se todo o poema tem de ser cruel e se a poesia oferece consolo, talvez seja legítimo pensar que a crueldade nos consola. Ou talvez a crueldade esteja no exercício do esquecimento que todo o poema é. Ainda que a memória possa ser o magma, o esquecimento é o que resulta da manipulação do magma. Já dizia Ruy Belo, «esquecer é para mim morrer um pouco, antecipar um regresso definitivo à terra». E a paz está, precisamente, nessa antecipação. Morrer aos poucos em vida, para morrer em paz com a morte definitiva.

Postagem de HMBF editada na Antologia do Esquecimento

Desenho a lápis - Valores de claro / escuro - Fase dos pijamas - Anos 80 e 90 - Graça Martins









domingo, 10 de janeiro de 2010

40 CIDADES EUROPEIAS NESTE DOMINGO, NO METRO, SEM CALÇAS - A VIDA NÃO É TÃO IGUAL COMO ALGUNS PENSAM. QUEBRAR A ROTINA E RIR É SAUDÁVEL

O PRECONCEITO CONTINUA NO SÉCULO XXI E de que maneira ... É tudo tão lento, e o desejo não acerta o passo com as leis dos homens. FELIZMENTE
A paixão revela sempre sinais de rebeldia. Instala-se sem consultar o BI ou a diferença de sexos. - PERTURBA A INSTITUIÇÃO.
«O primeiro-ministro irlandês, Peter Robinson, foi ontem à televisão explicar-se pelo caso amoroso da sua mulher, Iris, com um rapaz 40 anos mais novo. A Sr. ª Rodrigues - Mrs. Robinson, se lhe quisermos cantar o nome - um jovenzinho com ... Dantes os líderes heróis sonhavam com (o general Patton Julgava-se uma reencarnação de Júlio César); agora os filmes líderes rebobinam. Quando Peter Robinson e a mulher se casaram, era um dos êxitos The Graduate, uma história de um jovem estudante (Dustin Hoffman, o que mostra que foi ao tempo) que vai para a cama com uma entradota Sr. ª Robinson. Bom filme e melhor ainda a música, um célebre Mrs. Robinson, de Simon & Garfunkel. (...) »[Diário de Notícias]

A FAMOSA CANÇÃO - Msr. ROBINSON - SIMON AND GARFUNKEL

THE GRADUATE - UM FILME INESQUECÍVEL - Dustin Offman e Anne Brancoft

FRENESI - ATENÇÃO LEITORES - NOVO ESPAÇO NA WEB

Estimados amigos, leitores e colegas de edição, o ano que agora se inicia traz, desde já, uma novidade seguinte: um FRENESI LOJA, Linha electrónica aberta às vossas compras de livros raros, antigos e modernos ... Livros que, por não se encontrarem nas mercearias livreiras que hoje abastecem o mercado, e não sendo em nada menos merecedores de atenção cultural, continuamos nós a procurar por feiras, leilões e em declínio bibliotecas, a fim de os tornarmos disponíveis a leitores Interessados. Trata-se de levar oxigénio ao Bicho do papel.Os preços ... Bom, os preços são o que são, determina-os o custo de cada busca e Respectivo valor de aquisição ... E não são, seguramente, exagerados se se tiver em conta o que se gasta em cervejas (e no resto ...) numa noite de Estroina! Dá para dizer: no intervalo da bebida cultivem-se!, Comecem já a vossa formar um biblioteca ideal.
Para ir recebendo a nossa montra de livros actualizada envie-nos o seu e-mail para um
frenesilivros@yahoo.com


Postagem de Paulo da Costa Domingos - Frenesi

sábado, 9 de janeiro de 2010

SANGRAMENTO - Joaquim Manuel Magalhães

(...)
Melhor seria que não me lessem nunca
os que por costume lêem poesia.
Muito além deles conseguir falar
ao que chega a casa e prefere o álcool,
a música de acaso, a sombra de alguém
com o silêncio das situações ajustadas.


Não ser lido por quem lê. Somente
pelos que procuram qualquer coisa
rugosa e rápida a caminho de uma revista
onde fotografaram todo o ludíbrio da felicidade.
Que um poema meu lhes pudesse entregar,
ademais da morte,
um alívio igual ao de atirar os sapatos
que tanto apertam os pés desencaminhados.


Mais do que tudo é isso que lhes quero
na confusão destas palavras atingidas
pelo contrário do que lhes entrego.
Pode até haver crianças, brinquedos espalhados,
o cheiro da comida, todas essas coisas de que fujo,
mas que me lessem sem pensar
na armadilha de palavras assim.


