
quinta-feira, 27 de maio de 2010
quarta-feira, 26 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
Never Is A Promise - Fiona Apple
(...)
You'll say you understand, but you don't understand
(...)
You'll never touch these things that I hold
The skin of my emotions lies beneath my own
You'll never feel the heat of this soul
My fever burns me deeper than I've ever
(...)
The shades and shadows undulate in my perception
My feelings swell and stretch, I see from greater heights.
(...)
You'll say you understand, but you don't understand
(...)
You'll never touch these things that I hold
The skin of my emotions lies beneath my own
You'll never feel the heat of this soul
My fever burns me deeper than I've ever
(...)
The shades and shadows undulate in my perception
My feelings swell and stretch, I see from greater heights.
(...)
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Fragmento de poema de Herberto Helder
(...)
III
As mulheres têm uma assombrada roseira
fria espalhada no ventre.
Uma quente roseira às vezes, uma planta
de treva.
Ela sobe dos pés e atravessa
a carne quebrada.
Nasce dos pés, ou da vulva, ou do ânus -
e mistura-se nas águas,
no sonho da cabeça.
As mulheres pensam como uma impensada roseira
que pensa rosas.
Pensam de espinho para espinho,
param de nó em nó.
As mulheres dão folhas, recebem
um orvalho inocente.
Depois sua boca abre-se.
Verão, outono, a onda dolorosa e ardente
das semanas,
passam por cima. As mulheres cantam
na sua alegria terrena.
Que coisa verdadeira cantam?
Elas cantam.
São broncas e doces, mudam
de cor, anunciam a felicidade no meio da noite,
os dias brilhantes de desgraça.
Com lágrimas, sangue, antigas subtilezas
e uma suavidade amarga -
as mulheres tornam impura e magnífica
nossa límpida, estéril
vida masculina.
Porque as mulheres não pensam: abrem
rosas tenebrosas
alagam a inteligência do poema
com o fogo podre de um sangue menstrual.
São altas essas roseiras de mulheres,
inclinadas como sinos, como violinos, dentro
do som.
Dentro da sua seiva de cinza brilhante.
(...)
III
As mulheres têm uma assombrada roseira
fria espalhada no ventre.
Uma quente roseira às vezes, uma planta
de treva.
Ela sobe dos pés e atravessa
a carne quebrada.
Nasce dos pés, ou da vulva, ou do ânus -
e mistura-se nas águas,
no sonho da cabeça.
As mulheres pensam como uma impensada roseira
que pensa rosas.
Pensam de espinho para espinho,
param de nó em nó.
As mulheres dão folhas, recebem
um orvalho inocente.
Depois sua boca abre-se.
Verão, outono, a onda dolorosa e ardente
das semanas,
passam por cima. As mulheres cantam
na sua alegria terrena.
Que coisa verdadeira cantam?
Elas cantam.
São broncas e doces, mudam
de cor, anunciam a felicidade no meio da noite,
os dias brilhantes de desgraça.
Com lágrimas, sangue, antigas subtilezas
e uma suavidade amarga -
as mulheres tornam impura e magnífica
nossa límpida, estéril
vida masculina.
Porque as mulheres não pensam: abrem
rosas tenebrosas
alagam a inteligência do poema
com o fogo podre de um sangue menstrual.
São altas essas roseiras de mulheres,
inclinadas como sinos, como violinos, dentro
do som.
Dentro da sua seiva de cinza brilhante.
(...)
domingo, 23 de maio de 2010
sábado, 22 de maio de 2010
Poema de Isabel de Sá
A infância é um susto. Sofre as metamorfoses do medo. A infância está calada, move-se como coluna de mármore, como réptil que cresce por detrás do mar.
A infância traz a bandeira da morte. Branca. Tão branca como o sexo dos anjos.
Na infância criam-se ocupações abstractas que mover-nos-ão enquanto vivos. As palavras da infância nunca são palavras. São incompreensão, vazio, sono, doença.
Segundo livro, O Festim das Serpentes Novas, Repetir o Poema, edições Quasi, 2005
quarta-feira, 19 de maio de 2010
terça-feira, 18 de maio de 2010
18 de maio de 1980 - A morte de IAN CURTIS - DECADES - 30 anos depois e parece escrito hoje...
