domingo, 5 de setembro de 2010







PARA SEMPRE (UM ANAGRAMA)

Faço da morte um silêncio longo, de
imagens que perpassam entre a música,
lentamente perco a lucidez, não sei onde estou,
incide em mim a pálida luz da loucura e
perco-me a querer dizer-te o nome
entre todas as palavras vãs que fazem o dia.

Procuro entre as vozes um momento
em que regresses, e desta vez me toques,
rasando o que em mim é
desejo e paixão e devaneio, no
interior da tristeza,
do cessar fogo, do
olho do relógio que vê além da meia-noite.

Perco a vida
ao dar-me assim, sem contrapartidas,
rente à morte que
antevejo quando te olho nos olhos.

Silêncio e dor, uma casa vazia
em que a única luz é ainda a
memória de te encontrar,
penetrando as trevas a que me
rendi e saindo triunfante e
eternamente sem mim.


Lisboa, 15.3.10

JOÃO BORGES