quarta-feira, 7 de julho de 2010
Devolução do Prémio AICA/MC por PAULO NOZOLINO
Recuso na sua totalidade o Prémio AICA/MC 2009 em repúdio pelo comportamento obsceno e de má fé que caracteriza a actuação do Estado português na efectiva atribuição do valor monetário do mesmo. O Estado, representado na figura do Ministério da Cultura (DGARTES), em vez de premiar um artista reconhecido por um júri idóneo pune-o! Ao abrigo de “um parecer” obscuro do Ministério das Finanças, todos os prémios de teor literário, artístico e científico não sujeitos a concurso são taxados em 10% em sede de IRS, ao contrário do que acontece com todos os prémios do mesmo cariz abertos a candidaturas.
A saber: Quem concorre para ganhar um prémio está isento de impostos pelo Código de IRS. Quem, sem pedir, é premiado tem que dividir o seu valor com o Estado!
Na cerimónia de atribuição do Prémio foi-me entregue um envelope não com o esperado cheque de dez mil euros, como anunciado publicamente, mas sim com uma promessa de transferência bancária dessa mesma soma, assinada por Jorge Barreto Xavier, Director Geral das Artes. No dia seguinte, depois do espectáculo, das luzes e do social, recebo um e-mail exigindo-me que fornecesse, para que essa transferência fosse efectuada, certidões actualizadas da minha situação contributiva e tributária, bem como o preenchimento de uma nota de honorários, onde me aplicam a mencionada taxa de 10%, cuja existência é justificada pelo Director Geral das Artes como decorrendo de um pedido efectuado por aquela entidade à Direcção-Geral dos Impostos para emitir “um parecer no sentido de que, regra geral, o valor destes prémios fosse sujeito a IRS”.
Tomo o pedido de apresentação das certidões como uma acusação da parte do Estado de que não tenho a minha situação fiscal em dia e considero esse pedido uma atitude de má fé. A nota de honorários implica que prestei serviços à DGARTES. Não é verdade. Nunca poderia assinar tal documento.
Se tivesse sido informado do presente envenenado em que tudo isto consiste não teria aceite passar por esta charada.
Nunca, em todos os prémios que recebi, privados ou públicos, no país ou no estrangeiro, senti esta desconfiança e mesquinhez. É a primeira vez que sinto a burocracia e a avidez da parte de quem pretende premiar Arte. Não vou permitir ser aproveitado por um Ministério da Cultura ao qual nunca pedi nada. Recuso a penhora do meu nome e obra com estas perversas condições. Devolvo o diploma à AICA, rejeito o dinheiro do Estado e exijo não constar do historial deste prémio.Paulo Nozolino1 de Julho de 2010
Postagem de Rui Almeida no seu blog
http://ruialme.blogspot.com/
A saber: Quem concorre para ganhar um prémio está isento de impostos pelo Código de IRS. Quem, sem pedir, é premiado tem que dividir o seu valor com o Estado!
Na cerimónia de atribuição do Prémio foi-me entregue um envelope não com o esperado cheque de dez mil euros, como anunciado publicamente, mas sim com uma promessa de transferência bancária dessa mesma soma, assinada por Jorge Barreto Xavier, Director Geral das Artes. No dia seguinte, depois do espectáculo, das luzes e do social, recebo um e-mail exigindo-me que fornecesse, para que essa transferência fosse efectuada, certidões actualizadas da minha situação contributiva e tributária, bem como o preenchimento de uma nota de honorários, onde me aplicam a mencionada taxa de 10%, cuja existência é justificada pelo Director Geral das Artes como decorrendo de um pedido efectuado por aquela entidade à Direcção-Geral dos Impostos para emitir “um parecer no sentido de que, regra geral, o valor destes prémios fosse sujeito a IRS”.
Tomo o pedido de apresentação das certidões como uma acusação da parte do Estado de que não tenho a minha situação fiscal em dia e considero esse pedido uma atitude de má fé. A nota de honorários implica que prestei serviços à DGARTES. Não é verdade. Nunca poderia assinar tal documento.
Se tivesse sido informado do presente envenenado em que tudo isto consiste não teria aceite passar por esta charada.
Nunca, em todos os prémios que recebi, privados ou públicos, no país ou no estrangeiro, senti esta desconfiança e mesquinhez. É a primeira vez que sinto a burocracia e a avidez da parte de quem pretende premiar Arte. Não vou permitir ser aproveitado por um Ministério da Cultura ao qual nunca pedi nada. Recuso a penhora do meu nome e obra com estas perversas condições. Devolvo o diploma à AICA, rejeito o dinheiro do Estado e exijo não constar do historial deste prémio.Paulo Nozolino1 de Julho de 2010
Postagem de Rui Almeida no seu blog
http://ruialme.blogspot.com/
PUZZLE DA VIDA
Acredito que envelhecemos sempre que perdemos alguém, como se fossemos um puzzle e cada peça perdida fosse uma pessoa que amamos e um ano menos da nossa vida.
Uma perda será menos uma arfada de ar que respiramos, menos um latido de um coração ou um êmbolo numa qualquer artéria que outrora havia de alimentar o nosso corpo, e que agora deixa secar, pouco a pouco. Deste modo, devimos pele e osso. Depois osso. E pó. Terra.
Uma perda será menos uma arfada de ar que respiramos, menos um latido de um coração ou um êmbolo numa qualquer artéria que outrora havia de alimentar o nosso corpo, e que agora deixa secar, pouco a pouco. Deste modo, devimos pele e osso. Depois osso. E pó. Terra.
