sábado, 10 de setembro de 2011
Poema de AMADEU BAPTISTA
PAINEL PARA ROSALIA DE CASTRO
É um frio tremendo.
A água gela nas torneiras, a solidão
cresce com uma unha, uma sombra
atrai todas as camisas de silêncio, arde, é uma noite
encerrando os perigos da perdição, os ferros agudíssimos
do silêncio.
É um frio tremendo.
Perde-se o caminho de casa, a luz extingue-se,
pergunta-se pelo sangue e o sangue não responde, o sangue
perde-se aos borbotões na vida, não há caminho, não há
regresso, a sereia canta
no denso nevoeiro, mas não há esperança, a tempestade
é o único lugar, o único lençol, a voz velocíssima
entregando-nos sem rendição, entregando-nos.
Como uma agulha fecha-nos os lábios, ata-nos
as mãos, como uma agulha de silêncio, feroz, terrível,
cose-nos
contra as paredes e os olhos saltam, saltam, é um frio tremendo
onde tudo arde,
arde antiquíssimo, flecha no coração, solidão
descendo o braço, descendo devagar, espraiando-se
na terrível superfície do silêncio.
Rosalírica Homenaxe de 27 poetas portugueses a Rosalía
É um frio tremendo.
A água gela nas torneiras, a solidão
cresce com uma unha, uma sombra
atrai todas as camisas de silêncio, arde, é uma noite
encerrando os perigos da perdição, os ferros agudíssimos
do silêncio.
É um frio tremendo.
Perde-se o caminho de casa, a luz extingue-se,
pergunta-se pelo sangue e o sangue não responde, o sangue
perde-se aos borbotões na vida, não há caminho, não há
regresso, a sereia canta
no denso nevoeiro, mas não há esperança, a tempestade
é o único lugar, o único lençol, a voz velocíssima
entregando-nos sem rendição, entregando-nos.
Como uma agulha fecha-nos os lábios, ata-nos
as mãos, como uma agulha de silêncio, feroz, terrível,
cose-nos
contra as paredes e os olhos saltam, saltam, é um frio tremendo
onde tudo arde,
arde antiquíssimo, flecha no coração, solidão
descendo o braço, descendo devagar, espraiando-se
na terrível superfície do silêncio.
Rosalírica Homenaxe de 27 poetas portugueses a Rosalía
Poema de João Borges
AO DOBRAR A PÁGINA
Palavras de granito
marcaram a cidade
Repete-se tudo.
Por mais calor que faça
tenho frio. Um rapaz
deixou no escuro
a minha pele.
Porém, sento-me, divago.
Não conto as horas,
apenas sei que já sou outro.
AS SOMBRAS DE UM CORPO SÓ, Lisboa, 2011
Palavras de granito
marcaram a cidade
Repete-se tudo.
Por mais calor que faça
tenho frio. Um rapaz
deixou no escuro
a minha pele.
Porém, sento-me, divago.
Não conto as horas,
apenas sei que já sou outro.
AS SOMBRAS DE UM CORPO SÓ, Lisboa, 2011
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