Decades
Here are the young men, a weight on their shoulders
Here are the young men, well, where have they been?
We knocked on doors of hell's darker chambers
Pushed to the limits, we dragged ourselves in
Watched from the wings as the scenes were replaying
We saw ourselves now as we never had seen
Portrayal of the traumas and degeneration
The sorrows we suffered and never were freed
Where have they been?
Where have they been?
Where have they been?
Where have they been?
Weary inside, now our hearts lost forever
Can't replace the fear or the thrill of the chase
These rituals showed up the door for our wanderings
Opened and shut, then slammed in our face
Where have they been?
Where have they been?
Where have they been?
Where have they been?
Here are the young men, a weight on their shoulders
Here are the young men, well, where have they been?
We knocked on doors of hell's darker chambers
Pushed to the limits, we dragged ourselves in
Watched from the wings as the scenes were replaying
We saw ourselves now as we never had seen
Portrayal of the traumas and degeneration
The sorrows we suffered and never were freed
Where have they been?
Where have they been?
Where have they been?
Where have they been?
Weary inside, now our hearts lost forever
Can't replace the fear or the thrill of the chase
These rituals showed up the door for our wanderings
Opened and shut, then slammed in our face
Where have they been?
Where have they been?
Where have they been?
Where have they been?
Love Will Tear Us Apart - Esta canção já tem 3 décadas e continua actual . Porque será tão difícil o entendimento entre duas pessoas. O amor acaba?
Love Will Tear Us Apart
When routine bites hard
And ambitions are low
And resentment rides high
But emotions won't grow
And we're changing our ways
Taking different roads
Then love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
Why is the bedroom so cold?
You've turned away on your side
Is my timing that flawed?
Our respect runs so dry
Yet there's still this appeal
That we've kept through our lives
But love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
You cry out in your sleep
All my failings exposed
And there's taste in my mouth
As desperation takes hold
Just that something so good
Just can't function no more
But love, love wil tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
When routine bites hard
And ambitions are low
And resentment rides high
But emotions won't grow
And we're changing our ways
Taking different roads
Then love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
Why is the bedroom so cold?
You've turned away on your side
Is my timing that flawed?
Our respect runs so dry
Yet there's still this appeal
That we've kept through our lives
But love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
You cry out in your sleep
All my failings exposed
And there's taste in my mouth
As desperation takes hold
Just that something so good
Just can't function no more
But love, love wil tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
segunda-feira, 17 de maio de 2010
DIA MUNDIAL CONTRA A HOMOFOBIA
FINALMENTE PORTUGAL DEU UM PASSO NA HISTÓRIA.
FOI PROMULGADO O CASAMENTO ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO.
AFINAL A VINDA DO PAPA NÃO ANESTESIOU TODAS AS CABEÇAS.
FOI PROMULGADO O CASAMENTO ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO.
AFINAL A VINDA DO PAPA NÃO ANESTESIOU TODAS AS CABEÇAS.
sábado, 15 de maio de 2010
A propósito do momento que vive o País. Uns anónimos deixaram estas palavras.
A Treze de Maio
Na Praça da Liberdade
Dançava-se o verde gaio
Com toda a caridade
Nos cafés o nosso povo
Bebia esperança na bica da noite
Multidão dentro de um ovo
Mesmo pronta para o açoite
As ruas e praças iluminadas
Para a missa matutina
Beatas fogosas e levadas
Com o pensamento na batina
Todo o séquito se prepara
Na hora da grande aflição
Pois todo aquele que pecara
Se limpará na oração
Na Praça da Liberdade
Dançava-se o verde gaio
Com toda a caridade
Nos cafés o nosso povo
Bebia esperança na bica da noite
Multidão dentro de um ovo
Mesmo pronta para o açoite
As ruas e praças iluminadas
Para a missa matutina
Beatas fogosas e levadas
Com o pensamento na batina
Todo o séquito se prepara
Na hora da grande aflição
Pois todo aquele que pecara
Se limpará na oração
CADAVRE EXQUIS - a 13 de Maio no café "A Brasileira" na cidade do Porto.
O TREZE DE MAIO NA COVA DO TEATRO DA BANDEIRA.
MESMO ASSIM AS MENTES ABERTAS FECHAM-SE ÀS COVAS COM ÍRIS OU SEM ÍRIS.
