Se o vires, diz-lhe que o tempo dele não passou; que me sento na cama, distraída, a dobar demoras e, sem querer, talvez embarace as linhas entre nós. Mas que, mesmo perdendo o fio da meada por causa dos outros laços que não desfaço, sei que o amor dá sempre o novelo melhor da sua mão. Se
o encontrares, diz-lhe que o tempo dele não passou; que só me atraso outra vez, e ele sabe que me atraso sempre, mas não demais; e que os invernos que ele não gosta de contar, mas assim mesmo conta que nos separam, escondem a minha nuca na gola do casaco, mas só para guardar os beijos que me deu. Se o vires,
diz-lhe que o tempo dele não passa, fica sempre.
Maria do Rosário Pedreira
a minha palavra favorita, Edição Jorge Reis-Sá, Centro Atlântico, Lisboa, 2007