terça-feira, 13 de dezembro de 2011
MARIA GABRIELA LLANSOL : Um Arco Singular, Livro de Horas II - Texto de JOÃO BORGES
SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA A ESCREVER
Maria Gabriela Llansol não é uma autora de fácil leitura. Seria interessante quantificar o trabalho crítico já desenvolvido sobre os seus livros (1). Não me presto a este trabalho, mas as críticas e ensaios com que ocasionalmente me tenho cruzado, mostram que as leituras possíveis de Llansol são tantas quantos leitores houver, ou até mais, porque o mesmo leitor não consegue ter apenas uma leitura desta obra. Acontece assim com toda a grande literatura, mas a natureza do texto Llansoliano é particularmente incitante a esta situação.
Falecida a autora em 2008, livros inéditos continuam e, esperemos, continuarão, a ser publicados. É importante que assim seja, pois cada novo livro é mais uma porta para um universo que pode ser fechado, mas não é blindado, e nele podemos penetrar através da leitura.
O projecto da série de Livros de Horas foi o último da autora, sendo o primeiro destes, 'Uma Data em Cada Mão' (2009), o livro pensado por Llansol para suceder a 'Os Cantores de Leitura' (2007).
O presente 'Um Arco Singular: Livro de Horas II' é pois o segundo volume desta série, cobrindo os anos de 1977 e 1978, passados em Jodoigne.
É com bastante pertinência que João Barrento e Maria Etelvina Santos assinalam na introdução algumas distinções entre os dois Livros de Horas até agora publicados. Por um lado predominam registos tendencialmente mais pessoais (por vezes mesmo íntimos) do que no primeiro volume. (...) Por outro lado, põe-se mais à vista a oficina de Llansol, sobretudo no que se refere ao trabalho de entrosamento da experiência com a narração e a escrita (pags 14,15).
Dois livros se encontram aqui em formação: 'A Restante Vida' (1982) e 'Na Casa de Julho e Agosto' (1984), segundo e terceiro volumes da trilogia Geografia de Rebeldes.
'Um Arco Singular' será, e aqui retorno à ideia da abertura do mundo fechado, uma excelente leitura a fazer paralelamente à destes livros, em particular de 'Na Casa de Julho e Agosto'. Aqui encontramos diversos registos das pesquisas de Llansol sobre as beguinas e a alquimia -dois universos que em muito definem o livro de 1984 -e também a aproximação, que se dá a nível de uma intimidade reflexiva, às personagens que integram os livros -caso de Luís M., das Damas do Amor Completo e de Hadewijch. A informação que temos aqui sobre estes assuntos menos comuns, pelo menos na cultura portuguesa, e as aproximações de Llansol às suas figuras podem, portante, ser boas formas de acedermos à génese dos livros que a escritora desenvolvia à data, e também uma forma de perceber a sua origem -o momento em que estas figuras e estes universos chegam à escrita de Maria Gabriela Llansol (2).
Os processos são complexos e por vezes demorados, mas -por isso mesmo -extremamente fiéis ao que terá sido a dinâmica de escrita dos livros. Tão fiéis que, não raras vezes, a fulgurância destes escritos diarísticos é capaz de nos surpreender, de nos comover.
É aqui que entra outra característica que me parece crucial nestes Livros de Horas e que é o seu valor enquanto texto isolado. Ou seja, se bem que a leitura de 'Um Arco Singular' seja um bom paralelo aos dois livros cuja escrita acompanha, é importante que não se pense que a leitura do diário é mero complemento. Pelo contrário, estes textos demonstram-se auto-suficientes e, na maior parte das vezes, acabados. Ainda que a escrita llansoliana tenha sido sempre pródiga em assumir o fragmentário e dele aproveitar as melhores potencialidades, muitos destes textos são realmente textos acabados, dispensando qualquer outro apoio para a leitura.
Voltando ao adequado apontamento dos introdutores, 'Um Arco Singular' também dá uma visão da vida pessoal de Maria Gabriela Llansol. São raros os textos realmente íntimos, mas muito menos raros são os textos que nos dão uma perspectiva do quotidiano da escritora. Não se trata de textos confessionais, mas, na maioria dos casos, de textos bastante analíticos sobre as condição em que, à data, viviam Llansol e o marido, Augusto Joaquim. Dentro deste tema encontramos as dificuldades económicas, os crescentes problemas na Quinta de Jacob, as pesquisas de Llansol sobre a sua família, e ainda alguns trabalhos, como cozer o pão ou costurar. E se em 'Uma Data em Cada Mão' a situação editorial de Llansol não lhe merecia grandes comentários, 'Um Arco Singular' contraria essa tendência. Recorde-se que o diário anterior inicia em 1972, um ano antes da edição de 'Depois de Os Pregos na Erva', e a ausência de anotações sobre ela pode causar alguma estranheza (Além de Llansol ter assegurado os custos da edição na Afrontamento, representa também o encontrar de um editor após onze anos sem publicar.), talvez isso se possa explicar pelo facto de Llansol não ter dado particular importância a esse livro -dos três textos que o compõem, apenas um foi reeditado.
