
quarta-feira, 7 de abril de 2010
segunda-feira, 5 de abril de 2010
domingo, 4 de abril de 2010
Algumas palavras de Herberto Helder
«DEVE-SE ESTAR DISPONÍVEL PARA DECEPCIONAR OS QUE CONFIARAM EM NÓS. DECEPCIONAR É GARANTIR O MOVIMENTO.»
Herberto Helder, Maio de 1964
Herberto Helder, Maio de 1964
Ainda a propósito do acontecimento Toldo Vermelho de Joaquim Manuel Magalhães, talvez valha a pena recordar algumas palavras de Herberto Helder aqui expostas na página de um caderno Palavras. Imagens, 2009 de Isabel de Sá, página 25.
http://isabeldesaescritora.blogspot.com

http://isabeldesaescritora.blogspot.com
sábado, 3 de abril de 2010
A propósito da Páscoa lembrei-me deste poema belíssimo de ISABEL DE SÁ
A VERDADEIRA BIOGRAFIA: O PERCURSO
A minha biografia
é evidentemente excepcional.
Tive um Pai uma Mãe
nasci numa Casa
fui à Escola da vila
depois do concelho.
Mudei de distrito para
continuar
e o caminho da instrução
concretizou-se na Faculdade
de Belas Artes.
Da infância passada em plena
Natureza lembro
a beleza das estações do ano
os rituais católicos
uma criada preferida
o instante em que aprendi a ler.
Chegou a adolescência
e com ela a certeza
Quero ser professora de Desenho.
Suponho que a Biblioteca
me salvou do desastre
interior.
Tinha dezassete anos
e requisitei “Uma Época
No Inferno” de um rapazito
chamado Jean - Arthur Rimbaud.
Na Biblioteca o empregado
olha-me sempre com reserva.
Eu estudava o quê?
Um dia livros de medicina
outro dia de poesia.
Então a ciência é poética?
A entrada na vida adulta
aliada à independência
e ao amor. O meu país
sofreu uma revolução. A democracia
não honrou ainda a sua palavra.
Cumpro deveres e não posso
usufruir de direitos proporcionais.
Eu e alguns milhares
neste sentimental canto
europeu sob um regime
semiditatorial
contribuo
para a sopa e os vícios
de alguns milhares de parasitas.
Mudando de assunto a pátria
é grande e a família também.
Para mim já passou
o meio século. Já foi o Pai
a Mãe e o Irmão mais velho.
Estou por cá à espera
certamente.
Não é provável que me entregue.
Conheci o galinheiro do confessionário
ajoelhei-me diante do altar
da virgem. Apaixonei-me.
Também recebi um terço de prata
no dia da comunhão solene.
E na hora exacta o óleo
perfumado do crisma.
Sempre que vou a uma missa
de corpo presente lá está o mesmo altar
com a deslumbrante
virgem. Entretenho-me
a recordar que já tive
quinze anos e também
adorei.
Depois a Páscoa a soturna
via sacra onde sofria
pela minha dor
e as beatas exibiam lágrimas
como dádiva pelo calvário
a que Jesus foi sacrificado.
Jesus era belo na sua passividade.
Os longos cabelos
o olhar suplicante
as pernas
o tronco liso
o ventre. Por fim
a entrega. Braços abertos
para o bem e para o mal.
Agora neste dois mil e seis
trata-se de insistir. Já é tarde
para quase tudo.
Os meus contemporâneos alimentam
uma curiosidade fétida.
A obra é minha. Faço
o que quero. Escondo
rasgo
mostro
transformo
entrego ao crematório
deixo aos herdeiros
ao vaticano
não deixo.
Nunca esmolei. Não fui pobre.
Mas os sinais da exclusão
o ódio é tão luminoso
que seria patético
psicotisante até
não articular sequer
estes versos
antes da eutanásia.
Revista Relâmpago nº18 4/2006
A minha biografia
é evidentemente excepcional.
Tive um Pai uma Mãe
nasci numa Casa
fui à Escola da vila
depois do concelho.
Mudei de distrito para
continuar
e o caminho da instrução
concretizou-se na Faculdade
de Belas Artes.
Da infância passada em plena
Natureza lembro
a beleza das estações do ano
os rituais católicos
uma criada preferida
o instante em que aprendi a ler.
Chegou a adolescência
e com ela a certeza
Quero ser professora de Desenho.
Suponho que a Biblioteca
me salvou do desastre
interior.
