segunda-feira, 25 de julho de 2011
domingo, 24 de julho de 2011
AMY WINEHOUSE 1983 -2011
Fiquei mesmo triste com a morte de AMY WINEHOUSE. Lembro-me que a primeira vez que reparei nela, foi a propósito de comentários, que apareciam na net, e descarregavam nesta cantora um chorrilho de disparates e agressões, e deliciavam-se com a instabilidade física e psíquica que AMY revelava em palco. Na altura fiquei revoltada, e comentei que ninguém via o SOFRIMENTO, que estava instalado no corpo frágil de AMY. Mais um caso de BIPOLARIDADE, que na tentativa de alguma felicidade ilusória ficou dependente de DROGAS & ÁLCOOL. DESAMADOS até ao limite, sempre no FIO DA NAVALHA, até ao dia em que o CORTE acontece e atingem a ETERNIDADE. Casos como JIM MORRISON, KURT COBAIN, JANIS JOPLIN, MARYLIN MONROE e tantos outros, que nos tocaram pela sua AUTENTICIDADE. Mais uma ESTRELA que se apagou neste MUNDO CRUEL, exigente e VOYEUR do sofrimento....
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Poema de Ingeborg Bachmann
DIZER TREVAS
Como Orfeu, toco
a morte nas cordas da vida
e à beleza do mundo
e dos teus olhos que regem o céu
só sei dizer trevas.
Não te esqueças que também tu, subitamente
naquela manhã, quando o teu leito
estava ainda húmido de orvalho e o cravo
dormia no teu coração,
viste o rio negro
passar por ti.
Com a corda do silêncio
tensa sobre a onda de sangue,
dedilhei o teu coração vibrante.
A tua madeixa transformou-se
na cabeleira de sombras da noite,
os flocos negros da escuridão
nevavam sobre o teu rosto.
E eu não te pertenço.
Ambos nos lamentamos agora.
Mas como Orfeu, sei
a vida ao lado da morte,
e revejo-me no azul
os teus olhos fechados para sempre.O Tempo Aprazado, Assírio & Alvim, selecção, tradução e introdução - Judite Berkemeier e João Barrento, Lisboa, 1992
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Para esta manhã um Soneto de Shakespeare, traduzido por Vasco Graça Moura
CXXI
Bem melhor é ser vil do que por vil havido
quando a quem o não é o sê-lo se censura,
e vemos, como vil, justo prazer perdido
só porque o olhar dos mais - não nós - o desfigura.
Porque há-de agora o falso e turvo olhar alheio
cuidar da salvação deste meu sangue ardente?
E espiar-me as fraquezas quem delas é mais cheio
e teima em dizer mau o que eu julgo excelente?
Pois eu sou o que sou; e eles que denunciam
meus erros, vêem os seus e nisso são exactos.
Sou recto e eles oblíquos; ser nunca poderiam
seus baixos pensamentos medida dos meus actos,
a menos que mantenham esta geral maldade
e os homens todos nela governem a vontade.
50 Sonetos de Shakespeare, Editorial Inova, Porto, 1978
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Poema de Alejandra Pizarnik
ANÉIS DE CINZA
A Cristina Campo
São as minhas vozes cantando
para que não cantem eles,
os amordaçados tristemente na aurora
os vestidos de pássaro desolado na chuva.
Há na espera,
um rumor de lilás rompendo-se.
E há, quando vem o dia,
uma partição do sol em pequenos sóis negros.
E quando é de noite, sempre,
uma tribo de palavras mutiladas
procura asilo na minha garganta
para que não cantem eles,
os funestos, os donos do silêncio.
sexta-feira, 15 de julho de 2011
ESCASSEZ - Gastão Cruz
14
Às vezes despedimo-nos tão cedo
que nem lágrimas há que nos suportem o
peso da voz à solidão exposta
ou
de lisboa no corpo o peso triste
Às vezes é tão cedo que nos vemos
omitidos
enquanto expõe
o peso insuportável do amor
a despedida
É tão cedo por vezes que lisboa
estende sobre os corpos o desgosto
ORGÃO DE LUZES, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1990
Poema de Gastão Cruz
O CAOS DO SONHO
Estou deitado no sonho não
perturbes o caos que me constrói
Afasta a tua mão
das pálpebras molhadas
Debaixo delas passa
a água das imagensORGÃO DE LUZES, Biblioteca de Autores Portugueses, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1990
terça-feira, 12 de julho de 2011
Fernando Pessoa
»Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.»O Guardador de Rebanhos
Mário Cesariny
MIGRAÇÃO
Ah
não me venham dizer
oh
não quero saber
ah
quem me dera esquecer
só e incerto é que o poema é aberto
e a Palavra flui inesgotável!
