domingo, 27 de agosto de 2017
terça-feira, 13 de junho de 2017
quarta-feira, 22 de março de 2017
terça-feira, 21 de março de 2017
21 DE MARÇO - DIA DA POESIA
GORJEIO PARA A ESTAÇÃO DOS LILASES
Canta-me agora a alegria da estação dos lilases que me despertam reminiscências,...
Escolhe para mim, em nome da Natureza, ó língua e lábios, recordações do início do estio,
Junta os sinais de boas-vindas (como crianças juntam os seixos ou os colares de conchas),
Traz em Abril e Maio, as rãs que coacham nos charcos, o ar elástico,
As abelhas, as borboletas, o pardal com o seu cantar simples,
O pisco-azul e a andorinha veloz como uma seta, não esqueças os picapaus com as suas cintilantes asas douradas,
A serena bruma cheia de sol, o fumo pegajoso, o vapor,
Os reflexos das águas e dos peixes, o azul do céu em cima,
Os bosques de carvalhos silvestres, os dias frescos de Fevereiro, o acúcar ao ser refinado,
O tordo de olhos vivos e peito castanho que saltita,
Com o seu límpido e musical apelo ao amanhecer e ao pôr-do-sol,
Ou que esvoaça por entre as árvores do pomar de macieiras, construindo o ninho para a sua companheira,
A neve derretida de Março, o salgueiro de onde surgem rebentos amarelo-esverdeados,
Pois a Primavera chegou! o verão está aqui! o que há nele? o que sai dele?
Tu, alma liberta - um desassossego de que desconheço a causa;
Vamos, não nos demoremos aqui mais tempo, de pé e partamos!
Ah, fugir, navegar como um navio!
Deslizar contigo, ó alma, sobre todas as coisas, em todas as coisas, como um navio sobre as águas;
Reunindo estas sugestões, os prelúdios, o céu azul, a erva, as gotas de orvalho da manhã,
O perfume do lilás, os arbustos com folhas cordiformes verde-escuras,
As violetas do bosque, as pequenas e delicadas flores chamadas flores da inocência,
Variedades e espécies não só para si mesmas, mas também para o ambiente,
Para homenagear o arbusto que amo - para cantar com os pássaros,
Um gorgeio de júbilo pela estação dos lilases, que desperta estas recordações.
Walt Whitman
Canta-me agora a alegria da estação dos lilases que me despertam reminiscências,...
Escolhe para mim, em nome da Natureza, ó língua e lábios, recordações do início do estio,
Junta os sinais de boas-vindas (como crianças juntam os seixos ou os colares de conchas),
Traz em Abril e Maio, as rãs que coacham nos charcos, o ar elástico,
As abelhas, as borboletas, o pardal com o seu cantar simples,
O pisco-azul e a andorinha veloz como uma seta, não esqueças os picapaus com as suas cintilantes asas douradas,
A serena bruma cheia de sol, o fumo pegajoso, o vapor,
Os reflexos das águas e dos peixes, o azul do céu em cima,
Os bosques de carvalhos silvestres, os dias frescos de Fevereiro, o acúcar ao ser refinado,
O tordo de olhos vivos e peito castanho que saltita,
Com o seu límpido e musical apelo ao amanhecer e ao pôr-do-sol,
Ou que esvoaça por entre as árvores do pomar de macieiras, construindo o ninho para a sua companheira,
A neve derretida de Março, o salgueiro de onde surgem rebentos amarelo-esverdeados,
Pois a Primavera chegou! o verão está aqui! o que há nele? o que sai dele?
Tu, alma liberta - um desassossego de que desconheço a causa;
Vamos, não nos demoremos aqui mais tempo, de pé e partamos!
Ah, fugir, navegar como um navio!
Deslizar contigo, ó alma, sobre todas as coisas, em todas as coisas, como um navio sobre as águas;
Reunindo estas sugestões, os prelúdios, o céu azul, a erva, as gotas de orvalho da manhã,
O perfume do lilás, os arbustos com folhas cordiformes verde-escuras,
As violetas do bosque, as pequenas e delicadas flores chamadas flores da inocência,
Variedades e espécies não só para si mesmas, mas também para o ambiente,
Para homenagear o arbusto que amo - para cantar com os pássaros,
Um gorgeio de júbilo pela estação dos lilases, que desperta estas recordações.
Walt Whitman
in Leaves of Grass, Vol.II
Tradução de Maria de Lourdes Guimarães, Relógio D'Água Editores, 2002, Lisboa.
