sábado, 19 de fevereiro de 2011

3 Fotos de Hedi Slimane





Atravessar o deserto e sobreviver...


A FRESH START

É amanhã. O constrangimento da conservadora a perguntar

- porquê? porquê?

e eu pequena, tal como na 3ª classe, timidamente a responder à professora.

Não tenho medo hoje porque o tempo passou. Da mesma forma que o nosso também. O nosso tempo passou e acabou e amanhã seremos duas pessoas adultas que se conhecem a dizer adeus. Com a maturidade da idade adulta sem o medo das crianças.


A fresh start, vai fazer-nos bem.


Inês Leitão

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Pinturas de Rui Paes









Poema de Arthur Rimbaud



O QUE DORME NO VALE


É uma cova de verdura onde canta uma ribeira
Prendendo loucamente às ervas farrapos
De prata; nele brilha o sol, do alto da montanha
Orgulhosa: é um pequeno valado que espuma farpas.

Um soldado jovem, de boca aberta, cabeça nua,
E a nuca mergulhando nos frescos agriões azuis,
Dorme; está estendido na relva, a céu aberto,
Pálido no seu leito verde onde chove aluz.

Com os pés nos gladíolos, dorme. Sorrindo como
Sorriria uma criança doente, dorme um sono:
Natura, embala-o junto ao peito: ele está frio.

Não há perfume que faça estremecer suas narinas;
Dorme ao sol, a mão sobre o peito
Tranquilo. No lado direito, tem dois buracos vermelhos.



O RAPAZ RARO, iluminações e poemas, tradução de Maria Gabriela Llansol, Relógio D'Água, Lisboa, 1998

Trabalhos de RUI PAES

www.ruipaes.com






















































Com o corpo todo à espera
entro para a neblina.
Alameda vazia, silêncio.
Casas erguidas
para fazer um caminho.

Com o corpo todo à espera
chamo-te, sem saber o
nome, sem luz, sem imagem.
Fantasmas prolongam
os passos, adiam a casa.

Com o corpo todo à espera
silencio a vontade
de me aproximar, viver.
Respiro a humidade
do nevoeiro, sempre à espera.



JOÃO BORGES


AO VENTO EM TERRAMOTOS, edição cofre nocturno, Lisboa, 2011

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

14 DE FEVEREIRO - O TAL DIA



OS PÁSSAROS BEIJA- FLOR NESTE 14 DE FEVEREIRO

Dia do Amor, da Paixão, do Desejo. Dia que comemora os vínculos afectivos que homens e mulheres constroem ao longo das suas vidas. Também as Amizades Especiais coloco neste dia. Essas amizades que respiram o desejo e dão provas de amor contínuamente...


























sábado, 12 de fevereiro de 2011

FERNANDO PESSOA -Forever Someone Else - selected poems

Dead is a bend in the road
To die is to slip out of view.
If I listen, I hear your steps
Existing as I exist.

The earth is made of heaven.
Error has no nest.
No one has ever been lost.
All is truth and way.

LIVROS DIFÍCEIS ...



LIVROS DIFÍCEIS - CASA FERNANDO PESSOA - 8 DE FEVEREIRO - 18.30H.

Novo ciclo de conferências - Livros Difíceis

Livros difíceis são aqueles sobre os quais não conseguimos falar. Porque os não lemos (ou a páginas tantas desistimos), ou porque não os percebemos. O embaraço é maior quando são obras que fazem parte do Cânone. Também em relação à literatura é preciso ler muito até se possuir humildade para reconhecer um fracasso ou uma lacuna. Só que ao contrário de tantas outras coisas os livros difíceis continuam lá, na expectativa de que as circunstâncias produzam novas ocasiões de leitura e compreensão. O ciclo de conferências LIVROS DIFÍCEIS, uma das novidades da programação da Casa Fernando Pessoa em 2011, traz a cada edição um leitor especial que procurará a boa circunstância: quando um desses livros de repente se ilumina para outros.
1ª Conferência - Pedro Tamen fala sobre "Em Busca do Tempo Perdido" de Marcel Proust 8 de Fevereiro 18h30 Casa Fernando Pessoa

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

ANISH KAPOOR - Instalação







Nada acontece às pessoas de génio que elas não precisem.