Alguém que me visitasse só
com o que ficou para trás nesse dia,
antes de pôr o vídeo com que vai tentar
esquecer o peso do princípio da noite,
as horas depois do emprego e do jantar,
antes do sono que tantas vezes é
um fechamento de desconsolo.


Estrelas cadentes, outras e outras
no dia? na noite tão curta? decepadas
e enaltecidas por entre o ladrar
de um cão que na distância
responde a outro cão.


ALTA NOITE EM ALTA FRAGA, Relógio D'Água, 2001

Simon and Garfunkel - Bridge Over Troubled Water

SWEET


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

ACERTAR O PASSO

O Parlamento aprovou hoje, com os votos do PS, BE, PCP e Verdes, o projecto de lei do governo que permitirá o casamento entre pessoas do mesmo sexo. As propostas do BE e dos Verdes, ambas prevendo a possibilidade de adopção por parte de casais homossexuais, foram chumbadas. Também chumbada foi a proposta do PSD de instituir uniões civis registadas. A petição popular, da PCC, visando um referendo, foi rejeitada.(...)

postagem do blog http://daliteratura.blogspot.com/


8 DE JANEIRO DE 2010 - A HISTÓRIA DE PORTUGAL A SAIR DO OBSCURANTISMO


O CASAMENTO GAY ACABA DE SER APROVADO COM MAIORIA NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA






terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Poema de LEWIS CARROLL

ACERTE OU ERRE
(Pares de premissas em busca de conclusões)

Nenhum careca necessita pente;
Nenhum lagarto tem cabelo.

Alfinetes não são ambiciosos;
Agulhas não são alfinetes.

Algumas ostras estão caladas;
Pessoas caladas não são divertidas.

Rãs não escrevem livros;
Algumas pessoas usam tinta para escrever livros.

Certas montanhas são intransponíveis;
Todos os estilos podem ser transponíveis.

Nenhuma lagosta é insensata;
Nenhuma pessoa sensata espera impossibilidades.

Nenhum fóssil pode ser em amor cruzado;
Uma ostra pode ser em amor cruzada.

Um homem prudente evita hienas;
Nenhum banqueiro é imprudente.

Nenhum sovina é altruísta;
Só os sovinas guardam cascas de ovo.

Nenhum militar escreve poesia;
Nenhum general é civil.

Todas as corujas são satisfatórias;
Certas desculpas são insatisfatórias.

Tradução: José Lino Grünewald

Projecto Alice de João Concha




Anna Mouglalis é protagonista de "Coco Chanel & Igor Stravinsky". Actriz assume a figura da lendária estilista na história dos seus amores pelo compositor.

PORTISHEAD -Requiem for ANNA

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O CINEMA DE FASSBINDER - QUERELLE - a partir do romance de JEAN GENET

QUERELLE

O CINEMA DE FASSBINDER - As Lágrimas Amargas de Petra von Kant


2010
ANO NOVO
VIDA NOVA
Acreditar que virá a Primavera e tudo será diferente. A paixão pela beleza, pelos cheiros, pelo ar que se respira.
VAI ACONTECER NOVAMENTE

A SENSUALIDADE DE SADE EM DUAS CANÇÕES FABULOSAS - Cherish the Day e Smooth Operator

SADE - Smooth Operator - DIAMOND LIFE LOVER BOY

Mário de Sá-Carneiro

Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

QUANDO O CUPIDO NÃO ACERTA...




POEMA DE MARIA TERESA HORTA

Morrer de Amor

Morrer de amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
a pele do sorriso

Sufocar de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso.

SILÊNCIO...


QUE LINDOS CUPIDOS...