Tinha dezassete anos
e requisitei “Uma Época
No Inferno” de um rapazito
chamado Jean - Arthur Rimbaud.
Na Biblioteca o empregado
olha-me sempre com reserva.
Eu estudava o quê?
Um dia livros de medicina
outro dia de poesia.
Então a ciência é poética?
A entrada na vida adulta
aliada à independência
e ao amor. O meu país
sofreu uma revolução. A democracia
não honrou ainda a sua palavra.
Cumpro deveres e não posso
usufruir de direitos proporcionais.
Eu e alguns milhares
neste sentimental canto
europeu sob um regime
semiditatorial
contribuo
para a sopa e os vícios
de alguns milhares de parasitas.
Mudando de assunto a pátria
é grande e a família também.
Para mim já passou
o meio século. Já foi o Pai
a Mãe e o Irmão mais velho.
Estou por cá à espera
certamente.
Não é provável que me entregue.
Conheci o galinheiro do confessionário
ajoelhei-me diante do altar
da virgem. Apaixonei-me.
Também recebi um terço de prata
no dia da comunhão solene.
E na hora exacta o óleo
perfumado do crisma.
Sempre que vou a uma missa
de corpo presente lá está o mesmo altar
com a deslumbrante
virgem. Entretenho-me
a recordar que já tive
quinze anos e também
adorei.
Depois a Páscoa a soturna
via sacra onde sofria
pela minha dor
e as beatas exibiam lágrimas
como dádiva pelo calvário
a que Jesus foi sacrificado.
Jesus era belo na sua passividade.
Os longos cabelos
o olhar suplicante
as pernas
o tronco liso
o ventre. Por fim
a entrega. Braços abertos
para o bem e para o mal.
Agora neste dois mil e seis
trata-se de insistir. Já é tarde
para quase tudo.
Os meus contemporâneos alimentam
uma curiosidade fétida.
A obra é minha. Faço
o que quero. Escondo
rasgo
mostro
transformo
entrego ao crematório
deixo aos herdeiros
ao vaticano
não deixo.
Nunca esmolei. Não fui pobre.
Mas os sinais da exclusão
o ódio é tão luminoso
que seria patético
psicotisante até
não articular sequer
estes versos
antes da eutanásia.
Revista Relâmpago nº18 4/2006
A MÚSICA E O POLITICAMENTE CORRECTO
Ao longo das décadas surgiram ESTRELAS do ROCK e da POP que mais não fazem que enriquecer ($$$$$) e comunicar o vazio de linguagem. Contribuem para a formatação desta sociedade. Mas, felizmente que também ao longo dessas mesmas décadas existiram e existem outros, que devido às suas estruturas de personalidade, não são corruptíveis, E DESMASCARAM esta SOCIEDADE. Exemplos flagrantes como MADONNA e PINK FLOYD. Por isso admiro-os. Claro que não falo dos deprimidos, que se suicidaram. Exemplos de IAN CURTIS do grupo JOY DIVISION e outros. Legaram-nos canções e poemas belíssimos, mas o preço foi demasiado alto e a VIDA não tem preço. HÁ QUE CONTINUAR VIVO E LUTAR.
E depois são as notícias constantes, que surgem na imprensa - adolescentes que aproveitam passeios escolares e viagens, para se suicidarem.
A dita FAMÍLIA nunca comunicou verdadeiramente com esses filhos, nem os conhece. Está mais interessada em manter as APARÊNCIAS. O grande problema da SOCIEDADE. O POLITICAMENTE CORRECTO.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
PALAVRAS DE MADONNA SOBRE O SEU ALBUM - AMERICAN LIFE
"Todas estas canções reflectem o meu estado de espírito. Sinto como se tivesse acordado de um sonho. Elas vão do desânimo e da raiva à alegria e à incerteza.Espero ter transformado uma coisa pessoal em algo universal." American Life foi um dos discos de menor sucesso da carreira de Madonna. Ela foi criticada por não ser patriota, por ir contra o "American Way of Life" e, principalmente, contra a guerra no Iraque, que na época era defendida pela maioria dos norte-americanos. * Antes de American Life, Madonna já estava numa fase difícil. Foi criticada por "Die Another Day", trilha sonora de 007, Um Novo Dia para Morrer"; por Swept Away, seu filme com Guy Ritchie; e ganhou uma Framboesa de Ouro, para os piores do cinema. Como se não fosse o suficiente,, Madonna lançou um vídeo criticando George W. Bush e a guerra que os Estados Unidos pretendiam iniciar contra o Iraque. Assim que o vídeo ficou pronto, a guerra começou. Foi aí que Madonna fez a sua primeira auto-censura: decidiu não lançar o vídeo e editou outra versão.
