quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O CAFÉ E A LITERATURA

«O grão de café, o perfume de ambrósia!», exclamava no século XVII o poeta turco Belighi: desde o seu aparecimento, o café não mais deixou de ser cantado por escritores e poetas. Pelo seu sabor delicioso, mas também pelas propriedades estimulantes, propícias à criação, e pelas oportunidades de convívio e de debate que proporcionava nos estabelecimentos onde era servido. Em França, enquanto a Colette de La Maison de Claudine (1922) era a recordação dos pequenos-almoços rescendentes em família, os escritores preferiram evocar a atmosfera dos cafés, fosse ela corriqueira ou exótica.

Gérard de Nerval (Le Voyage en Orient, 1848-1851), Pierre Loti (Aziyadé, 1879), Hippolyte Taine (Voyage en Italie, 1914) e tantos outros enriqueceram os seus textos com belas descrições das suas viagens em que o café surge como uma das instituições fundamentais da arte de viver dos paises visitados. Em sentido inverso, escritores como Hemingway ou Henry Miller, que evocaram o extraordinário cadinho de artistas que foram certos cafés da capital francesa entre as duas guerras. Sobre os prazeres e virtudes da bebida, Balzac terá sido o mais prolífico, tanto no seu Traité des excitants modernes (1839) como em Eugénie Grandet (1833) ou Ursule Mirouet (1841). Mas as mais belas páginas alguma vez escritas sobre o café pertencem, sem dúvida, ao escritor palestiniano Mahmud Darwich, que, no início de Une mémoire pour l'oubli (1994), descreve - numa magnífica provocação à violência e à morte - o acto voluptuoso e tranquilo de preparar o seu café numa Beirute bombardeada.

Alain Stella, escritor

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