Neste segundo livro, encontramos já em fase de edição 'O Livro das Comunidades' (1977), e com a edição, não só análises da situação editorial como até cartas ao editor, a antologiadores, a amigos, família e críticos; e ainda algumas notas sobre reacções ao livro, particularmente a primeira de duas críticas de João Gaspar Simões.
Um outro assunto recorrente neste Livro de Horas é o das leituras de Llansol. Talvez este assunto possa ser um meio-termo entre a escrita e o quotidiano da autora. Porque se a leitura preenche uma considerável parte do dia-a-dia de que o livro dá conta, a leitura muitas vezes é fonte de reflexão -que pode ou não ter parte nos romances em formação -e também recolha de informação necessária para a escrita. Assim encontramos autores que não têm uma relação especial com os livros que Llansol escrevia, caso de Katherine Mansfield ou Virginia Woolf; e também outros que são procurados pela informação que fornecem, caso de Henri Corbin, Regine Pernoud, Julius Evola, entre muitos outros.
A escrita deste diário é também em parte paralela a 'Finita' (1987), segundo diário publicado em vida pela autora, que cobre os anos de 1974 a 1977. Uma comparação nem muito profunda entre os dois livros, partindo do princípio que 'Finita' é um conjunto seleccionado por Llansol de cadernos como os que dão origem à nova série, pode elucidar-nos sobre as diferenças entre os três diários editados em vida e estes, que se prendem essencialmente com a questão do texto acabado. De certa forma, 'Finita' tem também uma certa presença em 'Um Arco Singular'.
Acima de tudo, este livro dá-nos a observar uma mulher que luta pela sua escrita -por descobri-la, por formulá-la, por solidificá-la. E daí nos fica também a consciência de que foi essa a ocupação e a preocupação de Maria Gabriela Llansol. O título deste volume, seleccionado pelos organizadores, é sugerido a Llansol pela leitura de Rilke. Porém, a mim fez-me pensar na famosa Arte Poética II de Sophia de Mello Breyner Andresen: O verso é denso, tenso como um arco, exactamente dito, porque os dias foram densos, tensos como arcos, exactamente vividos (3). O mesmo podemos dizer do texto de Maria Gabriela Llansol.
NOTAS:
(1) O presente texto tem data de 8 de Outubro de 2010. Nas Terceiras Jornadas Llansolianas, em Sintra, a 24 e 25 de Setembro de 2011, foi editado um 'Caderno de Leituras' (ed. Mariposa Azual) que recolhe alguns textos críticos publicados sobre a autora, particularmente nos livros em que está presente a temática da Europa.
(2) Também nas Terceiras Jornadas Llansolianas foi lançado o livro/álbum 'Europa em Sobreimpressão: Llansol e as Dobras da História' (ed. Assírio e Alvim) em que esta questão, entre outras, tem lugar.
(3) Poema publicado pela primeira vez na revista Távola Redonda em Janeiro de 1963; e depois coligido no livro 'Geografia' (ed. Moraes), de 1967.
Postagem de 22 de Outubro de 2011 -Blogue http://camelecocacola.blogspot.com
domingo, 11 de dezembro de 2011
QUADROS DE BOLSO
Os meus trabalhos para a colectiva Arte Móvel que inaugurou esta sexta, 9 de dezembro no espaço João Pedro Rodrigues, rua Nossa Senhora de Fátima, Porto (ao lado do Labhirinto). Acrílico sobre tela, 13x18cm.
QUADROS E ESCULTURAS DE BOLSOO projecto “Arte Móvel 2011” vai de encontro à ideia que originou a Exposição "Arte Móvel sobre T-shirts" - Colectiva apresentada nesta Galeria no verão de 2010 – revendo-se por isso com o mesmo intuito de estimular a criação e produção de obras de arte passíveis de se transportar.
Para fechar o ano de 2011, o Espaço João Pedro Rodrigues lançou o repto a mais de trinta artistas de diversas áreas criativas, para desenvolverem trabalhos originais que se enquadrassem em duas grandes vertentes: Quadros de Bolso e Esculturas de Bolso.
Para a mostra dos Quadros de Bolso, contámos com o patrocínio da Papelaria Sousa Ribeiro, a qual disponibilizou três telas por artista (formato 13x18cm).
Aos artistas convidados foi lançado ainda o desafio de criação de obras tridimensionais dando origem à mostra paralela de Esculturas de Bolso, de suportes e técnicas de intervenção livres.