Nobilíssima Visão, Assírio & Alvim
sábado, 9 de julho de 2011
Frederico Garcia Lorca
Gazela da morte sombria
Quero dormir como dormem as maçãs.
fugir do tumulto dos cemitérios.
Quero dormir como dorme aquele moço
que queria cortar o coração no alto mar.
Não quero que me repitam que os mortos não perdem sangue,
que a boca apodrecida continua a pedir água.
Não quero conhecer os suplícios que nos vêm da erva
nem da lua com boca de serpente
que trabalha antes do amanhecer.
Quero dormir um pouco,
um pouco, um minuto, um século;
mas que todos saibam que não estou morto;
que há um estábulo de oiro nos meus lábios;
que sou o pequeno amigo do vento oeste;
que sou a imensa sombra das minhas lágrimas.
Cobre-me com um véu pela manhã,
porque me atirará punhados de formigas,
e molha com água dura os meus sapatos
para que neles resvale a pinça do lacrau.
Porque quero dormir como dormem as maçãs
para aprender um pranto que me limpe de terra;
porque quero viver com aquele moço sombrio
que queria cortar o coração no alto mar.
Antologia poética, selecção e tradução de Eugénio de Andrade, Coimbra Editora Limitada, 1946
Quero dormir como dormem as maçãs.
fugir do tumulto dos cemitérios.
Quero dormir como dorme aquele moço
que queria cortar o coração no alto mar.
Não quero que me repitam que os mortos não perdem sangue,
que a boca apodrecida continua a pedir água.
Não quero conhecer os suplícios que nos vêm da erva
nem da lua com boca de serpente
que trabalha antes do amanhecer.
Quero dormir um pouco,
um pouco, um minuto, um século;
mas que todos saibam que não estou morto;
que há um estábulo de oiro nos meus lábios;
que sou o pequeno amigo do vento oeste;
que sou a imensa sombra das minhas lágrimas.
Cobre-me com um véu pela manhã,
porque me atirará punhados de formigas,
e molha com água dura os meus sapatos
para que neles resvale a pinça do lacrau.
Porque quero dormir como dormem as maçãs
para aprender um pranto que me limpe de terra;
porque quero viver com aquele moço sombrio
que queria cortar o coração no alto mar.
Antologia poética, selecção e tradução de Eugénio de Andrade, Coimbra Editora Limitada, 1946
Frederico Garcia Lorca
AI!
O grito deixa no vento
uma sombra de cipreste.
(Deixai-me neste campo
chorando)
Tudo se perdeu no mundo.
Ficou apenas o silêncio.
(Deixai-me neste campo,
chorando.)
O horizonte sem luz
está mordido de fogueiras.
(Já vos disse que me deixeis,
neste campo,
chorando.)
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Uma Casa na Escuridão
«Quando escrevo, tocamo-nos. O amor é tudo o que existe. Algo do seu rosto e da sua limpidez atravessa-me e fica escrito em palavras suas. E tudo isto é um mistério de beleza, tudo isto (...) é impossível e verdadeiro»
José Luís Peixoto
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Fragmento do romance "Paula" de ISABEL ALLENDE
« Quando o terror me paralisa, fecho os olhos e abandono-me com a sensação de mergulhar em águas revoltas, por entre os golpes furiosos das vagas. Por instantes que são na verdade eternos, julgo que estou a morrer, mas a pouco e pouco compreendo que continuo viva apesar de tudo (...) Deixo-me arrastar sem opor resistência e aos poucos o medo retrocede. (...) Choro sem soluçar, destroçada por dentro, como talvez chorem os animais. (...) Decidi não me aliviar com drogas; este é um caminho que devo percorrer a sangrar.»
domingo, 3 de julho de 2011
ALGERNON CHARLES SWINBURNE
ROSAMUNDA
(de Rosamond, 1860)
O medo é um coxim para os pés do amor,
De cores matizadas para o seu conforto,
Vermelho doce e branco exangue e azul
Muito como o das flores, e o verde casado ao Verão
E o doce púrpura namorado do mar e o negro calcinado.