CUPIDO






OS LAMENTOS DA PAIXÃO NA MÚSICA ERUDITA OU LIGEIRA

OS LAMENTOS DA PAIXÃO NA MÚSICA ERUDITA OU LIGEIRA

Depois da minha postagem sobre as relações amorosas, QUE TERMINAM EM TRAGÉDIA, aqui ficam algumas músicas que aprecio e nos falam da ilusão da paixão e dos amores difíceis.
(...)
Como podemos nós definir a paixão? Qual a característica substancial que a torna reconhecível? Resultará de um simples ingrediente sexual desenfreado? Claro que não, porque existem paixões platónicas como os amores galantes dos trovadores, a Beatriz de Dante. Melhor será dizer que a essência do passional resulta do alheamento que ele próprio produz: o apaixonado sai de si próprio para se perder no outro ou, melhor dizendo, naquilo que imagina ser o outro. Porque a paixão, e este é o segundo traço fundamental que a caracteriza, é uma espécie de sonho que se deteriora no contacto com a realidade. Talvez seja por isso que, como terceira e necessária condição, a paixão parece exigir, quase sempre, a frustração, a impossibilidade de uma plena realização. (...)
O amor é representado em todas as culturas com os mesmos símbolos: arcos, flechas, olhos vendados, tochas a arder que inflamam os corações dos mortais. Normalmente é apresentado nu e com corpo de criança: porque é uma emoção que não se pode ocultar e porque permanece igual a si própria. A paixão nunca aprende: é sempre idêntica, eternamente jovem, intacta, irreflectida. «Mas como é possível que volte a fazer, nas mesmas ocasiões, as mesmas loucuras?», geme a razão, espantada, quando passamos horas à espera de um telefonema que nunca chega. «Será que não aprendo?» queixa-se o amante que sofre. E tem razão, porque o amor mantém-se impermeável à experiência.
Rosa Montero, Paixões, Editorial Presença, 2000

FARINELLI -LASCIA CHIO PIANGA MIA CRUDA SORTE - HANDEL

ANNE SOFIE VON OTTER - LASCIATEMI MORIRE - MONTEVERDI

CAETANO VELOSO - NÃO ENCHE

MAYSA - MEU MUDO CAIU

PLACEBO - BATTLE FOR THE SUN - DREAM BROTHER MY KILLER MY LOVER

ADRIANA CALCANHOTO - DEVOLVA-ME

BILLIE HOLIDAY - THE MAN I LOVE

BILLIE HOLIDAY - I'M A FOOL TO WANT YOU

DIANA KRALL - LOOK OF LOVE

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009


O coração tem razões que a própria razão desconhece. Com a leitura de Paixões – Amores e Desamores que Mudaram a História, pode-se dizer que o amor e o ódio, querendo ou não, são os combustíveis de todos nós, dos mais nobres aos mais vagabundos dos corações. Amar ou não Amar, eis a questão my friend Sheakspeare.

PAIXÕES - ROSA MONTERO

Alguns dos pares famosos analisados por Rosa Montero - Tolstói e Sônia, Oscar Wilde e Sir Douglas, Verlaine e Rimbaud, Joana e Filipe.

TOLSTOI e SÓNIA


LEON E SÓNIA TOLSTOI
Escritor famoso, autor de Guerra e Paz e Ana Karenina, Leon viveu mais em guerra do que em paz com a sua mulher. Tinha 34 anos quando se casou com Sónia, de 18, numa cerimónia feita à pressa. Tolstoi sempre foi terrivelmente contraditório: anjo e fera, génio e miserável. Era bissexual e bebia muito. Até se casar, contraiu doenças venéreas de várias mulheres de vida fácil, amava platonicamente alguns homens e manteve uma tórrida relação com uma das suas camponesas, mulher casada com a qual teve um filho. Entre o noivado e o casório passaram-se apenas sete dias. No decorrer dessa mesma semana Tolstoi teve a cruel e original idéia de que a noiva lesse todos os seus diários íntimos, para saber com quem estava a casar-se. E a pobre Sónia, ainda uma menina, teve que engolir as escabrosas revelações de um senhor de 34 anos que mal conhecia. Ficou horrorizada. Após o casamento, foram morar em dois pavilhões apertados, imundos e escuros, sem tapetes, invadidos por ratos e com o jardim devorado pelas ervas daninhas. As dívidas de jogo de Leon haviam consumido a bela mansão de 36 quartos.
Sónia ficou grávida 16 vezes, sofreu três abortos e quatro dos 13 filhos que teve, morreram. Viveu o inferno do tolstoísmo. Aos 49 anos, Tolstoi mergulhou numa profunda crise de depressão. Tinha idéias suicidas e não via sentido na existência; até que decidiu criar uma nova religião, o tolstoísmo, e tornou-se uma espécie de guru pregando coisas como a abstinência sexual. Tudo adubado por furiosos sermões e iradas censuras, porque Tolstói transformou-se num fanático intolerante que imputava aos outros (sobretudo à mulher) as suas próprias falhas. Sónia enfrentou ainda o discípulo Chértkov que teve Tolstoi nos braços no leito de morte.
Por mais de duas décadas a mulher de Tolstoi tentou pôr ordem e sensatez no delírio: "O meu marido deixou absolutamente tudo sobre as minhas costas", escreveu lucidamente no seu diário, os filhos, a fazenda, a casa, os seus livros, os problemas económicos, o contacto com as pessoas e com os editores, e depois, com uma indiferença egoísta e críticas, despreza-me por eu fazer tudo isso. Mas, se o louco não era tido como tal, então ela, Sónia, o que era? Pouco a pouco foi perdendo a noção do real. Se o louco não estava louco, então a louca era ela.
Sónia perde a razão e entrega-se a comportamentos histéricos e paranoicos. Durante as várias crises, atirou-se para uma represa gelada, tentar atirar-se a um poço e golpear o próprio peito com um martelo. A sanidade só voltou com a morte do marido. Sónia administrou as propriedades da família, começou a escrever as suas memórias e visitava todos os dias o túmulo do marido, onde depositava flores até à sua morte.