O resultado do trabalho desenvolvido pelo grupo de artistas, culmina na Exposição Colectiva Arte Móvel 2011, a qual poderá visitar a partir de 9 de Dezembro, na Galeria João Pedro Rodrigues. A exposição ficará patente até 18 de Janeiro de 2012.
A Galeria João Pedro Rodrigues aguarda a sua visita!
sábado, 10 de dezembro de 2011
O AMIGO QUE DORME
Que vamos dizer esta noite ao amigo que dorme?
Sobem-nos aos lábios palavras frágeis
de um atroz sofrimento. Vamos olhar para ele,
para os seus lábios inúteis que permanecem silenciosos,
e falar baixinho.
A noite terá o rosto
da antiga dor que todas as tardes renasce
impassível e viva. O silêncio longínquo
sofrerá como uma alma, mudo, no escuro.
Vamos dirigir-nos à noite que respira baixinho.
Ouviremos os instantes a ressumar no escuro
para lá das coisas, na espera ansiosa da manhã,
que aparecerá de repente a imprimir as coisas
no silêncio morto. A luz inútil
descobrirá o rosto estático do dia. Os instantes
calar-se-ão. E as coisas falarão baixinho.
20 de Outubro de 1937
Cesare Pavese
O VÍCIO ABSURDO, &etc, 1990
Que vamos dizer esta noite ao amigo que dorme?
Sobem-nos aos lábios palavras frágeis
de um atroz sofrimento. Vamos olhar para ele,
para os seus lábios inúteis que permanecem silenciosos,
e falar baixinho.
A noite terá o rosto
da antiga dor que todas as tardes renasce
impassível e viva. O silêncio longínquo
sofrerá como uma alma, mudo, no escuro.
Vamos dirigir-nos à noite que respira baixinho.
Ouviremos os instantes a ressumar no escuro
para lá das coisas, na espera ansiosa da manhã,
que aparecerá de repente a imprimir as coisas
no silêncio morto. A luz inútil
descobrirá o rosto estático do dia. Os instantes
calar-se-ão. E as coisas falarão baixinho.
20 de Outubro de 1937
Cesare Pavese
O VÍCIO ABSURDO, &etc, 1990
DIAS DE 1993
Não voltei a encontrá-los - esses tão depressa perdidos....
esses olhos poéticos, esse pálido
rosto....no anoitecer da rua....
Não os encontrei mais - aos adquiridos inteiramente por acaso,
que tão facilmente deixei;
e que depois com ansiedade queria.
Esses olhos poéticos, esse pálido rosto,
aqueles lábios não os encontrei mais.
Konstandinos Kavafis
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis, Relógio D'Água, 1994
Não voltei a encontrá-los - esses tão depressa perdidos....
esses olhos poéticos, esse pálido
rosto....no anoitecer da rua....
Não os encontrei mais - aos adquiridos inteiramente por acaso,
que tão facilmente deixei;
e que depois com ansiedade queria.
Esses olhos poéticos, esse pálido rosto,
aqueles lábios não os encontrei mais.
Konstandinos Kavafis
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis, Relógio D'Água, 1994
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Mário Cesariny
You Are Welcome To Elsinore
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras noturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos conosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o
amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras noturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos conosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o
amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
domingo, 4 de dezembro de 2011
OH, NÃO AMES DEMASIADO TEMPO
Amada, não ames demasiado tempo;
Eu amei tanto, tanto
E fui passando de moda
Como uma velha canção.
Ao longo desses anos da nossa juventude
Não podíamos distinguir
O nosso pensamento do pensamento alheio
Porque tão unidos éramos apenas um.
Mas em breve, breve instante ela mudou -
Oh, não ames demasiado tempo
Ou irás passando de moda
Como uma velha canção.
W.B. Yeats
UMA ANTOLOGIA, Assírio & Alvim, 1996
Amada, não ames demasiado tempo;
Eu amei tanto, tanto
E fui passando de moda
Como uma velha canção.
Ao longo desses anos da nossa juventude
Não podíamos distinguir
O nosso pensamento do pensamento alheio
Porque tão unidos éramos apenas um.
Mas em breve, breve instante ela mudou -
Oh, não ames demasiado tempo
Ou irás passando de moda
Como uma velha canção.