A MÚSICA
I'm so Stupid é uma música forte. Foi feita para pensar, reflectir . Essa canção transmite a ideia do SONHO AMERICANO, e deixa claro que, um dia, ela também vivenciou ESSE sonho americano, quando foi para Nova Yorque com alguns dólares no bolso e hoje é um ícone mundial. No dia do lançamento do álbum American Life, Madonna apresentou algumas músicas no especial MTV ON THE STAGE AND ON THE RECORD. I'm so Stupid não estava entre elas, mas uma faixa da música foi tocada e uma fã perguntou a Madonna o que significava para ela viver numa bolha de ilusão e como conseguia sair dela. "Todos vivem numa bolha, não apenas as celebridades. Eu saio de lá se conseguir diferenciar a realidade da ilusão e tentar ir na direcção da realidade", disse. Nesse tema fala dos sonhos que hoje parecem irreais e da busca incessante por algo que nem sabe o que é.
A MÚSICA
I'm so Stupid é uma música forte. Foi feita para pensar, reflectir . Essa canção transmite a ideia do SONHO AMERICANO, e deixa claro que, um dia, ela também vivenciou ESSE sonho americano, quando foi para Nova Yorque com alguns dólares no bolso e hoje é um ícone mundial. No dia do lançamento do álbum American Life, Madonna apresentou algumas músicas no especial MTV ON THE STAGE AND ON THE RECORD. I'm so Stupid não estava entre elas, mas uma faixa da música foi tocada e uma fã perguntou a Madonna o que significava para ela viver numa bolha de ilusão e como conseguia sair dela. "Todos vivem numa bolha, não apenas as celebridades. Eu saio de lá se conseguir diferenciar a realidade da ilusão e tentar ir na direcção da realidade", disse. Nesse tema fala dos sonhos que hoje parecem irreais e da busca incessante por algo que nem sabe o que é.
"NA POESIA , É SEMPRE DE GUERRA QUE SE TRATA"
Mandelstam
Mandelstam
Palavras CERTEIRAS de ANTÓNIO GUERREIRO, a propósito do último livro de JOAQUIM MANUEL MAGALHÃES, aliás o meu poeta preferido contemporâneo. Posso não apreciar na totalidade este livro, mas compreendo a necessidade do autor em explodir para todos os lados e atingir com os seus estilhaços toda a poesia, a sua e a dos outros. A rebelião de que fala António Guerreiro.

SEMPRE RADICAL NUNCA COERENTE (Expresso, António Guerreiro)
DESCONCERTANTE, INTEMPESTIVO, IMPLACÁVEL: EIS O NOVO LIVRO DE UM POETA QUE QUER COM ELE, REVOGAR TUDO O QUE ESCREVEU ANTES.
CONSUMA-SE neste livro a mais radical operação poética - e a mais cheia de consequências - da literatura portuguesa das últimas décadas. Falamos de "operação poética"para designar um gesto violento contra a obra do próprio autor, contra a ideia cumulativa de obra e contra a poesia que lhe é contemporânea. A operação comporta uma dimensão afirmativa (à qual não se acede se nos deixarmos obnubilar ou fascinar pelo "escândalo", algo inevitável num primeiro momento), mas actualiza um princípio enunciado por Mandelstam: "Na poesia, é sempre de guerra que se trata."(...) O leitor em busca de belos poemas acha que tudo isto é estranho, áspero e o mais afastado possível de qualquer harmonia? Pois acha, e com toda a razão. Porque estes poemas são extenuantes, e o seu idioma constitui-se contra as linguagens do poético. Eles desfazem-se do belo como quem esconjura uma ameaça. E sem concessões quebram ferozmente a prosódia ( triunfa uma aprosódia) e tomam o partido do ritmo: o sentido do poema é o seu ritmo staccato e não legato. As palavras são isoladas, autonomizadas, de modo a desarticular a estrutura métrica do poema, fazendo-a explodir em estilhaços até à paralesia não apenas prosódica mas também semântica. As grandes figuras de invocação da poesia de Joaquim Manuel Magalhães - o sentido, a lógica discursiva, o conteúdo pragmático do poema - são soberanamente liquidadas, sem complacências e com um esmero genial. (...)