O QUE FAZ LEMBRAR ARCOS. COMO O QUE A NOSSA SENHORA TEM NA CABEÇA.
NA CABEÇA TALVEZ A BOSTA DO CORDEIRO SAGRADO. NO CORAÇÃO O SANGUE DO MENINO ENTERRADO.
DEIXOU UMA MÃO FORA DA TERRA - O MENINO.
O MENINO DE SUA MÃE QUE SE ENCONTRA DE CUECAS E PARECE TOLO QUE BASTE.
DISCORDO. A SEMI-NUDEZ PODE SER SEXY. ASSIM COMO A IDEIA DE CORROMPER O SAGRADO COM OS PECADOS DA CARNE.
PECADO? DEVASSIDÃO? TUDO PALAVRAS AMANTES PARA AS QUAIS PODEMOS VIVER.
MORRER TAMBÉM. PODEMOS MORRER PODEMOS SEMPRE PELAS PALAVRAS MESMAS.
A VIDA É SEMPRE A MESMA. SERÁ? OS FIGURANTES MUDAM OU APENAS COLOCAM OUTRAS MÁSCARAS...
EU TENHO PREFERÊNCIA PELAS VENEZIANAS. MAS SE ESTIVERMOS A FALAR DE HOMENS, PREFIRO OS NÓRDICOS.
SÓ MARLON BRANDO NA JUVENTUDE. E MAIS ALGUNS, NÃO SEI NOMES. HOMENS SÓ BELOS. MULHERES FATAIS, LIGEIRAMENTE DEPRIMIDAS - SÃO AS MELHORES PARA O SEXO. AS LOIRAS SÃO GIRAS, AS RUIVAS NEURÓTICAS...MAS OS CABELOS DE FOGO, ARDEM MESMO.
DIGAMOS QUE É O DIGNITATIS ECCE HOMO. QUE MESMO ARDIDO ARDE.
Autores: Clara Afonso. Graça Martins. Isabel de Sá. João Borges.
Fiona Apple
"And there's too much going on
But it's calm under the waves
In the blue of my oblivion
Under the waves
In the blue of my oblivion"
But it's calm under the waves
In the blue of my oblivion
Under the waves
In the blue of my oblivion"
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Poema de Yvette Centeno
COMO SE ESTIVESSE NUM CAFÉ
Espero
sentada
tranquilamente
em mim
Espero
como se estivesse num café
cheio de gente
(Café Central)
Espero
sentada
tranquilamente
em mim
Espero
como se estivesse num café
cheio de gente
(Café Central)
Poema de Eugénio de Andrade
O sorriso
Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Poema de ISABEL DE SÁ
"Um rapaz amarra-se à noite. Queima os dedos em papel de estanho. A chuva violentíssima e a pétala vermelha do braço eclodia. Outro espaço e outro iluminados em cadeia, o olhar do rapaz. Pele de estranho brilho."
em "Nervura", 1984
domingo, 9 de maio de 2010
MENINOS COM BONECAS
No meu trabalho plástico, sempre procurei
desmontar os esteriótipos impostos pela sociedade .
As diferenças entre masculino e feminino.
As imposições de papeis para homens e mulheres.
Quando vi pela primeira vez o video do grupo
SIGUR ROS
fiquei sensibilizada, pois já em 1983 tinha abordado
este tema que me apaixona. A impossibilidade de
um menino ou menina caminhar para brinquedos
que a sociedade determina para masculino ou feminino.
Uma formatação arrepiante.

SIGUR ROS
Este video é de uma BELEZA INDESCRITÍVEL. É chocante observar a FORMATAÇÃO de uma SOCIEDADE, que se estrutura CONTRA A LIBERDADE DO SER HUMANO.
A Minha Palavra Favorita - TRANSGRESSÃO . João Peste Guerreiro
(...)