W.B. Yeats
UMA ANTOLOGIA, Assírio & Alvim, 1996
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
basta que te dispas até te doeres todo,
retoma-te no tocado, no aceso,
e fica cego e,
por memória do tacto, desfaz os nós,
muitos, muito
atados uns nos outros,
e que inteiramente te alcance o ar, e,
depois de te haver abraçado de alto a baixo, apareça já
inextricável, ar
falado, a fino ouvido: cacofónico,
mas de um modo exacto, acho,
música inquieta, inconjunta, impura,
isso: essa música
Herberto Helder
A FACA NÃO CORTA O FOGO, súmula & inédita, Assírio & Alvim, 2008
retoma-te no tocado, no aceso,
e fica cego e,
por memória do tacto, desfaz os nós,
muitos, muito
atados uns nos outros,
e que inteiramente te alcance o ar, e,
depois de te haver abraçado de alto a baixo, apareça já
inextricável, ar
falado, a fino ouvido: cacofónico,
mas de um modo exacto, acho,
música inquieta, inconjunta, impura,
isso: essa música
Herberto Helder
A FACA NÃO CORTA O FOGO, súmula & inédita, Assírio & Alvim, 2008
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
FUMO AO ENTARDECCER
Depois de ter cheirado o perfume agridoce da morte,
depois de tantos corpos e paixões e sonhos.
olho agora, sobre a mesa, um copo vazio,
uns livros, papeis em desordem, velhas fotografias,
a luz do entardecer, apagando-se na janela.
Como numa natureza morta de Zurbarán
- a natureza morta, a natureza eterna -,
deixo-me viver já sem perguntas,
enquanto o fumo do cigarro desenha
todos os meus rostos: o que fui, o que sou,
o que serei, no frágil e caprichoso tempo.
Juan Luis Panero
Poemas, tradução e prefácio de Joaquim Manuel Magalhães, Relógio D'Água, Lisboa, 2003
Depois de ter cheirado o perfume agridoce da morte,
depois de tantos corpos e paixões e sonhos.
olho agora, sobre a mesa, um copo vazio,
uns livros, papeis em desordem, velhas fotografias,
a luz do entardecer, apagando-se na janela.
Como numa natureza morta de Zurbarán
- a natureza morta, a natureza eterna -,
deixo-me viver já sem perguntas,
enquanto o fumo do cigarro desenha
todos os meus rostos: o que fui, o que sou,
o que serei, no frágil e caprichoso tempo.
Juan Luis Panero
Poemas, tradução e prefácio de Joaquim Manuel Magalhães, Relógio D'Água, Lisboa, 2003
MARIANNE FAITHFULL/THERE IS A GHOST
A cidade anoitece e as ruas
enchem-se de quem só vive
para noitadas e engates. Este café
em plena Baixa, recolhe
os que procuram ficar sós.
O mundo conta-nos histórias
de príncipes encantados,
bonitos e bons amantes.
João Borges
As Sombras de um Corpo Só, Lisboa 2011
A cidade anoitece e as ruas
enchem-se de quem só vive
para noitadas e engates. Este café
em plena Baixa, recolhe
os que procuram ficar sós.
O mundo conta-nos histórias
de príncipes encantados,
bonitos e bons amantes.
João Borges
As Sombras de um Corpo Só, Lisboa 2011
Os livros que nunca lemos
"Quando um dia, numa entrevista, perguntam a Borges quem era ele, respondeu que era todos os livros que lera. Eu quero crer que somos todos os livros que lemos mas igualmente os que não lemos.
(...) Às vezes pergunto-me quem raio seria eu, se em vez de ter lido os livros que li, tivesse antes lido os que não li.
Provavelmente cruzar-me-ia comigo na rua e não me reconheceria."
Manuel António Pina
(...) Às vezes pergunto-me quem raio seria eu, se em vez de ter lido os livros que li, tivesse antes lido os que não li.
Provavelmente cruzar-me-ia comigo na rua e não me reconheceria."
Manuel António Pina
sábado, 19 de novembro de 2011
INÊS LEITÃO
O meu corpo é a minha companhia.
( a partir da obra da pintora Graça Martins)
O meu corpo é a minha companhia
do cheiro dos meus dedos
ao desenho do mundo,
curva silenciosa da minha sobrancelha.
O meu corpo é a minha companhia
das unhas pequenas às coxas empurradas
pela gordura da carne,
antigo refego de barriga.
O meu corpo é a minha companhia
dos pêlos das minhas pernas
até à boca do meu corpo
posicionada pela natureza do meu género
entre as pernas
e cosida à nascença pela minha mãe.
O meu corpo é a minha companhia
quando o profano com outros corpos
e ele em silêncio se procura inteiro
na serenidade da frescura da manhã.
O meu corpo é a minha companhia
quando ao repousar o fogo me guia
e dessa certeza nasce poesia.
O meu corpo é a minha companhia
O meu corpo é a minha companhia.
O meu corpo é a minha companhia.
( a partir da obra da pintora Graça Martins)
O meu corpo é a minha companhia
do cheiro dos meus dedos
ao desenho do mundo,
curva silenciosa da minha sobrancelha.