Todas as formas coloridas do medo, agouro e mudança,
Profecias doentias e rumores coxos do calcanhar,
Presciências e astrologias,
Perigosas inscrições e notas registadas,
Todos estão cobertos pela falda do amor
Quando ele a sacode, ficam marcados dos seus dedos,
Batidos e soprados na face poeirenta do ar.
Os Pré-Rafaelitas, antologia poética, Assírio & Alvim, Lisboa, 2005
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Poema de ISABEL DE SÁ
MANHÃ DE AGOSTO
Nesta manhã de Agosto
encontrei o papel onde tinha escrito
a idade em que Blaise Cendrars
perdeu a mão direita
e fiquei a sentir a dor que me atormentava. Não tomei aspirina
nem esqueci a tua carta
de ontem, aquele momento
em que dizes eu querer
arrastar-te comigo "para esse universo
onde a vida é trocada por palavras".
Tenho lido os poetas
da minha geração. Conheço
o primeiro poema, aquele que inaugurou
a vida, também em mim.
Cansada de ir à praia, à piscina,
procuro livros, uma emoção linguística,
o verso desconhecido.
Guardei uma frase de Musil, na caixa
onde tenho os selos, um minúsculo relógio
que decidi não usar.
Não posso viver sem a música de Schubert,
ou aquela peça de Brahms - tudo isto
são palavras, a vida passa-se lá fora,
o Inverno há-de vir e não poderei
totalmente fugir ao desconforto.
Falava-se de As Túlipas
e começo a entender. Esta música,
estas palavras, a morte na dobra do lençol,
meu frio corpo na penumbra, no paraíso inicial
da anestesia. Perdida a razão no inferno
da dor, a cabeça irreal, meu poema
esquecido na margem do sono. A morfina,
as enfermeiras, tudo o que pudesse
polir o tormento.
E hoje acabei
por tomar aspirina, gastar o rosto,
permanecer em casa.
Repetir o Poema, Quasi Ediçoes, 2005
quinta-feira, 30 de junho de 2011
terça-feira, 28 de junho de 2011
Poema de António Gancho
PRISÃO
Tu tinhas uma nascença que era uma prisão
uma certeza de estar concreto e unido
com a matéria de pedra
Que era uma tua sedimentação de vida
uma tua construção de movimentos a sair das grades
Era rico em Sol o teu peito de grades
concreto e unido sedimentavas dias de espera
duma letra que te abrisse os instintos para
falares de nada.
Era uma certeza de tu estares unido como uma raiz de mesa própria
uma certeza de estares virado para um
nascente de inconcretidade material
tinhas uma mão de peça de artilharia
de disparares para fora o conteúdo dos dias com
raiz de mesa própria
Eras um sol a nascer-te no sítio da grade
onde se punham ramos de quinta-feira de campo.
Tinhas uma natureza de estares sentado
Sobre uma cadeira que era a tua
esperança de estares unido com a nascença do movimento.
Tinhas um cantarem-te os cabelos no dia de dentro
um ser-te uma mágica a fusão de
olhar com a dimensão de esperança fora.
Eras-te igual à matéria da tua animação de selva
íntima
igual ao cantar-te seródio o tempo de pendular
na cabeça
Conhecias uma esperança de cortares os cabelos com uma
navalha de vento
mas era tua inspiração de um modo interior de vida.
Criavas um espaço aberto na clareira duma grade
que era um espaço celeste a cobrir de grego o cimento
Tu tinhas uma invenção de disparares saúde de dias
por fora da mão
Tu tinhas uma sensação absoluta de estares aberto com o espaço
duma grade
tinhas um ser-te grave o olhar para fora do dia
inaugurado de verde
Que se te abrisse a letra
era desejo de teres fonemas no nada de uma mão aberta
sem um rogar de branco.
O sol aberto em sentido de alusão a uma palavra de ti
era nada de o poente estar no sentido inverso.