Foucault
A experiência da transgressão, como dizia Michel Foucault, um dia parecerá tão decisiva para a nossa cultura (...) como a experiência da contradição o foi, em tempos antigos, para o pensamento dialéctico2. Foucault chega mesmo a falar de uma nova forma de pensamento ligada à transgressão, na qual a interrogação sobre os limites substituiria uma suposta procura da totalidade. Um pensamento liberto de todas as formas de linguagem dialéctica que pensasse o que não poderia ser pensado e dissesse o que não poderia ser dito. O pensamento de um homem constituído enquanto sujeito e liberto da dialéctica do trabalho e da produção: A aparição da sexualidade enquanto problema fundamental marca a derrapagem de uma filosofia baseada no homem como trabalhador para uma filosofia baseada num ser que fala3. Uma filosofia cujo objectivo fosse libertar o pensamento de todas as formas da linguagem dialéctica como a obra de Georges Bataille que Foucault consideravao teórico e expoente máximo do pensamento transgressivo e a quem dedicou, em 1963, o seu Préface Sur la Transgression.
2 Michel foucault, Aesthetics, Method and Epistemology, London, 1994.
3 Ibid.
A Minha Palavra Favorita, Edição Jorge Reis-Sá, CENTRO ATLÂNTICO.PT, Lisboa, 2007
sábado, 8 de maio de 2010
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Poema de Manuel António Pina
AGORA É
Agora é diferente
Tenho o teu nome o teu cheiro
A minha roupa de repente
ficou com o teu cheiro
Agora estamos misturados
No meio de nós já não cabe o amor
Já não arranjamos
lugar para o amor
Já não arranjamos vagar
para o amor agora
isto vai devagar
agora isto demora
ALGO PARECIDO COM ISTO, DA MESMA SUBSTÂNCIA, Edições Afrontamento, Porto, 1992
Agora é diferente
Tenho o teu nome o teu cheiro
A minha roupa de repente
ficou com o teu cheiro
Agora estamos misturados
No meio de nós já não cabe o amor
Já não arranjamos
lugar para o amor
Já não arranjamos vagar
para o amor agora
isto vai devagar
agora isto demora
ALGO PARECIDO COM ISTO, DA MESMA SUBSTÂNCIA, Edições Afrontamento, Porto, 1992
Poema de Manuel António Pina
JUNTO À ÁGUA
Os homens temem as longas viagens,
os ladrões da estrada, as hospedarias,
e temem morrer em frios leitos
e ter sepultura em terra estranha.
Por isso os seus passos os levam
de regresso a casa, às veredas da infância,
ao velho portão em ruínas, à poeira
das primeiras, das únicas lágrimas.
Quantas vezes em
desolados quartos de hotel
esperei em vão que me batesses à porta,
voz da infância, que o teu silêncio me chamasse!
E perdi-vos para sempre entre altos prédios,
sonhos de beleza, e em ruas intermináveis,
e no meio das multidões dos aeroportos.
Agora só quero dormir um sono sem olhos.
e sem escuridão, sob um telhado por fim.
À minha volta estilhaça-se
o meu rosto em infinitos espelhos
e desmoronam-se os meus retratos nas molduras.
Só quero um sítio onde pousar a cabeça.
Anoitece em todas as cidades do mundo,
acenderam-se as luzes de corredores sonâmbulos
onde o meu coração, falando, vagueia.
ALGO PARECIDO COM ISTO, DA MESMA SUBSTÂNCIA, Edições Afrontamento. Porto, 1992
Os homens temem as longas viagens,
os ladrões da estrada, as hospedarias,
e temem morrer em frios leitos
e ter sepultura em terra estranha.
Por isso os seus passos os levam
de regresso a casa, às veredas da infância,
ao velho portão em ruínas, à poeira
das primeiras, das únicas lágrimas.
Quantas vezes em
desolados quartos de hotel
esperei em vão que me batesses à porta,
voz da infância, que o teu silêncio me chamasse!
E perdi-vos para sempre entre altos prédios,
sonhos de beleza, e em ruas intermináveis,
e no meio das multidões dos aeroportos.
Agora só quero dormir um sono sem olhos.
e sem escuridão, sob um telhado por fim.
À minha volta estilhaça-se
o meu rosto em infinitos espelhos
e desmoronam-se os meus retratos nas molduras.
Só quero um sítio onde pousar a cabeça.
Anoitece em todas as cidades do mundo,
acenderam-se as luzes de corredores sonâmbulos
onde o meu coração, falando, vagueia.
