segunda-feira, 16 de agosto de 2010


Poderia gastar muita tinta a escrever sobre um corpo ou vários. Porém apenas o instante do encontro é precioso. Viver a cena sem palavras, o ritual.Na penumbra os corpos tocam-se antes da sílaba inaugural. Começar é sempre um escândalo, é desviar a instituição da sua verdadeira finalidade e da sua inocência.

Isabel de Sá

do livro Em Nome do Corpo, edições Rolim. Lisboa, 1986

LOBO DA ESTEPE - Filme de FRED HAINES com Max Von Sidow e Pierre Clementi -1974

STEPPENWOLF - LOBO DA ESTEPE - de HERMANN HESSE - PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA

A BÍBLIA DOS ANOS 60 E 70 - LOBO DA ESTEPE - de HERMANN HESSE
O Lobo da Estepe não é um romance fácil. Ainda mais num mercado que é avesso aos valores que o livro propõe - um mundo em que a ideia de auto conhecimento é valorizada, e se colocam questões sobre os lugares comuns de uma sociedade formatada e repleta de estratégias de marketing e vendas a que chamamos Cultura. O outro "lado", do espírito, da alma, o nosso mundo interior, a nossa "ilha", no conceito de Rousseau, não interessa a ninguém, a não ser a meia duzia de "loucos como nós?", pergunta a dado momento Harry Haller, o protagonista do Lobo da Estepe, um outsider, um misantropo de cinquenta anos, alcoólico e intelectual, invadido pela angústia e que não vê saída para a sua tormentosa condição. Todo o problema do personagem do livro de Hermann Hesse é um permanente mal-estar cuja fonte é a inadequação do seu espírito à sociedade, à "Cultura de Massas" e à vulgarização burguesa da vida e dos valores. É por isso que ele se define como "lobo da estepe". A obra apresenta inspiração surrealista pela valorização do sonho e da fantasia, influências herdadas da psicanálise de Carl Jung e Freud, influências da filosofia oriental e autobiográfico sem sombra de dúvida. Crítico do militarismo alemão, do nacional-socialismo e da guerra, Herman Hesse preocupa-se também com as grandes questões sociais e políticas do seu tempo. Nos seus livros está sempre presente o sonho da conjugação entre a tradição da Ásia e da Europa e a síntese entre o apolíneo e o dionisíaco, profetizada por Nietzsche. Deste pensador o autor herda a ideia de que a vontade de poder, expressa na luta entre valores antagonicos, é que torna a realidade social, política e economica compreensível. É desta noção que surgem as histórias de ambivalência e de tensão humanas que marcam a sua obra. A mensagem que fica deste grandioso romance são as indagações espirituais, comportamentais e de análise da sociedade de Harry Haller, que se configuram como um dos mais completos tratados sobre o ser humano. O personagem principal – que pode ser visto como um alter-ego do autor – dividido entre o seu lado “homem” e o seu lado “lobo”, confrontado por não se encaixar na sociedade mas mesmo assim, a ter que viver nela, a odiar a burguesia sem negar o seu conforto, encontra-se entregue aos seus próprios rumos, trilhando o seu próprio caminho, fazendo novas descobertas, repensando os seus valores e alcançando a felicidade em coisas tidas como impensáveis, anteriormente. Sofrimento, dúvida, perda, desagregação; tudo elevado ao extremo que um ser humano pode suportar, o que faz de o Lobo da Estepe um livro difícil de ser lido não só pela complexidade mas sobretudo pelo profundo questionamento que nos leva a interrogar-nos permanentemente. Haller redescobre-se a si mesmo, depara-se com novos mundos, novos amigos, outras atmosferas, encontra dolorosamente o seu interior para finalmente ser integrado. “Só para Loucos” avisa Hermann Hesse no início do romance. Um conselho que não pode ser desprezado. Enredo original, trama fantástica e envolvente. Clássico indispensável da literatura alemã e mundial, é um livro para quem quer sair do egocentrismo e alcançar o desenvolvimento de forma plena . Neste romance também se compreende que o ser humano é multifacetado, tem muitas vozes dentro de si, divide-se em comportamentos variados e opostos. Um bom romance para férias.

STEPPENWOLF - Born To Be Wild - EASY RIDER


Tudo acaba mas o que te escrevo continua. O melhor está nas entrelinhas.
Clarice Lispector