O meu corpo é a minha companhia
das unhas pequenas às coxas empurradas
pela gordura da carne,
antigo refego de barriga.
O meu corpo é a minha companhia
dos pêlos das minhas pernas
até à boca do meu corpo
posicionada pela natureza do meu género
entre as pernas
e cosida à nascença pela minha mãe.
O meu corpo é a minha companhia
quando o profano com outros corpos
e ele em silêncio se procura inteiro
na serenidade da frescura da manhã.
O meu corpo é a minha companhia
quando ao repousar o fogo me guia
e dessa certeza nasce poesia.
O meu corpo é a minha companhia
O meu corpo é a minha companhia.
O meu corpo é a minha companhia.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
ANNA AKHMATOVA
(Sobre os anos 10)
E nenhuma infância cor-de-rosa...
Nem pequeninas sardas, nem ursinhos, nem aneis de cabelo,
Nem tias bondosas, nem tios aterradores, nem mesmo
Amigos entre pequenas pedras do rio.
A mim própria desde o próprio início
O sonho de alguém parecia ou o delírio,
Ou o reflexo em espelho alheio,
Sem nome, sem carne, sem razão.
Já sabia a lista dos crimes
Que devia cometer.
E eis que, andando qual sonâmbula,
Entrei na vida e assustei a vida:
Diante de mim estendia-se como um prado,
Onde outrora passeava Proserpina,
Diante de mim, sem raizes, sem jeito,
Abriram-se portas inesperadas,
E saíam gentes e gritavam:
«Ela chegou, ela por si própria chegou!»
Mas eu olhava-os com espanto
E pensava:«Perderam o juízo!»
E quanto mais me elogiavam,
Quanto mais me admiravam,
Mais medo me dava neste mundo viver
E mais me apetecia despertar,
E sabia que pagaria muito caro
Na prisão, no túmulo, no manicómio,
Em qualquer lugar onde devem acordar
Os como eu - mas continuava a tortura da felicidade.
4 de Julho de 1955
Tradução do russo selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitriev, Cotovia, 1992
E nenhuma infância cor-de-rosa...
Nem pequeninas sardas, nem ursinhos, nem aneis de cabelo,
Nem tias bondosas, nem tios aterradores, nem mesmo
Amigos entre pequenas pedras do rio.
A mim própria desde o próprio início
O sonho de alguém parecia ou o delírio,
Ou o reflexo em espelho alheio,
Sem nome, sem carne, sem razão.
Já sabia a lista dos crimes
Que devia cometer.
E eis que, andando qual sonâmbula,
Entrei na vida e assustei a vida:
Diante de mim estendia-se como um prado,
Onde outrora passeava Proserpina,
Diante de mim, sem raizes, sem jeito,
Abriram-se portas inesperadas,
E saíam gentes e gritavam:
«Ela chegou, ela por si própria chegou!»
Mas eu olhava-os com espanto
E pensava:«Perderam o juízo!»
E quanto mais me elogiavam,
Quanto mais me admiravam,
Mais medo me dava neste mundo viver
E mais me apetecia despertar,
E sabia que pagaria muito caro
Na prisão, no túmulo, no manicómio,
Em qualquer lugar onde devem acordar
Os como eu - mas continuava a tortura da felicidade.
4 de Julho de 1955
Tradução do russo selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitriev, Cotovia, 1992
INÊS LEITÃO
Cartas a S.
(carta nº 1, a última)
Afoguei o que restava das nossas memórias num balde água quente. A paciência de um afogamento individual,
quieto
tranquilo
de memória a memória
(uma a uma,
dor a dor)
até ao alinhamento rigoroso de todos esses pequenos cadáveres retirados mortos do balde,
mortos
molhados
quentes
deitados em fila no chão da cozinha até à solenidade do seu enterro.
E estranhamente.
Tão estranhamente, toda a água que escaldava no balde e me ajudava a cada execução por afogamento, não terá sido suficiente para me queimar as mãos.
Não vejo queimaduras. Não restam marcas.
No fundo, é como se nunca tivesse acontecido.
Afoguei o que restava das nossas memórias num balde água quente. A paciência de um afogamento individual,
quieto
tranquilo
de memória a memória
(uma a uma,
dor a dor)
até ao alinhamento rigoroso de todos esses pequenos cadáveres retirados mortos do balde,
mortos
molhados
quentes
deitados em fila no chão da cozinha até à solenidade do seu enterro.
E estranhamente.
Tão estranhamente, toda a água que escaldava no balde e me ajudava a cada execução por afogamento, não terá sido suficiente para me queimar as mãos.
Não vejo queimaduras. Não restam marcas.
