terça-feira, 19 de agosto de 2008

GRAVATA E JARROS


Graça Martins, acrílico s/tela

GEORGE SAND

COLETTE
Mulheres & Gravatas
Durante muito tempo, as mulheres só usaram gravata - a graciosa lavallière - por simples coqueteria. No século XIX, quando se exprimiram as primeiras ideias feministas, a gravata - mas desta vez à maneira dos homens - tornou-se para as mulheres um dos meios de afirmar a sua emancipação. Georg Sand e Flora Tristan, que se vestiam à homem e portanto usavam gravata, foram das primeiras a desafiar as convenções. (...) A evolução visível , do estatuto da mulher esteve na origem, antes da I Guerra Mundial e durante os «anos loucos», de uma masculinização acentuada do vestuário feminino. No extremo dessa tendência, nada ou quase nada distinguia, em matéria de aparência, a garçonnette do homem; usava cabelo curto, casaco, calças, camisa e gravata. Mas essa moda de pura imitação só foi seguida por um pequeno número de citadinas, levadas pelo perfume de escândalo que emanava de algumas criaturas fascinantes que mais ou menos abertamente exibiam a sua homossexualidade, como Rachilde, Nathalie Barney ou Colette.
O uso de gravata pelas mulheres mudara, pois, radicalmente de natureza: a gravata, a princípio simples ornamento de renda e colorido para seduzir os homens, tinha-se tornado pouco a pouco a maneira de elas afirmarem a sua igualdade. (...).
François Chaille, escritor
«O facto de eu me apresentar de manhã no escritório com uma gravata vulgar às riscas fala por si, assim como o facto de eu a substituir de repente por uma gravata psicadélica, e fala por si o facto de eu ir à reunião do conselho de administração sem gravata.»
Umberto Eco

«Experimente dizer a um homem
que gosta da gravata que ele usa
e verá a personalidade dele desabrochar como uma flor.»

Countess Mara (estilista americana dos anos 40)


«Uma gravata com o nó bem feito
é o primeiro passo sério na vida.»

Oscar Wilde


Breve História da Gravata
Desde que as profundas mudanças sociais e culturais dos anos 60 e 70 modificaram sensivelmente os códigos de vestuário, a gravata - com poucas excepções - deixou de ser uma obrigação para o homem. Para muitos dos que a usam, a menos triste das peças da indumentária masculina tornou-se uma fonte de prazer. Prazer de um belo tecido, mas sobretudo prazer de se exprimir , de comunicar aos outros, com todos os matizes que se impõem, a verdade profunda ou passageira da alma de cada um. Pela variedade dos nós, até ao início deste século, e pela variedade das cores e dos motivos desde então, a gravata, único toque de fantasia consentido a todos os homens, qualquer que seja a idade ou a condição, ofereceu-lhes sempre uma linguagem. Por ser em si absolutamente inútil e porque, além disso, se tornou facultativa, a gravata designa, antes de mais, a personalidade daquele que a usa. «Uma peça de vestuário útil, por exemplo o colete, é precisamente por ser útil, insignificante», escreveu Alberto Moravia. «(...)O homem moderno já só tem um acessório que lhe permite revelar a sua própria visão do mundo, assinalar a sua presença própria: a gravata.»
Francois Chaille, escritor

Pedro Homem de Mello
Véspera

Seríamos dois faunos sobre a praia,
Batidos pelo vento e pelo sal,
Tendo por manto apenas a cambraia
Da espuma
E, por fronteira ,
O areal.

Gémeos de corpo e alma,
Ver um era ver o outro:
A mesma voz,
A mesma transparência,
A mesma calma
De búzio, intacto, em cada um de nós!

Felicidade?
Não!
Inconsciência!

E as nossas mãos brincavam com o lume
À beira da impaciência
Ou do ciúme.















Isabel Lhano, acrílico s/tela
Eugénio de Andrade
Nas Ervas

Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura,
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso,
descer aos flancos, enterrar

os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta

aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão,

Porque é terrível
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve,

abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho-
a glande leve.