ALGO PARECIDO COM ISTO, DA MESMA SUBSTÂNCIA, Edições Afrontamento. Porto, 1992
quinta-feira, 6 de maio de 2010
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.
(...)
Fernando Pessoa, Poesia - Vol.I de Álvaro de Campos, Edição Original de Assírio & Alvim, Lisboa 2006
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.
(...)
Fernando Pessoa, Poesia - Vol.I de Álvaro de Campos, Edição Original de Assírio & Alvim, Lisboa 2006
terça-feira, 4 de maio de 2010
Feira do Livro de Lisboa
O QUE NOS SEPARA? O QUE NOS UNE?
(...) Efectivamente, na ocasião da perda objectal, a ferida narcísica toma proporções dramáticas na medida em que não representada, não investida, ela apenas pode ser vivida dolorosamente, num estado de angústia- aflição sem nome; a persistência da excitação dolorosa, sem possibilidade de ligação com o objecto, torna-se rapidamente intolerável e apenas se pode descarregar no próprio corpo. (...)
Da mesma maneira, aquando da perda do objecto externo, não é possível nenhuma medida defensiva da natureza da clivagem e da "desidealização" tais como as que encontramos nos estados-limite; todo o trabalho de luto, por muito patológico que seja, torna-se irrealizável. Por outro lado, no estado-limite a falta fundamental de confiança no objecto traduz-se essencialmente por uma desconfiança em relação aos objectos interiorizados; o objecto externo, vivido como intruso, ameaça, aquando da sua interiorização, esvaziar o EU; a negação e a clivagem tornam-se indispensáveis à sua salvaguarda.
Narcisismo e Estados-Limite, Jean Bergeret, Wilfrid Reid, colecção Psicologia e Psicanálise, Direcção de Carlos Amaral Dias, Edição Escher, Lisboa, 1991
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Poema de RUY BELO
NA MORTE DE MARILYN
Morreu a mais bela mulher do mundo
tão bela que não só era assim bela
como mais que chamar-lhe marilyn
devíamos mas era reservar apenas para ela
o seco sóbrio simples nome de mulher
em vez de marilyn dizer mulher
Não havia no fundo em todo o mundo outra mulher
mas ingeriu demasiados barbitúricos
uma noite ao deitar-se quando se sentiu sozinha
ou suspeitou que tinha errado a vida
ela de quem a vida a bem dizer não era digna
e que exibia vida mesmo quando a suprimia
Não havia no mundo uma mulher mais bela mas
essa mulher um dia dispôs do direito
ao uso e ao abuso de ser bela
e decidiu de vez não mais o ser
nem doravante ser sequer mulher
O último dos rostos que mostrou era um rosto de dor
um rosto sem regresso mais que rosto mar
e toda a confusão e convulsão que nele possa caber
e toda a violência e voz que num restrito rosto
possa o máximo mar intensamente condensar
Tomou todos os tubos que tinha e não tinha
e disse à governanta não me acorde amanhã
estou cansada e necessito de dormir
estou cansada e é preciso eu descansar
Nunca ninguém foi tão amado como ela
nunca ninguém se viu envolto em semelhante escuridão
Era mulher era a mulher mais bela
mas não há coisa alguma que fazer se certo dia
a mão da solidão é pedra em nosso peito
Perto de marilyn havia aqueles comprimidos
seriam solução sentiu na mão a mãe
estava tão sozinha que pensou que a não amavam
que todos afinal a utilizavam
que viam por trás dela a mais comum imagem dela
a cara o corpo de mulher que urge adjectivar
mesmo que seja bela o adjectivo a empregar
que em vez de ver um todo se decida dissecar
analisar partir multiplicar em partes
Toda a mulher que era se sentiu toda sozinha
julgou que a não amavam todo o tempo como que parou
quis ser atá ao fim coisa que mexe coisa viva
um segundo bastou foi só estender a mão
e então o tempo sim foi coisa que passou.
Ruy Belo
Transporte No Tempo
domingo, 25 de abril de 2010
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
O MEU TEMA PREFERIDO...
Que se verifica na psicanálise?
Quando uma análise individual é suficientemente desenvolvida, quando o inconsciente pessoal é limpo, descascado e purgado, desembaraçado dos seus «bloqueios», dos seus complexos patológicos, das suas angústias, das suas inibições, das suas regressões, etc., desemboca-se num novo território do inconsciente, vasto e grandioso - o inconsciente colectivo e os seus arquétipos, fontes de energias por vezes prodigiosas.