No fundo, é como se nunca tivesse acontecido.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
INGEBORG BACHMANN
MANOBRAS DE OUTONO
Não digo: foi ontem. Com insignificantes
trocos de Verão nos bolsos, estamos de novo deitados
sobre o joio do sarcasmo, nas manobras de Outono do tempo.
E a nós não nos é dada, como aos pássaros,
a retirada para o sul. À noite passam por nós
traineiras e gôndolas, e por vezes
atinge-me um estilhaço de mármore impregnado de sonho,
onde a beleza me torna vulnerável, nos olhos.
Leio nos jornais muitas notícias - do frio
e suas consequências, de imprudentes e mortos,
de exilados, assassinos e miríades
de blocos de gelo, mas pouca coisa que me dê prazer.
E porque havia de dar? Ao pedinte que vem ao meio dia
fecho-lhe a porta na cara, porque há paz
e podemos evitar essas, mas não
o triste cair das folhas à chuva.
Vamos viajar! Debaixo de ciprestes
ou de palmeiras ou nos laranjais, vamos
contemplar a preços reduzidos
inigualáveis pores-de-sol! Vamos esquecer
as cartas ao dia de ontem, não respondidas!
O tempo faz milagres. Mas se chegar quando não nos convém,
com o bater da culpa - não estamos em casa.
Na cave do coração, desperto, encontro-me de novo
sobre o joio do sarcasmo, nas manobras de Outono do tempo.
O tempo Aprazado, Assírio & Alvim, Lisboa, 1992
Não digo: foi ontem. Com insignificantes
trocos de Verão nos bolsos, estamos de novo deitados
sobre o joio do sarcasmo, nas manobras de Outono do tempo.
E a nós não nos é dada, como aos pássaros,
a retirada para o sul. À noite passam por nós
traineiras e gôndolas, e por vezes
atinge-me um estilhaço de mármore impregnado de sonho,
onde a beleza me torna vulnerável, nos olhos.
Leio nos jornais muitas notícias - do frio
e suas consequências, de imprudentes e mortos,
de exilados, assassinos e miríades
de blocos de gelo, mas pouca coisa que me dê prazer.
E porque havia de dar? Ao pedinte que vem ao meio dia
fecho-lhe a porta na cara, porque há paz
e podemos evitar essas, mas não
o triste cair das folhas à chuva.
Vamos viajar! Debaixo de ciprestes
ou de palmeiras ou nos laranjais, vamos
contemplar a preços reduzidos
inigualáveis pores-de-sol! Vamos esquecer
as cartas ao dia de ontem, não respondidas!
O tempo faz milagres. Mas se chegar quando não nos convém,
com o bater da culpa - não estamos em casa.
Na cave do coração, desperto, encontro-me de novo
sobre o joio do sarcasmo, nas manobras de Outono do tempo.
O tempo Aprazado, Assírio & Alvim, Lisboa, 1992
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
«Put off that mask of burning gold»
A MÁSCARA
«Tira essa máscara de ouro ardente
E olhos de esmeralda.»
«Oh não, meu amor, atreves-te demasiado
A ver se um coração é selvagem e sábio,
Sem ser frio.»
«Só quero ver o que houver para ver,
O amor ou o engano.»
«Foi a máscara o que ocupou a tua mente,
E fez bater o teu coração,
Não o que está por detrás.»
«Mas a não ser que sejas minha inimiga
Devo inquirir.»
«Oh não, meu amor, deixa tudo ser como é;
Que importa, se entretanto houver fogo
Em ti e em mim?»
W.B.Yeats, Uma Antologia, Assírio & Alvim, 1996, Lisboa
«Tira essa máscara de ouro ardente
E olhos de esmeralda.»
«Oh não, meu amor, atreves-te demasiado
A ver se um coração é selvagem e sábio,
Sem ser frio.»
«Só quero ver o que houver para ver,
O amor ou o engano.»
«Foi a máscara o que ocupou a tua mente,
E fez bater o teu coração,
Não o que está por detrás.»
«Mas a não ser que sejas minha inimiga
Devo inquirir.»
«Oh não, meu amor, deixa tudo ser como é;
Que importa, se entretanto houver fogo
Em ti e em mim?»
W.B.Yeats, Uma Antologia, Assírio & Alvim, 1996, Lisboa
sábado, 12 de novembro de 2011
(...) Quem não sabe ocultar não sabe amar: os dúplices e os sinceros, os ingénuos como os sabidos, todos os amantes devem subscrever a validade deste aforismo. O «conquistador» e o amante silencioso vivem duas experiências de dissimulação inversas: o conquistador formula sentimentos que a sua deontologia profissional lhe impede de experimentar, o amante sem «amo-te» cala os sentimentos que sente. A cada um seu disfarce: a tagarelice de um é estratagema de conquistador; o silêncio do outro recusa o destino conjugal que a linguagem atribui ao amor. O libertino dissimula as suas verdadeiras intenções através da linguagem. O amante que se recusa à confissão dissimula a sua vertigem pela linguagem porque sabe que a palavra de amor transforma em pedido a emoção que dele se apoderou. (...)