Mas, se queremos sobreviver, não nos podemos instalar definitivamente e de maneira exclusiva por baixo de "Um Toldo Vermelho":a poesia anterior de Joaquim Manuel Magalhães continua disponível e serve-nos de vingança. É a guerra.
António Guerreiro, Actual, Expresso, 2 de Abril de 2010
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Dois poemas de RUI PIRES CABRAL
«Do coração da noite vinham apelos e silêncios.»
para o João Menau
As cidades doem, estão dentro de nós
mantidas por laços de fumo e desejo,
têm muros úteis e portas escondidas
que dão para a noite, como certos livros,
e há amores que vivem a horas tardias
e outros que se cortam no fio da trama,
queimam paus de incenso para abrir
caminhos, remover obstáculos, há curvas
e arcos, ecos desolados, quartos de ninguém.
As cidades cansam, estão nos nossos
dias, têm mil janelas de azul virtual
que nunca sossegam e nunca terminam
e há corpos que ensinam a temer a morte,
sombras que circulam nas redes do escuro
e homens que ferem para não chorar.
para o João Menau
As cidades doem, estão dentro de nós
mantidas por laços de fumo e desejo,
têm muros úteis e portas escondidas
que dão para a noite, como certos livros,
e há amores que vivem a horas tardias
e outros que se cortam no fio da trama,
queimam paus de incenso para abrir
caminhos, remover obstáculos, há curvas
e arcos, ecos desolados, quartos de ninguém.
As cidades cansam, estão nos nossos
dias, têm mil janelas de azul virtual
que nunca sossegam e nunca terminam
e há corpos que ensinam a temer a morte,
sombras que circulam nas redes do escuro
e homens que ferem para não chorar.
«He loved beauty that looked kind of destroyed.»
Gostava dessa espécie de beleza
que podemos surpreender a cada passo,
desvelada pelo acaso numa esquina
de arrabalde; a beleza de uma casa devoluta
que foi toda a infância de alguém,
com visitas ao domingo e tardes no quintal
depois da escola; a beleza crepuscular
de alguns rostos num retrato de família
a preto e branco, ou a de certos hoteis
que conheceram há muito os seus dias de fulgor
e foram perdendo estrelas; a beleza condenada
que nos toma de repente, como um verso
ou o desejo, como um copo que se parte
e dispersa no soalho a frágil luz de um instante.
Gostava de tudo isso que o deixava muito a sós
consigo mesmo, essa espécie de beleza arruinada
onde a vida encontra o espelho mais fiel.
ORÁCULOS DE CABECEIRA, AVERNO, 2009, Lisboa
Gostava dessa espécie de beleza
que podemos surpreender a cada passo,
desvelada pelo acaso numa esquina
de arrabalde; a beleza de uma casa devoluta
que foi toda a infância de alguém,
com visitas ao domingo e tardes no quintal
depois da escola; a beleza crepuscular
de alguns rostos num retrato de família
a preto e branco, ou a de certos hoteis
que conheceram há muito os seus dias de fulgor
e foram perdendo estrelas; a beleza condenada
que nos toma de repente, como um verso
ou o desejo, como um copo que se parte
e dispersa no soalho a frágil luz de um instante.
Gostava de tudo isso que o deixava muito a sós
consigo mesmo, essa espécie de beleza arruinada
onde a vida encontra o espelho mais fiel.
ORÁCULOS DE CABECEIRA, AVERNO, 2009, Lisboa
Poema de Eugénio de Andrade
SERENATA
Venho ao teu encontro a procurar
bondade, um céu de camponeses,
altas árvores onde o sol e a chuva
adormecem na mesma folha.
Não posso amar-te mais,
luz madura, espaço aberto.
Não posso dar-te mais do que te dou:
sangue, insónias, telegramas, dedos.
Aqui estou, fronte pura, rodeado
de sombras, de soluços, de perguntas.
Aceita esta ternura surda,
este jasmim aprisionado.
No meus lábios, melhor: no fogo,
talvez no pão, talvez na água,
para lá dos suplícios e do medo,
tu continuas: matinalmente.
A Palavras Interditas/Até Amanhã, Limiar, 1978, Porto
Venho ao teu encontro a procurar
bondade, um céu de camponeses,
altas árvores onde o sol e a chuva
adormecem na mesma folha.
Não posso amar-te mais,
luz madura, espaço aberto.
Não posso dar-te mais do que te dou:
sangue, insónias, telegramas, dedos.
Aqui estou, fronte pura, rodeado
de sombras, de soluços, de perguntas.