OSCAR WILDE E SIR DOUGLAS


OSCAR WILDE E LORDE ALFRED DOUGLAS
A decadência na vida do escritor inglês Oscar Wilde foi resultado da sua obsessão pelo lorde Alfred Douglas, um jovem de 21 anos ''maldoso, egoísta, vaidoso, frívolo e violento'' que levou Wilde, então com 37 anos, a um mundo de chantagistas. Bosie, como Douglas era chamado por todos, usou o amante na sua luta pessoal contra o pai. Numa briga judicial, Wilde terminou preso e com os bens expropriados - e socialmente desmoralizado até morrer, aos 46 anos
Antes de ceder à homossexualidade e terminar a vida com uma paixão decadente, Oscar Wilde teve algumas namoradas e casou-se, aos 29 anos, com Constance Lloyd, ''uma mulher bonita, inteligente e leal, três anos mais nova que ele''. Segundo testemunhos, no começo de seu casamento Wilde estava muito apaixonado. ''Devia sentir-se feliz ao imaginar-se curado da sua homossexualidade: a vida era muito mais confortável na ortodoxia.'' Teve dois filhos com Constance, mas ''a mulher-mãe" transformou-se para ele num objecto sexual impossível de suportar: "Quando casei, a minha esposa era uma rapariga bonita, branca e esbelta como um lírio. (...) Depois de um ano, transformou-se numa coisa pesada e disforme (...) com seu espantoso corpo inchado e doente por culpa do nosso acto de amor.''' No entanto, sempre se trataram bem e mantiveram-se unidos. Três anos depois do casamento, Robert Ross, um rapaz de 17 anos e já experiente nesses assuntos, seduziu Wilde, então com 32 anos e levou-o para a cama. ''Enquanto o sexo com as mulheres lhe parecia sujo, o amor viril encerrava para Wilde toda a beleza, a espiritualidade e a transcendência.''.
Passada a paixão inicial, o encantador Ross tornou-se o seu melhor amigo (...) A partir de 1891, estreou em Londres quatro peças de teatro com crescente sucesso, até chegar ao triunfo total da sua última comédia, "A importância de ser Ernesto". Essa obra estreou em 1895 e recebeu críticas fabulosas; três meses depois, Wilde era preso. Tudo havia começado em 1891; foi então que Wilde conheceu lorde Alfred Douglas. Era o começo da sua decadência.

VERLAINE e RIMBAUD


PAUL VERLAINE E ARTHUR RIMBAUD
Verlaine já era um poeta famoso quando os dois se conheceram. Era feio, beberrão e violento, mas os seus versos tinham a chave certa para abrir as portas da alma. A mãe pensou em acalmá-lo da sua bissexualidade quando o casou com Mathilde, uma jovem linda de 17 anos. Nada mudou. Continuou a fazer versos excepcionais, mas batia na mulher, bebia muito e uma vez tentou matar a mãe. Tinha 27 anos quando conheceu Rimbaud, um belíssimo rapaz que fugiu de casa várias vezes e em algumas delas dormiu na rua e vasculhou lixo para encontrar comida. Morava no povoado de Charleville e lia Verlaine. Um dia escreveu-lhe uma carta com alguns dos seus poemas e o desejo de mudar-se para Paris. Verlaine aceitou a visita do jovem poeta e, juntos, passaram a viver o inferno.
Paul Verlaine vivia entre o amor violento e cruel de Rimbaud e o da sua mulher Mathilde. A vida aos pedaços, mas a poesia dos dois era tão forte quanto a obsessão que os unia. Foram ficando isolados à medida em que o relacionamento dos dois se tornava cada vez mais público devido à instabilidade. Resolveram separar-se. Voltaram. Foram morar para Londres. Romperam novamente. Verlaine vai para Bruxelas e implora uma visita do amigo. O descontrole fala mais alto e, depois de muito sexo, bebidas e brigas, Verlaine com um revólver em seu poder, atira em Rimbaud. A mãe de Verlaine acode o rapaz e acalma o filho. Decidem levar Rimbaud de volta para a estação para que ele regresse a Londres imediatamente. Na despedida Verlaine tenta mais uma vez matar o amante. É preso e condenado a dois anos de trabalhos forçados. Os dois continuaram vivos, mas a poesia para eles já estava morta.