Este inconsciente é semelhante a uma terra que, a cem metros de profundidade, contivesse uma toalha de petróleo, imutável desde há milhares de anos. Durante a análise, o paciente torna-se então como um espeleólogo que, após ter percorrido, ofegante, negros labirintos (o seu Inconsciente Pessoal), mergulhasse na luz de uma vasta sala onde se reencontrassem acumuladas, sempre actuantes, as riquezas dos homens que nos precederam durante milénios.
Certas condições são, pois, indispensáveis para se ter acesso ao inconsciente colectivo.
Porquê?
O inconsciente pessoal é individual. É são ou doente, mas, de qualquer maneira, contém a soma das nossas experiências pessoais. Suponhamos que contém um «complexo». Tal complexo é, evidentemente, de carácter negativo. Quero eu dizer que este complexo impede a acção livre. Bloqueia a energia, em vez de a distribuir. Enquanto a pessoa tropeçar contra este complexo, ser-lhe-á impossível descer à parte correspondente do inconsciente colectivo.
O inconsciente colectivo estará reservado exclusivamente a uma »elite»? De modo nenhum; contudo, só é acessível aos que se tornaram suficientemente conscientes de si próprios e se libertaram dos seus complexos patológicos. É evidente, pois, que só se aborda o inconsciente no fim da análise. (...)
Um mundo de quimeras
Em psicologia humana, reina uma lei implacável. Ei-la: «Tudo que flutua no inconsciente corre o risco de ser projectado». Por outras palavras: tudo o que erra no inconsciente, tudo o que não está «integrado» na personalidade, corre o risco de ser projectado no exterior. (...)
OS TRIUNFOS DA PSICANÁLISE, Pierre Daco, II Volume, Portugália, tradução de António Ramos Rosa,
sábado, 24 de abril de 2010
SHAKESPEARE - Dia 29 - Quinta-Feira - CAFÉ PROGRESSO - 21.30H
mais uma sessão de poesia organizada pela livraria POETRIA
Camões tinha morrido há menos de 20 anos quando foi publicado este soneto de... Shakespeare.
So, to be or not to be... A tentação é grande de deixar recair o mistério, também nos sonetos que lhe são atribuídos: foi Shakespeare autor ou imitador duma obra imortal?
Ao jurar-me ela seu fiel amor,
palavra que acredito e sei que mente;
deve pensar-me um jovem sem tutor,
nos enganos do mundo inexperiente.
Assim, pensando em vão que me crê jovem,
saiba embora já fui melhor do que hoje,
as suas falas falsas me comovem
e a verdade de parte a parte foge.
Mas porque não dirá ser ela injusta?
Porque não digo minha idade avança?
No amor, idade e anos dizer custa
e é costume de amor fingir confiança.
Deitamo-nos, mentimos, mente, minto.
Mentir em culpa é-nos lisonja, sinto.
Além da leitura dos sonetos será encenado um texto-surpresa que põe em paralelo a avassaladora tragédia de Hamlet e a tragédia nossa de cada dia..., no próximo dia 29/4 às 21,30h no Café Progresso.
So, to be or not to be... A tentação é grande de deixar recair o mistério, também nos sonetos que lhe são atribuídos: foi Shakespeare autor ou imitador duma obra imortal?
Ao jurar-me ela seu fiel amor,
palavra que acredito e sei que mente;
deve pensar-me um jovem sem tutor,
nos enganos do mundo inexperiente.
Assim, pensando em vão que me crê jovem,
saiba embora já fui melhor do que hoje,
as suas falas falsas me comovem
e a verdade de parte a parte foge.
Mas porque não dirá ser ela injusta?
Porque não digo minha idade avança?
No amor, idade e anos dizer custa
e é costume de amor fingir confiança.
Deitamo-nos, mentimos, mente, minto.
Mentir em culpa é-nos lisonja, sinto.
Além da leitura dos sonetos será encenado um texto-surpresa que põe em paralelo a avassaladora tragédia de Hamlet e a tragédia nossa de cada dia..., no próximo dia 29/4 às 21,30h no Café Progresso.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
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