Aceita esta ternura surda,
este jasmim aprisionado.
No meus lábios, melhor: no fogo,
talvez no pão, talvez na água,
para lá dos suplícios e do medo,
tu continuas: matinalmente.
A Palavras Interditas/Até Amanhã, Limiar, 1978, Porto
sexta-feira, 26 de março de 2010
quinta-feira, 25 de março de 2010
BRILHO NO ESCURO Nº2
Novas postagens em http://brilhonoescuropoesia.blogspot.com
Palavras repletas de sabedoria, da escritora Yvette Centeno, sobre o Nº2 da revista de poesia Brilho no Escuro, no seu blog LITERATURA E ARTE
http://literaturaearte.blogspot.com
Palavras repletas de sabedoria, da escritora Yvette Centeno, sobre o Nº2 da revista de poesia Brilho no Escuro, no seu blog LITERATURA E ARTE
http://literaturaearte.blogspot.com
Brilho no Escuro:
Há dias assim, dias felizes em que o acaso de uma amizade nos permite o reencontro com artistas que acompanhamos outrora, apreciando a sua inspiração, a independência e originalidade das suas vozes ( obras ) que o tempo, o eterno corruptor, não corrompeu.
Recebo esta revista ( e lamento não ter visto o n.1 e ter vindo a saber que talvez não haja n.3 ) e descubro a mão de Isabel de Sá na ilustração, e poemas seus que me remetem para as edições e ETC. onde desde sempre os marginais, os alheios, os invisíveis dos discursos da moda podiam encontrar um espaço próprio, livre, sem imposições de qualquer espécie; ali se convivia com alguns dos grandes textos que a editora dava a conhecer em traduções pioneiras; ali todos se sentiam bem.
Descubro ainda o Paulo da Costa Domingos, com outro poema, que leio como quem não vê um amigo de longa data, nunca esquecido.
E finalmente uma voz que é jovem, no meio desses mestres da poesia de sempre, João Borges, que espero poder acompanhar por algum tempo, o tempo que me for concedido.
Esta é uma revista de arte, em que poesia e ilustração mutuamente se iluminam, daí o brilho no escuro, a luz no coração vibrante das palavras.
E é um desafio: o da interrogação, como a da Alice no País das Maravilhas, que se procura a si mesma para entender quem é e o que é o mundo à sua volta.
Uma interrogação a que só o artista com a sua arte pode responder, com um Eu Sou - "eu sou", como aquele que exclama, do fundo do universo "eu sou aquele que é ", eu sou o Ser-em-si, o Absoluto, a Essência, o eterno e indestrutível Fundamento da existência que, no seu poema, Isabel de Sá define como Princípio da Realidade.
Uma realidade insubmissa.
Há dias assim, dias felizes em que o acaso de uma amizade nos permite o reencontro com artistas que acompanhamos outrora, apreciando a sua inspiração, a independência e originalidade das suas vozes ( obras ) que o tempo, o eterno corruptor, não corrompeu.
Recebo esta revista ( e lamento não ter visto o n.1 e ter vindo a saber que talvez não haja n.3 ) e descubro a mão de Isabel de Sá na ilustração, e poemas seus que me remetem para as edições e ETC. onde desde sempre os marginais, os alheios, os invisíveis dos discursos da moda podiam encontrar um espaço próprio, livre, sem imposições de qualquer espécie; ali se convivia com alguns dos grandes textos que a editora dava a conhecer em traduções pioneiras; ali todos se sentiam bem.
Descubro ainda o Paulo da Costa Domingos, com outro poema, que leio como quem não vê um amigo de longa data, nunca esquecido.
E finalmente uma voz que é jovem, no meio desses mestres da poesia de sempre, João Borges, que espero poder acompanhar por algum tempo, o tempo que me for concedido.
Esta é uma revista de arte, em que poesia e ilustração mutuamente se iluminam, daí o brilho no escuro, a luz no coração vibrante das palavras.
E é um desafio: o da interrogação, como a da Alice no País das Maravilhas, que se procura a si mesma para entender quem é e o que é o mundo à sua volta.
Uma interrogação a que só o artista com a sua arte pode responder, com um Eu Sou - "eu sou", como aquele que exclama, do fundo do universo "eu sou aquele que é ", eu sou o Ser-em-si, o Absoluto, a Essência, o eterno e indestrutível Fundamento da existência que, no seu poema, Isabel de Sá define como Princípio da Realidade.
Uma realidade insubmissa.
