segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Poema de António Ramos Rosa

Eu diria que não vejo nada e que não sei.
Algo está suspenso. A hora repousa.
Eu quero estar vivo como uma ferida, como um signo,
não mais do que um rumor de coisa nua.
Neste momento nada é confuso e opaco.
Os labirintos são trémulos, transparentes.
Dir-se-ia que atravesso um jardim e toda a vida
repousa entre as forças da cinza
e o fulgor da chama. E adormeço
sentindo a beleza e o tempo, o mesmo ...
arco
iluminado."


 António Ramos Rosa, in "Acordes"

O Poeta das palavras solitárias trocou-nos por Orfeu!

Morreu hoje o poeta António Ramos Rosa. Autor de uma obra poética muito vasta (mais de cem títulos). Poeta, ensaísta. Um homem sensível e generoso, atento à poesia que ia aparecendo . Lembro-me quando escrevia crítica de poesia no JL. Uma chamada de atenção a jovens poetas e sempre elegante nas suas análises. Tinha 34 anos quando publicou o primeiro livro, em 1958. "O Grito Claro". Influenciou dezenas de autores, foi várias vezes premiado. Nos últimos anos vivia numa Casa de Repouso, perto do CCB. Um espaço sossegado, rodeado de natureza. Continuava a fazer os seus poemas e a reeditar vários livros. A mulher da sua vida, Agripina, cuidava do seu conforto assim como a sua incansável sobrinha Gisela Ramos Rosa. Tanto Agripina como Gisela Ramos Rosa publicaram livros de poemas. Faria 89 anos no próximo mês de Outubro.

António Ramos Rosa 1924 - 2013. Em Outubro faria 89 anos.