O Ar da Manhã, Assírio & Alvim, 1995, Lisboa
Tu tinhas uma nascença que era uma prisão
uma certeza de estar concreto e unido
com a matéria de pedra
Que era uma tua sedimentação de vida
uma tua construção de movimentos a sair das grades
Era rico em Sol o teu peito de grades
concreto e unido sedimentavas dias de espera
duma letra que te abrisse os instintos para
falares de nada.
Era uma certeza de tu estares unido como uma raiz de mesa própria
uma certeza de estares virado para um
nascente de inconcretidade material
tinhas uma mão de peça de artilharia
de disparares para fora o conteúdo dos dias com
raiz de mesa própria
Eras um sol a nascer-te no sítio da grade
onde se punham ramos de quinta-feira de campo.
Tinhas uma natureza de estares sentado
Sobre uma cadeira que era a tua
esperança de estares unido com a nascença do movimento.
Tinhas um cantarem-te os cabelos no dia de dentro
um ser-te uma mágica a fusão de
olhar com a dimensão de esperança fora.
Eras-te igual à matéria da tua animação de selva
íntima
igual ao cantar-te seródio o tempo de pendular
na cabeça
Conhecias uma esperança de cortares os cabelos com uma
navalha de vento
mas era tua inspiração de um modo interior de vida.
Criavas um espaço aberto na clareira duma grade
que era um espaço celeste a cobrir de grego o cimento
Tu tinhas uma invenção de disparares saúde de dias
por fora da mão
Tu tinhas uma sensação absoluta de estares aberto com o espaço
duma grade
tinhas um ser-te grave o olhar para fora do dia
inaugurado de verde
Que se te abrisse a letra
era desejo de teres fonemas no nada de uma mão aberta
sem um rogar de branco.
O sol aberto em sentido de alusão a uma palavra de ti
era nada de o poente estar no sentido inverso.
O Ar da Manhã, Assírio & Alvim, 1995, Lisboa
Poema de Fátima Maldonado
A URNA NO DESERTO
Já não páras ao som das laranjeiras,
o silvo da paixão amorteceu,
o lacerar dos grifos
agita devagar a romãzeira,
horizonte vivaz anoiteceu.
Ardem sevícias nos pálios das comédias,
ruem gonzos nos pátios das contritas,
repúdios acontecem em vésperas de concílios,
impedem-me os quebrantos nas rotinas,
fere-se a uva no copo de cristal,
o bago não ateia contusões
nem cega a fruta o gume do cilício
e vibra o pulso ao impelir a dança.
Círios amotinados não acendem,
o leito não acolhe favoritas.
À sombra da cintura a magnólia
urge pavões,
cisma na voz ausente desespero,
range areia no triângulo da pata.
O trípode da morte encosta-se à coluna
e o vento não abriga, da roseira, a urna no deserto.
A propósito de "estruturas"
"O perverso afectivo deixa a presa pela sombra, constituindo a sombra para ele a verdadeira presa"
C. David
domingo, 26 de junho de 2011
LILLIAS FRASER - HÉLIA CORREIA
Charles foi belo, ainda que por pouco tempo. O seu retrato, àquela época, permite-nos ver uma espécie de iluminação que afinal resultava simplesmente da sua pele de rapazinho quase imberbe. Falam do seu sucesso entre as mulheres. Mobilizou-as para a guerra, é certo, com os seus galanteios; mas também homens lhe cantavam a beleza, ao Bonnie Prince, o lindo príncipe, e isto não teve pouca importância na fatalidade. (...)
Durante o crescimento, há um instante em que o adolescente arruma as lendas que o foram educando na infância. E há depois o instante em que transpõe o portão sem regresso que o conduz para o terreno da maturidade. Entre esses dois momentos, fica o espaço em que tudo é vivido brutalmente, com uma intensidade que parece mais de ordem química que sentimental.
Relógio D'Água, 1ªedição 2001, 2ªedição 2002, Lisboa
Relógio D'Água, 1ªedição 2001, 2ªedição 2002, Lisboa
quinta-feira, 23 de junho de 2011
É PROIBIDO PENSAR - João dos Santos - Eu Agora Quero Ir-me Embora - Conversas com João Sousa Monteiro, Assírio & Alvim,, 1990
J.S.M. - Há uma coisa que me indigna na maneira civilizada de se viver a tristeza, que é a forma como se ensinam as crianças a negá-la.
