domingo, 21 de setembro de 2008

Dois fragmentos do livro o nosso reino de valter hugo mãe

era o homem mais triste do mundo, como numa lenda, diziam dele as pessoas da terra, impressionadas com a sua expressão e com o modo como partia as pedras na cabeça e abria bichos com os dentes tão caninos de fome.

era o homem mais triste do mundo, diziam , não faz mal a ninguém, mete dó, tinha olhos de precipício como se vazios para onde as pessoas e as coisas caíam em desamparo. mas era impossível não os fitarmos, fascinados por eles como ficávamos, e era com eles que iluminava o caminho à noite, garantiam alguns, quando se embrenhava pelo mato em direção à sua cabana secreta, ou cova, toca o que pudesse haver para lá do emaranhado desconhecido de onde vinha . era com os olhos, como lanternas, que competia com os bichos da noite, perplexos com tal ser.(...)

(...)desde há semanas que não me confessava ao padre, que estava absolutamennte possesso pela falta. exigi-o, se me obrigarem a confessar-me ao padre salto do rochedo e morro. salto o lado das as pedras, bato com a cabeça e morro. estive dois dias a silêncio, pão e água, por pecar o pecado da desobediência. mas não estava a brincar, era a minha força toda, não falarei com o padre filipe que me bate, é mau, precisa de ser salvo, não pode salvar. assim. passei o verão a frequentar a missa e a subir mais cedo à merciaria para o bolo de sempre, por vezes, a medo, ouvia o canto final do senhor hegarty já ao pé da porta, como o avanço de uma lebre na corrida. (...)

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