A Nova Desordem Amorosa, Pascal Bruckner, Alain Finkielkraut, Livraria Bertrand, 1981
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Cartas a S.
(carta nº1946)
Há uma liberdade na escrita da qual nunca te falei. É um composto. Como se num frasco, o mundo inteiro repousasse.
Mas não vamos falar disso hoje.
O T. hoje faz anos. Ias gostar de nos ver. Vamos ter uma festa, balões, bolos, cores, miúdos da idade dele a correr. Ele não sabe. Pensa que é só na escola.
Vamos ter fotografias parvas. Como nós no nosso tempo. Quando deitados no escritório, no quarto.
No tempo em que tu tinhas uma asa
(não um braço)
uma asa
tu tinhas uma asa e eu era qualquer coisa que essa asa arrastava para si e chamava de seu.
Ontem.
Falávamos da tua nova pequena família e eu invejei-te. Veio-me da ponta dos dedos. Perdoa-me. Vou cortá-los. Vou cortá-los ao dez porque ando perdida e os meus dedos não sabem reconhecer pessoas, nem mapas, nem casas, nem estradas, nem florestas assassinas ou territórios sagrados.
Os meus dedos nunca perceberam nada.
Inês Leitão
(carta nº1946)
Há uma liberdade na escrita da qual nunca te falei. É um composto. Como se num frasco, o mundo inteiro repousasse.
Mas não vamos falar disso hoje.
O T. hoje faz anos. Ias gostar de nos ver. Vamos ter uma festa, balões, bolos, cores, miúdos da idade dele a correr. Ele não sabe. Pensa que é só na escola.
Vamos ter fotografias parvas. Como nós no nosso tempo. Quando deitados no escritório, no quarto.
No tempo em que tu tinhas uma asa
(não um braço)
uma asa
tu tinhas uma asa e eu era qualquer coisa que essa asa arrastava para si e chamava de seu.
Ontem.
Falávamos da tua nova pequena família e eu invejei-te. Veio-me da ponta dos dedos. Perdoa-me. Vou cortá-los. Vou cortá-los ao dez porque ando perdida e os meus dedos não sabem reconhecer pessoas, nem mapas, nem casas, nem estradas, nem florestas assassinas ou territórios sagrados.
Os meus dedos nunca perceberam nada.
Inês Leitão
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
O POETA EVADIDO
Caiu mais um degrau
cerrou-se a cortina
Cesariny morreu
isso que interessa?
portugal não deita luto por poetas
está de nojo por si
e não sofre outros mortos
o cadáver pesa-lhe no arrasto
já lhe basta a sua cremação
clamar por defuntos
adicionando cestas de mirto
coroas de ligaduras
gordos pêsames de trampolim
enumerar quem ocorreu à urna
do poeta evadido
é coisa de jornais
a portugal sobra o arrestado tempo
a ínfima discórdia
sôfrega quimera tentando corrigir
artríticos motetes
ancorar o sem número de falhas
o sem número de redes
armar lázaros em jogadores de golfe
enxofres visam nos cotos
gangrenas terminais
próteses ganham ferrugem
nas repartições
canis cerceiam rasgos
desossam vocações
gestores espezinham
tão pobres armistícios
azedando no copo
tinge-se a nata
vira-se a tina
esgarra-se a toga
suja-se a mão
evade-se o poeta
e portugal cá fica
lambendo perras feridas
encosta-se às fracturas
e roça nas paredes onde escarram ANGST
enquanto espera
na sopa do sidónio.
Fátima Maldonado
VIDA EXTENUADA, Edições &etc, Lisboa, 2008
cerrou-se a cortina
Cesariny morreu
isso que interessa?
portugal não deita luto por poetas
está de nojo por si
e não sofre outros mortos
o cadáver pesa-lhe no arrasto
já lhe basta a sua cremação
clamar por defuntos
adicionando cestas de mirto
coroas de ligaduras
gordos pêsames de trampolim
enumerar quem ocorreu à urna
do poeta evadido
é coisa de jornais
a portugal sobra o arrestado tempo
a ínfima discórdia
sôfrega quimera tentando corrigir
artríticos motetes
ancorar o sem número de falhas
o sem número de redes
armar lázaros em jogadores de golfe
enxofres visam nos cotos
gangrenas terminais
próteses ganham ferrugem
nas repartições
canis cerceiam rasgos
desossam vocações
gestores espezinham
tão pobres armistícios
azedando no copo
tinge-se a nata
vira-se a tina
esgarra-se a toga
suja-se a mão
evade-se o poeta
e portugal cá fica
lambendo perras feridas
encosta-se às fracturas
e roça nas paredes onde escarram ANGST
enquanto espera
na sopa do sidónio.