Agustina Bessa -Luís

AS CEM LIÇÕES - CENTENÁRIO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

As Cem Lições, integradas na celebração do Centenário, serão dadas por cem antigos alunos da Universidade de Lisboa. O tópico da lição é de livre escolha de quem a profere. É talvez natural que a experiência universitária e o seu prolongamento, eufórico ou menos eufórico, na vida desses antigos alunos possam ser objecto das suas lições. É igualmente natural que as actividades profissionais ou áreas disciplinares a que, com reconhecido brilho, se dedicaram nas suas vidas, nelas sejam objecto de análise.
Sala de conferências Reitoria da Universidade de Lisboa
18h – 20h
PROGRAMAÇÃO
Lição 18 - Ter. 8 Fevereiro
Nuno Júdice - Tema: Reler Camões
Poeta e professor universitário. N. Mexilhoeira Grande, 1949. Antigo aluno de Filologia Românica na F. Letras da UL. Autor de vários livros de poesia, iniciados por A Noção do Poema (1972), romances e diversos ensaios e estudos. Professor Associado na FCSH da UNL.
Lição 19 - Ter. 8 Fevereiro
Lauro António - Tema: Vamos falar de Cinema
Cineasta. N. Lisboa, 1942. Antigo aluno de História da F. Letras da UL. Dedicou-se à crítica cinematográfica, mantendo o programa televisivo “Lauro António apresenta”. Realizador e documentarista, a sua obra mais conhecida é “Manhã Submersa” (1980).
Lição 20 - Qua. 9 Fevereiro
Guilherme Oliveira Martins - Tema: Cultura de responsabilidade - prestar contas e agir criativamente
Jurista. N. Lisboa, 1952. Presidente da recém constituída Associação de Antigos Alunos da UL, onde cursou Direito. Foi deputado e ministro. Actualmente é Presidente do Tribunal de Contas.
Lição 21 - Qua. 9 Fevereiro
Vasco Graça Moura - Tema: Sôbolos rios que vão: algumas recapitulações
Poeta e ensaísta. N. Foz do Douro, 1942. Antigo aluno da F. de Direito da UL. Obra inclui poesia, ensaio, romance e tradução de clássicos. Foi deputado (AR e PE) e membro do governo. Exerceu cargos de direcção em empresas públicas (INCM) e comissões oficiais (CNC Descobrimentos Portugueses, "Expo'92" de Sevilha).
Lição 22 - Qui. 10 Fevereiro
Carlos Matos Ferreira - Tema: A FCUL, o IST e a Física dos Plasmas: os acasos de uma vida
Professor universitário. N. Lisboa, 1948. Fez os preparatórios na Faculdade de Ciências da UL, licenciando-se em Engenharia Electrotécnica no Instituto Superior Técnico. Trabalha na área da Física de Plasmas. Foi presidente do IST entre 2001 e 2009.
Lição 23 - Qui. 10 Fevereiro
António-Pedro Vasconcelos - Tema: A importância da TV no mundo de hoje
Cineasta. N. 1939, Leiria. Antigo aluno da F. Direito da UL. Co-fundador do Centro Português de Cinema (C.P.C.), que produziu “Perdido por Cem...” (1972), a sua primeira longa metragem. Realizou, entre outros, "O Lugar do Morto" (1984), "Jaime" (1999) e, mais recentemente, "Os Imortais" (2003), "Call Girl" (2007) e "A Bela e o Paparazzo" (2010).
Lição 24 – Sex. 11 Fevereiro
Carlos Caldas - Tema: Da Universidade de Lisboa a Universidade de Cambridge: uma jornada a fazer perguntas
Investigador em Genómica Funcional do Cancro. N. Oliveira de Frades, 1960. Antigo aluno da F. Medicina da UL. Dirige unidades de oncologia clínica em Cambrige, na Universidade e no Cancer Research Institute.
postagem de Lauro António no seu blogue:

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

domingo, 6 de fevereiro de 2011

ANISH KAPOOR - Instalação




contabilidade

venho para te cortar os
dedos em moedas pequenas e
com elas pagar ao coração o
mal que me fizeste

o pior amor é este, o que já é
feito de ódio também. o pior amor
é este, o que já é feito de ódio também. o
pior é amor é este, o que
já é feito de ódio também


valter hugo mãe


contabilidade, Editora Objectiva, 2010

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Retrato de valter hugo mãe por Graça Martins - acrílico s/tela, 70x80cm, 2011