JOANA e FILIPE


JOANA, A LOUCA, E FILIPE, O BELO
Neurótica, a princesa espanhola protagonizou cenas inesquecíveis em nome da paixão pelo seu marido, Filipe, o Belo: talhou o rosto de uma suposta amante do marido, para em seguida ser trocada por ele. Quando Filipe morreu prematuramente, aos 28 anos, Joana endoidou de vez e proibiu que qualquer mulher se aproximasse dos restos mortais. Contam que Joana mandou desenterrar o príncipe, que havia sido sepultado na abadia de Miraflores, e que ia vê-lo todas as semanas, abrindo o caixão, desamarrando o sudário e beijando os pés do defunto. E depois que, quando a peste a obrigou a sair de Burgos, levou consigo o cadáver de Filipe.
Durante o casamento, Filipe enganou e desrespeitou cada vez mais abertamente a sua mulher, e Joana, como era hábito, foi ficando mais e mais obcecada por ele. O arquiduque deixava-a trancada nos seus aposentos durante semanas, e ela passava a noite golpeando as paredes para irritar as companhias do marido.
A última rainha titular da história da Espanha morreu no fim de 1555, paralítica da cintura para baixo e atormentada pelas dores horríveis da gangrena. Tinha 77 anos e havia passado os últimos 47 encerrada em Tordesilhas.

domingo, 27 de dezembro de 2009

As Paixões - o poder da criação - a ternura, a beleza, o desejo - e a força da devastação - a perdição, a loucura, a violência.


Nocturno de Chopin Opus 9 nº2 por Maria João Pires

Nocturno - O Romance de Chopin


NOCTURNO - O Romance de CHOPIN por CRISTINA CARVALHO -

A vida intensa de Chopin romanceada em “Nocturno”, de Cristina Carvalho
A relação fabulosa de CHOPIN com GEORGE SAND atravessada pela criação de ambos. Chopin na música e Gorge Sand na escrita.
(...)Quando eu morrer, retirem-me o coração. Tenho medo de ser enterrado vivo...
Quando Chopin se encontrava no seu leito de morte, pediu à irmã, para após a sua morte, o coração ser retirado, e colocado numa urna de vidro, conservado em conhaque. A irmã respeitou o pedido do irmão e a urna de vidro, com o coração de Chopin, foi levada para a Polónia.
O compositor polaco Fryderyk Chopin morreu com apenas 39 anos mas “viveu intensamente”, diz a escritora Cristina Carvalho, que pesquisou durante dois anos sobre a vida do pianista para a colocar num livro.
Neste “NOCTURNO” fica-se a conhecer melhor a história deste homem “extremamente sedutor, muito sensual e muito andrógino” e da sua época, das suas qualidades e limitações, amores e desamores, alegrias e sofrimento, desde o seu nascimento, na aldeia polaca de Zelazowa Wola, até à morte, em Paris, a 17 de Outubro de 1849.
Cristina Carvalho afirma que “todas as datas e referências correspondem à verdade histórica”, embora salvaguarde a existência de “muitas omissões”, indicando ainda que “apenas quis escrever alguns apontamentos duma vida que, embora muito curta, foi incrivelmente apaixonada e apaixonante”.

(...) Passaram-se nove anos. Nove tortuosos e singulares anos. O nosso convívio, ao princípio extraordinário, tornou-se esquisito, anormal, mas prosseguiu. Maman Sand teve as artes necessárias para me prender, fez com que eu me sentisse dependente, às vezes doente de propósito, e ora me aparecia como uma mulher, ora me aparecia como um homem, ora me aparecia como uma mãe, ora me aparecia como uma filha.

As sonatas, as fugas, os romances, as fantasias, os nocturno, e, naturalmente, o Impromptu dão conta e revelam esta minha vida. Basta ouvi-los com atenção.

O período da minha vida com George Sand foi prolífico mas também foi infeliz. Esta é a verdade. Ela nunca me foi fiel. Ela foi sempre, disfarçadamente, imperceptivelmente e literariamente, infiel.

Eu fui-lhe sempre fiel, mas musicalmente infiel. Não podia ser de outra maneira. (...)

Sextante Editora, Novembro de 2009


GEORGE SAND


TÚMULO DE CHOPIN - POLÓNIA


PAIXÕES E DESILUSÕES

ADORO SERES HÍBRIDOS - ADAM LAMBERT - SO HAPPY I COULD DIE -