Fátima Maldonado
VIDA EXTENUADA, Edições &etc, Lisboa, 2008
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Clarice Lispector
"Mas muito mais contente ainda ao me ocorrer que me chamam de escritora hermética. Como é? Quando escrevo para crianças, sou compreendida, mas quando escrevo para adultos fico difícil? Deveria eu escrever para os adultos com as palavras e os sentimentos adequados a uma criança? Não posso falar de igual para igual?"
domingo, 30 de outubro de 2011
Discurso do Método
«Discurso del Método», em Cálculo de estructuras, tradução do catalão de Joan Margarit, Madrid: Visor Libros, Colecção Visor de Poesia, 2ª edição, 2008, p. 109
Quando era criança já procurava as janelas
para poder fugir ao espreitar.
Desde então, quando entro em algum lugar,
presto atenção ao sítio onde deixo o casaco
e onde está a porta de saída.
Liberdade, para mim, quer dizer fuga.
Há muitas portas no mundo.
Até o sexo, em caso de emergência,
pode ser, apesar de muitas estarem a fechar
e, para fugir, brevemente só irão ficar
apenas as janelas da infância.
De par em par abertas para poder saltar.
Joan Margarit
Joan Margarit
sábado, 29 de outubro de 2011
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
"Não posso adiar o amor para outro século"

[Não posso adiar o amor para outro século]
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
não posso adiar
ainda que a noite pese século sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
não posso adiar o coração
[António Ramos Rosa, Faro, 1924]
In Maria Alzira Seixo, Os poemas da minha vida, Público, Lisboa, 2005
O nº4 da revista Cultura ENTRE Culturas é dedicado a António Ramos Rosa e será lançado amanhã, dia 25 de Outubro, às 18.30, numa homenagem em que o poeta estará presente: Residência Faria Mantero, Praça de Dio, n.º 3, em Lisboa. Este número tem o tema "Poesia e Filosofia", dedicando ao poeta um caderno de 60 páginas com muitos textos e desenhos inéditos do Poeta, além de estudos e testemunhos sobre a sua obra, da autoria de vários especialistas e amigos. O lançamento constitui uma Homenagem ao Poeta, no seu 87º Aniversário. A apresentação será feita por Maria Teresa Dias Furtado (Universidade de Lisboa) e António Cândido Franco (Universidade de Évora).
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
SERÁ NO PRÓXIMO SÉCULO?
O nosso amor arrasou cidades. Éramos
muito jovens e pensávamos assim.
O mundo pertencia-nos. Ninguém
percebia mas nós viviamos contra
tudo - era um acto político.
Assim alguns seres no mundo
construíram vidas, amaram
e sofreram isolados, por vezes
espoliados, queimados na fogueira.
Mas o nosso amor resistirá
às fronteiras, aos muros de fogo
e à injustiça. Gostaríamos de viver
o tempo da verdadeira transformação,
da felicidade universal.
Isabel de Sá
REPETIR O POEMA, Edições Quasi, 2005
O nosso amor arrasou cidades. Éramos
muito jovens e pensávamos assim.
O mundo pertencia-nos. Ninguém
percebia mas nós viviamos contra
tudo - era um acto político.
Assim alguns seres no mundo
construíram vidas, amaram
e sofreram isolados, por vezes
espoliados, queimados na fogueira.
Mas o nosso amor resistirá
às fronteiras, aos muros de fogo
e à injustiça. Gostaríamos de viver
o tempo da verdadeira transformação,
da felicidade universal.
Isabel de Sá
REPETIR O POEMA, Edições Quasi, 2005
Só o lume dos teus beijos rompe
a treva onde a solidão nos mata.
Enrolamos a vida no escuro,
na semente de um amor atribulado.
Conhecemos o ritmo e a sede,
a convulsão do desamparo.
No sentido do corpo, no acerto
desce a força pelos braços
na violenta festa do prazer.
Tudo o que disseste
no desaforo da paixão
só podia incendiar a vida inteira
e encher de esperança o universo.
Isabel de Sá
REPETIR O POEMA, Edições Quasi, 2005
a treva onde a solidão nos mata.
Enrolamos a vida no escuro,
na semente de um amor atribulado.
Conhecemos o ritmo e a sede,
a convulsão do desamparo.
No sentido do corpo, no acerto
desce a força pelos braços
na violenta festa do prazer.
Tudo o que disseste
no desaforo da paixão
só podia incendiar a vida inteira
e encher de esperança o universo.
Isabel de Sá
REPETIR O POEMA, Edições Quasi, 2005
domingo, 23 de outubro de 2011
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