Tradução de Maria de Lourdes Guimarães, Relógio D'Água Editores, 2002, Lisboa.
sábado, 25 de fevereiro de 2017
Poema de Inês Lourenço
Português Vulgar
O meu gato deixa-se ficar
em casa, arejando o prato
e o caixote das areias. Já não vai
de cauda erguida contestar o domínio
dos pedantes de raça, pelos
quintais que restam. O meu gato
é um português vulgar, um tigre
doméstico dos que sabem caçar ratos e
arreganhar dentes a ordens despóticas. Mas
desistiu de tudo, desde os comícios nocturnos
das traseiras até ao soberano desprezo
pela ração enlatada, pelo mercantilismo
veterinário ou pela subserviência dos cães
vizinhos. Já falei deste gato
noutro poema e da sua genealogia
marinheira, embarcada nas antigas
naus. Se o quiserem descobrir, leiam
esse poema, num livro certamente difícil
de encontrar. E quem procura hoje
livros de poemas? Eu ainda procuro,
nos olhos do meu gato, os
dias maiores de Abril.
Inês Lourenço, in 'Logros Consentidos'
em casa, arejando o prato
e o caixote das areias. Já não vai
de cauda erguida contestar o domínio
dos pedantes de raça, pelos
quintais que restam. O meu gato
é um português vulgar, um tigre
doméstico dos que sabem caçar ratos e
arreganhar dentes a ordens despóticas. Mas
desistiu de tudo, desde os comícios nocturnos
das traseiras até ao soberano desprezo
pela ração enlatada, pelo mercantilismo
veterinário ou pela subserviência dos cães
vizinhos. Já falei deste gato
noutro poema e da sua genealogia
marinheira, embarcada nas antigas
naus. Se o quiserem descobrir, leiam
esse poema, num livro certamente difícil
de encontrar. E quem procura hoje
livros de poemas? Eu ainda procuro,
nos olhos do meu gato, os
dias maiores de Abril.
Inês Lourenço, in 'Logros Consentidos'
Poema de Isabel de Sá
SIMBIOSE CHEIA DE GRAÇA
Os perdidos
aqueles sem compromisso
perturbam a ordem
assustam os rastejantes.
Esses verdadeiros heróis
bebem o ácido
e comem detritos
crentes na glória.
Existem os outros
os sustentados
no círculo delirante
acorrentados à ficção da espera.
Cortesãs de secretária
expostas ao ofício
aos caprichos da clientela.
E o terror do desamparo?
O escravo tem acesso ao tapete do senhor
à sua cama. Talvez ao seu olhar.
Também será aquele que não existe
mas é a presença.
"Estás destinado à beleza.
Nunca verás a luz."
- palavras do senhor.
A beleza é então treva
escuridão sem fim?
O rebanho encontra o pastor
virtuoso
cheio de encantos.
Renuncia à tempestade
aceita a provação e a caridade.
O rebanho cumpre. Na sombra alimenta o ódio.
Abismo e esplendor perpetuam o idílio.
Ninguém sabe como vai acabar.
A voz da paixão é alienante
e todos caem.
Entretanto a noite desce
arrasa tudo:
personagens
ilusão e romance.
A roleta da fama atormenta os mortais.
Escapam à miséria do anonimato.
A velhice?
Queremos para sempre
o luxo de uma pele jovem
coração vermelho vivo.
Sabia-se o caminho
havia um farol
a cruz o fim do túnel.
Entretanto o caos alastra.
Reconhecer que algo vai mal
visão do outro lado
o assunto percorre um longo caminho
ninguém entende a espera.
Ninguém quer ser Nada
pensamento em desordem ou até alucinado.
Reconhecer que está mal é paleio.
As vozes ouvem-se a si próprias
neste sistema esquizofrénico.
Vale a pena usar poucas palavras
ler e reler
ficar dentro das ideias no escuro pensamento.
A paisagem é verdade ou mentira?
Segredo é não saber de que lado sopra o vento.
Coitados dos sonhadores
vivem à margem do dia e da noite
longe de tudo.
Compra-se o futuro
o cartaz
e também o microfone.
Quanto tempo é que isto vai durar?
Parece magia
temos de enfrentar a dor
o sofrimento
quando nos cruzamos na rua
talvez em frente ao espelho
ou diante da porta trancada.
Isabel de Sá, in revista Brilho no Escuro nº1, Junho. 2009
terça-feira, 7 de fevereiro de 2017
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
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