O CAFÉ E A LITERATURA
«O grão de café, o perfume de ambrósia!», exclamava no século XVII o poeta turco Belighi: desde o seu aparecimento, o café não mais deixou de ser cantado por escritores e poetas. Pelo seu sabor delicioso, mas também pelas propriedades estimulantes, propícias à criação, e pelas oportunidades de convívio e de debate que proporcionava nos estabelecimentos onde era servido. Em França, enquanto a Colette de La Maison de Claudine (1922) era a recordação dos pequenos-almoços rescendentes em família, os escritores preferiram evocar a atmosfera dos cafés, fosse ela corriqueira ou exótica.
Gérard de Nerval (Le Voyage en Orient, 1848-1851), Pierre Loti (Aziyadé, 1879), Hippolyte Taine (Voyage en Italie, 1914) e tantos outros enriqueceram os seus textos com belas descrições das suas viagens em que o café surge como uma das instituições fundamentais da arte de viver dos paises visitados. Em sentido inverso, escritores como Hemingway ou Henry Miller, que evocaram o extraordinário cadinho de artistas que foram certos cafés da capital francesa entre as duas guerras. Sobre os prazeres e virtudes da bebida, Balzac terá sido o mais prolífico, tanto no seu Traité des excitants modernes (1839) como em Eugénie Grandet (1833) ou Ursule Mirouet (1841). Mas as mais belas páginas alguma vez escritas sobre o café pertencem, sem dúvida, ao escritor palestiniano Mahmud Darwich, que, no início de Une mémoire pour l'oubli (1994), descreve - numa magnífica provocação à violência e à morte - o acto voluptuoso e tranquilo de preparar o seu café numa Beirute bombardeada.
Alain Stella, escritor
BREVE HISTÓRIA DO CAFÉ
Nem sempre se tem a percepção de a que ponto o café, aparecido no século XV, mudou o mundo. Se é bebido por milhões, depois de ter conquistado o planeta, se se tornou a segunda bebida consumida no mundo, depois da água ( o que é contestado pelos amantes do chá), é porque nos trouxe, e continua a trazer, extraordinários benefícios para o corpo e para o espírito e, acima de tudo, um admirável factor de convivialidade - do Japão aos Estados Unidos, passando pelo Médio Oriente e pela Europa, o café aquece a alma e aproxima as pessoas. Porque exige uma preparação, porque depois de servido é preciso esperar alguns momentos antes de ser bebido. O café não é, decididamente, uma dessas bebidas em lata que se consomem sm mesmo pensar no que se está a beber. Exige um pouco de atenção e tempo. Um tempo que, por todo o mundo, as pessoas gostam de partilhar. Em família, ao pequeno-almoço; nas tendas dos beduínos ou nos corredores dos escritórios; e, naturalmente nos cafés, o universo que lhe é próprio e onde acontecem os encontros, as trocas de ideias. O café é um mensageiro.
Alain Stella, escritor.