Não é possível a uma criança ter respeito pela tristeza se tudo à sua volta a ensina a fazer precisamente o contrário. Mas não ter respeito pela tristeza, equivale, creio eu, a não ter respeito por uma parte fundamental de nós próprios. E exactamente o mesmo se poderia dizer acerca do silêncio.
J.S. - Estou de acordo. De facto a ideia do silêncio e da tristeza é longa a adquirir, e portanto longa a compreender também pela própria pessoa e pelos outros. Há provavelmente uma primeira etapa onde a criança se apercebe de que há coisas que devem ficar para nós, ou que se devem deixar ficar só com os outros, e há outras que são susceptíveis de ser comunicadas aos outros. Evidentemente que a criança vai descobrindo muitas formas de ultrapassar o problema, de o iludir, de o resolver mesmo. São os seus contos, as suas fantasias, as suas brincadeiras, os seus simulacros, com papel, com desenhos, com jogos e com histórias que conta e ouve contar, e a que acrescenta depois outras histórias, que permitem à criança expor de uma certa forma o conteúdo mais fundo e mais provável da sua própria angústia. Aliás, com os sonhos é a mesma coisa, e muitas vezes um sonho aparentemente banal envolve uma quantidade de problemas que ajudam a criança a resolver o seu problema fundamental. E um pesadelo, que parece não ter significado, é qualquer coisa que faz a criança ultrapassar, de uma forma importante, uma angústia sua. (...)
Página nº248 do Livro de Artista de Isabel de Sá
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Poema de Diogo Vaz Pinto
UM FIO SOLTO
Encontrá-lo aí mesmo, como se
pendurado no vazio. Desenredá-lo levemente
e puxar, procurando aquele ponto de tensão
sem, no entanto, o encontrar. Puxar mais e
mais, fervorosamente. Daí a nada
mais parece que é o fio que te puxa a ti.
E puxa, horrorizando-te, enquanto
imaginas que costura do teu mundo
agora se descose.
NERVO, AVERNO, 2011
Encontrá-lo aí mesmo, como se
pendurado no vazio. Desenredá-lo levemente
e puxar, procurando aquele ponto de tensão
sem, no entanto, o encontrar. Puxar mais e
mais, fervorosamente. Daí a nada
mais parece que é o fio que te puxa a ti.
E puxa, horrorizando-te, enquanto
imaginas que costura do teu mundo
agora se descose.
NERVO, AVERNO, 2011
segunda-feira, 20 de junho de 2011
SE VOLTASSEMOS A DANÇAR
Se a cabeça se lançasse
estilhaçada pelo espaço
sujando o céu.
Se ao sair de casa
aos tropeções pelas escadas,
não reparasse nas ruas
encardidas de todas
as formas de morrer.
Se eu tivesse o corpo
seco de ti.
Se voltássemos a dançar
na lenta vertigem do amor,
eu seria então a árvore
repleta de folhagem.
Se a cabeça se lançasse
estilhaçada pelo espaço
sujando o céu.
Se ao sair de casa
aos tropeções pelas escadas,
não reparasse nas ruas
encardidas de todas
as formas de morrer.
Se eu tivesse o corpo
seco de ti.
Se voltássemos a dançar
na lenta vertigem do amor,
eu seria então a árvore
repleta de folhagem.
EDITORS/YOU DON'T KNOW LOVE
Palavras ardem
entre mim e o papel.
Perguntam por que já não
fazes parte.
A cidade inteira abriu ruas
para me indicar um caminho.
Passeios encardidos de chiclets,
prédios em construção,
espaços escuros
onde cabem delírios
que a tua voz não desmente.
Estas palavras ardem
proliferam nas areias do deserto.
E eu sou
o caminhante, exilado
entregue às sombras
de um corpo só.
Palavras ardem
entre mim e o papel.
Perguntam por que já não
fazes parte.
A cidade inteira abriu ruas
para me indicar um caminho.
Passeios encardidos de chiclets,
prédios em construção,
espaços escuros
onde cabem delírios
que a tua voz não desmente.
Estas palavras ardem
proliferam nas areias do deserto.
E eu sou
o caminhante, exilado
entregue às sombras
de um corpo só.
sábado, 18 de junho de 2011
quinta-feira, 16 de junho de 2011
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