VANESSA CHRYSTIE




valter hugo mãe

havia um rapaz sem coração que tinha medo de não haver nada para lhe tapar aquele vazio. um dia, sem contar, um pássaro ali se pôs e fez ninho. o rapaz admirado, passou a andar mais hirto, lento, para não o fazer cair. sem contar, ouvindo o canto do belo ser, o rapaz pensou que, se tivesse coração, poderia amá-lo. o pássaro, apaixonado também, imitou o fogo.
havia um rapaz de fogo ao peito com medo de se apagar. havia quem dissesse que era fogo de voar, como um amor se elevava. um dia, tão quente no peito, o rapaz abriu a boca e sentiu o vento descer. tão veloz entrou que levou muita coisa de arrasto. de arrasto ali em surpresa entrou uma boa notícia.
havia um rapaz muito alto que, sem contar, e mesmo sem coração, recebeu uma notícia de que havia alguém para si. o rapaz de vento ao peito, por ser tão alto, ama a sua mulher e ainda se reparte por todos os corações.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Fotos de BERNARD FAUCON






















Dois poemas de ISABEL DE SÁ

NO DESENHO

A ruína atinge a superfície das palavras, abre no texto uma fissura de lume. Escrevo o que tu queres, a morte do dia. No desenho o rosto adormecido contrasta com o escuro traço da grafite. Também ele será pó ou alguma flor subterrânea. Mas ao espelho eu sou a personagem principal que se desloca na realidade imaginária dos meus livros. Escrever é triste e lembra a beleza do Outono.


NEGAÇÃO

Persigo uma exigência obscura, corro o risco de entrar na minha realidade. Exponho-me à vergonha de escrever, à erosão que isso provoca. Ouso desejar o suicídio das palavras, saber o que me resta. Na estranha paixão do esquecimento, na falta de superfície do eu que me reveste, escrevo porque digo sempre o mesmo. E não há nada de secreto, a escrita é apenas arte.
O tempo, essa brecha, abre no poema o nosso rosto, na pele se introduz e arruína. Se o meu espírito estiver destinado a afundar-se, se a potência do mal quiser o meu limite, serei a radical negação.
REPETIR O POEMA. Quasi Edições, Famalicão, 2005

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

AO VENTO EM TERRAMOTOS tiragem reduzida de apenas 80 exemplares, encontra-se à venda no Porto - POETRIA e UTOPIA
Lisboa - POESIA INCOMPLETA e LETRA LIVRE

cofrenocturno@gmail.com



Fotos de Bernard Faucon











O tempo enlouquece-me de tão lento.
Se ao menos eu pudesse
faltar a este espectáculo.
Todos os dias a fugir
do que desejo. A apagar
o que arde em mim.

Magoei-me e tenho cicatrizes,
nao vês porque foste embora.

Chorava se conseguisse.
Se fosse possível voar para
o outro lado da luz,
vencer esta dor sem preço.
Abrigar-me da chuva.

A realidade mata o que sou,
o tempo é mais longo do que eu pensava.


João Borges


AO VENTO EM TERRAMOTOS, Edições cofre nocturno, produções culturais, Lisboa, 2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

ARE YOU THERE...

Poema de JOÃO BORGES

Um abalo chega com a aurora boreal:
Seis da manhã, céu limpo. Nuvens douradas
através do vidro, um corpo
adormecido entre os lençois.

Por que é suja a noite, perversa?
Por que regresso ao amanhecer?

Há luzes que não se devem
acender. Queimam
as longas noites dos amantes.


AO VENTO EM TERRAMOTOS, Editora cofre nocturno produções culturais, colecção paciente zero 1, Lisboa, 2011

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Para os amantes de POESIA, o livro AO VENTO EM TERRAMOTOS de JOÃO BORGES vai estar à venda em 4 lugares de culto : Porto - POETRIA e UTOPIA, em Lisboa POESIA INCOMPLETA e LETRA LIVRE. Quem conseguir um exemplar desta raridade é um FELIZARDO...Para os amantes de POESIA os lugares mencionados fazem parte dos seus itenerários...

Poema de JOÃO BORGES

Aqui estão os corpos
alinhados, à espera
do fuzilamento. Encontram
o escuro por dentro,
sem caminho de retorno.

E, longe,
dizem haver luz,
nascimento,
mas não consigo encontrar.
Corro em frente,
para o mesmo lugar,
ando em círculos.
A estrada prolonga-se
até ao deserto onde a noite
é sempre noite.

Fecha os bares onde estou
desencontrado. Leva-me para casa
e adormece-me pela primeira vez.

AO VENTO EM TERRAMOTOS, Edição cofre nocturno, Lisboa, 2011