Se a arte
não for insubmissa
se não permanecer
desobediente
e não escapar ao controlo
é o quê ?
Se a arte
não for insurrecta
se não permanecer
pedra viva escaldante
é o quê ?
a arte se não disser Eu Sou ?
não for insubmissa
se não permanecer
desobediente
e não escapar ao controlo
é o quê ?
Se a arte
não for insurrecta
se não permanecer
pedra viva escaldante
é o quê ?
a arte se não disser Eu Sou ?
Dizer eu sou, significando a essência do que se é, neste caso ( como noutros) artesão da dissidência, é cada vez mais difícil nos dias que correm.
E decidir-se a editar uma revista de arte que será de poucos, devendo ser de muitos, é nestes dias que correm outro acto de insubmissão.
Mas é nesta insubmissão que se respira, e é dado a ver um coração que bate.
E decidir-se a editar uma revista de arte que será de poucos, devendo ser de muitos, é nestes dias que correm outro acto de insubmissão.
Mas é nesta insubmissão que se respira, e é dado a ver um coração que bate.
Postagem de Yvette Centeno, blog Literatura e Arte
segunda-feira, 22 de março de 2010
domingo, 21 de março de 2010
ISABEL DE SÁ
DENTRO DAS IMAGENS
Os poemas têm veneno na boca.
Na estrada da minha vida
plantei a árvore
sem saber quem era.
Em que parte do planeta
há mais ódio? A matéria
erosiva transforma o corpo
e não há regresso. Não
restará um monte de estrume.
Em todo o lado
parece que o mundo em desordem
pouco a pouco enlouqueceu
e os homens atam a corda
à espera que aconteça.
São infelizes
mas não o suficiente.
Não sabem dizer
por que se esquecem de amar.
RESUMO, a poesia em 2009, edição Assírio & Alvim, Lisboa, 2010
Os poemas têm veneno na boca.
Na estrada da minha vida
plantei a árvore
sem saber quem era.
Em que parte do planeta
há mais ódio? A matéria
erosiva transforma o corpo
e não há regresso. Não
restará um monte de estrume.
Em todo o lado
parece que o mundo em desordem
pouco a pouco enlouqueceu
e os homens atam a corda
à espera que aconteça.
São infelizes
mas não o suficiente.
Não sabem dizer
por que se esquecem de amar.
RESUMO, a poesia em 2009, edição Assírio & Alvim, Lisboa, 2010
DIA DA POESIA - 21 DE MARÇO
CANÇÃO DA MAIS ALTA TORRE
Que venha, que venha
O tempo da apanha.
Eu esperei tanto
Que tudo esqueci.
As raivas, o pranto
Acabam-se aqui.
E uma sede langue
Escurece-me o sangue.
Que venha, que venha
O tempo da apanha.
Como o descampado
De flores de abandono
Coberto, deixado
Ao incenso e ao sono,
Para voos atrozes
De moscas ferozes.
Que venha, que venha
O tempo da apanha.
Uma Época No Inferno, tradução de Mário Cesariny, Portugália Editora, 1960
Que venha, que venha
O tempo da apanha.
Eu esperei tanto
Que tudo esqueci.
As raivas, o pranto
Acabam-se aqui.
E uma sede langue
Escurece-me o sangue.
Que venha, que venha
O tempo da apanha.
Como o descampado
De flores de abandono
Coberto, deixado
Ao incenso e ao sono,
Para voos atrozes
De moscas ferozes.
Que venha, que venha
O tempo da apanha.
Uma Época No Inferno, tradução de Mário Cesariny, Portugália Editora, 1960
sexta-feira, 19 de março de 2010
DIA MUNDIAL DA POESIA - 21 DE MARÇO
terça-feira, 16 de março de 2010
12 de Março - Aula no ISEC - Lisboa
Sob a orientação da escritora e professora YVETTE CENTENO, foi dada uma aula sobre CAPAS, EDITORAS PORTUGUESAS CONTEMPORÂNEAS E GRAFISMOS
por JOÃO BORGES - autor dos blogs :
A aula decorreu com entusiasmo e agrado dos presentes.Ficaram fascinados com a beleza das capas expostas, as explicações detalhadas de João Borges, e a sensibilização ao mundo editorial português. Observaram que a participação de artistas plásticos e gráficos na área editorial era grande, e alguns dos artistas e poetas são actualmente de renome internacional.
Poesia 61 - VÁRIOS AUTORES - Capa de Manuel Baptista
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