quinta-feira, 23 de junho de 2011
É PROIBIDO PENSAR - João dos Santos - Eu Agora Quero Ir-me Embora - Conversas com João Sousa Monteiro, Assírio & Alvim,, 1990
J.S.M. - Há uma coisa que me indigna na maneira civilizada de se viver a tristeza, que é a forma como se ensinam as crianças a negá-la.
Não é possível a uma criança ter respeito pela tristeza se tudo à sua volta a ensina a fazer precisamente o contrário. Mas não ter respeito pela tristeza, equivale, creio eu, a não ter respeito por uma parte fundamental de nós próprios. E exactamente o mesmo se poderia dizer acerca do silêncio.
J.S. - Estou de acordo. De facto a ideia do silêncio e da tristeza é longa a adquirir, e portanto longa a compreender também pela própria pessoa e pelos outros. Há provavelmente uma primeira etapa onde a criança se apercebe de que há coisas que devem ficar para nós, ou que se devem deixar ficar só com os outros, e há outras que são susceptíveis de ser comunicadas aos outros. Evidentemente que a criança vai descobrindo muitas formas de ultrapassar o problema, de o iludir, de o resolver mesmo. São os seus contos, as suas fantasias, as suas brincadeiras, os seus simulacros, com papel, com desenhos, com jogos e com histórias que conta e ouve contar, e a que acrescenta depois outras histórias, que permitem à criança expor de uma certa forma o conteúdo mais fundo e mais provável da sua própria angústia. Aliás, com os sonhos é a mesma coisa, e muitas vezes um sonho aparentemente banal envolve uma quantidade de problemas que ajudam a criança a resolver o seu problema fundamental. E um pesadelo, que parece não ter significado, é qualquer coisa que faz a criança ultrapassar, de uma forma importante, uma angústia sua. (...)
Página nº248 do Livro de Artista de Isabel de Sá
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