Postagem do blog de Eduardo Pires
MATILDE ROSA ARAÚJO
MATILDE ROSA ARAÚJO / SEBASTIÃO DA GAMA
[...]
Eras tu, Sebastião; tu glorioso, apesar do teu corpo mudo de menino de tua mãe. Tu que me disseste: «E quando a morte vier diz-lhe que não; diz-lhe que és moça e não cumpriste ainda. Vês, querida amiga, é por causa de momentos assim, em que te resignas a ela, que é preciso a gente escrever, mesmo com certa casca literária, uma «largada». Porque mocidade é insurreição, protesto contra o que não está direito, vontade de erguer monumentos, desassombro para contrariar a morte. Negas a tua mocidade — não a mereces, quando, em momentos que eu muito bem compreendo, aceitas a morte como uma boa irmã. E sabes tu por que motivo a morte, surda ao teu abandono, às boas vindas que lhe cicias, se vai para outros caminhos? É porque ainda a não mereces. Nós não merecemos a morte ainda, Matilde. Que é que nós fizemos? Que lágrimas enxugámos? A que bocas demos pão? Que remédios trouxemos para curar o «mal profundo da alma»? Claro, minha filha, que alguma coisa fizemos. A nossa torre de marfim é bem rasgada de janelas. Mas o «alguma coisa» que fizemos é tão débil, tão mínimo... Ver Nápoles e morrer — dizem. Fazer alguma coisa e morrer — devemos dizer nós, gente nova. Tu perguntaste-me, quando te disse o «Convite a ser-se moço»: «Porque rimaste no fim?» Achei fora de propósito a pergunta... Mas, se meditasse um minuto, talvez respondesse que para fixar melhor aqueles últimos versos.
É preciso merecer a mocidade, é preciso merecer a mocidade, é preciso merecer a mocidade. E o processo não é dizer que sim à morte.
Quantas vezes me insurjo contra mim, Matilde, porque me não sinto verdadeiramente moço; é que a minha vida tem mais horas de sangue morno do que sangue latejante... E eu queria ser era forte, era moço, era construtivo. Não para que dissessem, num elogio: Aquele é forte, é moço, é construtivo. Antes para sentir que era útil. Tanta vez tenho vergonha de mim, me sinto mesquinho!» E conta. E continua : «...agora não quero mais senão fixar uma coisa: é que podem todos gritar, como têm gritado, que sou um indiferente, um desinteressado dos... que me cercam — que eu sinto tranquila a minha consciência. E para tal me basta que saiba, de ciência certa, que não sou indiferente, que me não desinteresso. Valem, para mim, muito mais as acções do que as palavras. E tenho e certeza de que sou humano e do meu tempo nas minhas relações com os outros. Para muitos desses outros não basta — queriam qualquer ismo para designar a minha maneira de ser; qualquer ismo moderno. Mas paciência. E sobretudo é cedo demais para julgar quem é mais interessado.
E também já estou a escrever demais e sério demais. A isto me levou o nevoeiro que amanheceu na Arrábida. Desculpa. Eu preferiria, de facto, contar-te uma história de crianças. Olha, esta, a que a Joaninha assistiu: «Eu gostava de ser flor. E tu?» Bem é verdade: «O melhor de tudo são as crianças».As crianças. Era isso, Sebastião. Era tudo isto: o sol alado, glorioso, que morreu ontem. Era esta tua força perante a vida, este teu merecer a morte, gloriosa e final como mereceste. É isto que nos afasta. Tu mereceste-la inteira [...]
É preciso merecer a mocidade, é preciso merecer a mocidade, é preciso merecer a mocidade. E o processo não é dizer que sim à morte.
Quantas vezes me insurjo contra mim, Matilde, porque me não sinto verdadeiramente moço; é que a minha vida tem mais horas de sangue morno do que sangue latejante... E eu queria ser era forte, era moço, era construtivo. Não para que dissessem, num elogio: Aquele é forte, é moço, é construtivo. Antes para sentir que era útil. Tanta vez tenho vergonha de mim, me sinto mesquinho!» E conta. E continua : «...agora não quero mais senão fixar uma coisa: é que podem todos gritar, como têm gritado, que sou um indiferente, um desinteressado dos... que me cercam — que eu sinto tranquila a minha consciência. E para tal me basta que saiba, de ciência certa, que não sou indiferente, que me não desinteresso. Valem, para mim, muito mais as acções do que as palavras. E tenho e certeza de que sou humano e do meu tempo nas minhas relações com os outros. Para muitos desses outros não basta — queriam qualquer ismo para designar a minha maneira de ser; qualquer ismo moderno. Mas paciência. E sobretudo é cedo demais para julgar quem é mais interessado.
E também já estou a escrever demais e sério demais. A isto me levou o nevoeiro que amanheceu na Arrábida. Desculpa. Eu preferiria, de facto, contar-te uma história de crianças. Olha, esta, a que a Joaninha assistiu: «Eu gostava de ser flor. E tu?» Bem é verdade: «O melhor de tudo são as crianças».As crianças. Era isso, Sebastião. Era tudo isto: o sol alado, glorioso, que morreu ontem. Era esta tua força perante a vida, este teu merecer a morte, gloriosa e final como mereceste. É isto que nos afasta. Tu mereceste-la inteira [...]
(in Távola Redonda - folhas de poesia, fascículos 16 e 17 [edição de homenagem a Sebastião da Gama], 30 de Abril de 1953 - da edição fac-similada: Contexto editora, 1989)
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