domingo, 21 de setembro de 2008




A Qualidade dos Sentimentos de WILLY PASINI

Gerações inteiras de jovens cresceram na convicção de que wilhelm Reich tinha razão: para este autor, tal como para eles, a revolução sexual tinha de ser o preâmbulo da revolução política, e a superação da normalidade sexual defendida pela classe burguesa era apenas o ponto de partida de uma nova ordem social.Os acontecimentos que se seguiram a Maio de 68 contradisseram definitivamente o mestre: à desordem sexual dos últimos vinte anos seguiu-se a ordem social, pelo menos na Europa Ocidental. Porque falta demonstrar ainda que teria acontecido do mesmo modo no Leste europeu não ainda liberto ou no Islão.(...)Em vez da revolução, a libertação sexual trouxe consigo a banalização da sexualidade. Da queda dos tabus derivou uma mudança de estado no fenómeno da transgressão: de fantasia erótica a comportamento compartilhado pela maioria da população. Ao ponto de dois estudiosos como Bruckner e Finkielkraut afirmarem que pôr em acção a perversão é a última esperança que resta para obviar a banalidade de uma sexualidade agora demasiado fácil. O fantasma erótico é deste modo substituído pela experiência, mas sem que isso o fixe no estádio de estrutura perversa. (....)


Dois fragmentos do livro o nosso reino de valter hugo mãe

era o homem mais triste do mundo, como numa lenda, diziam dele as pessoas da terra, impressionadas com a sua expressão e com o modo como partia as pedras na cabeça e abria bichos com os dentes tão caninos de fome.

era o homem mais triste do mundo, diziam , não faz mal a ninguém, mete dó, tinha olhos de precipício como se vazios para onde as pessoas e as coisas caíam em desamparo. mas era impossível não os fitarmos, fascinados por eles como ficávamos, e era com eles que iluminava o caminho à noite, garantiam alguns, quando se embrenhava pelo mato em direção à sua cabana secreta, ou cova, toca o que pudesse haver para lá do emaranhado desconhecido de onde vinha . era com os olhos, como lanternas, que competia com os bichos da noite, perplexos com tal ser.(...)

(...)desde há semanas que não me confessava ao padre, que estava absolutamennte possesso pela falta. exigi-o, se me obrigarem a confessar-me ao padre salto do rochedo e morro. salto o lado das as pedras, bato com a cabeça e morro. estive dois dias a silêncio, pão e água, por pecar o pecado da desobediência. mas não estava a brincar, era a minha força toda, não falarei com o padre filipe que me bate, é mau, precisa de ser salvo, não pode salvar. assim. passei o verão a frequentar a missa e a subir mais cedo à merciaria para o bolo de sempre, por vezes, a medo, ouvia o canto final do senhor hegarty já ao pé da porta, como o avanço de uma lebre na corrida. (...)