terça-feira, 16 de setembro de 2008

Poema de PAULO DA COSTA DOMINGOS

Vivo no bulício da cidade como num enclave e conjuro ao diálogo mortos notáveis, para o que, nem havendo entendimento ou apreço, escrevo. Moderado na escavação das ruínas... que quem muito viveu, gozou e depois partiu não está agora para versos e grandes conversas. Uma dobra que ficou mais vincada na folha, sombreando triângulos no papel, a dois tons, solta frases, interrompidas, e ao desdobrá-la desdobramo-las - o sério na galhofa, a mofa mitigando a dor. Que riam de nós à vontade! Se já ninguém chega à nascente que não seja pela torneira, ou à terra lavrada que não dê com insecticida, e ao grão que não venha em lata, e do leite nem se fala: só vaporizado - então entrego-me à passagem desses anjos ( os últimos), sobrevoo vigilante o covil do amor.
NAS ALTURAS, Frenesi, Lisboa 2006





BALTHUS - O PINTOR DA INTIMIDADE

Quando se realizou a primeira exposição de Balthus em 1934, estava na moda o surrealismo e o abstraccionismo.Os temas perturbantes do jovem artista , de um erotismo provocador, vieram recriar a pintura. Segundo Marcel Duchamp um quadro que não choca não vale o esforço. Para este pintor o erotismo era uma coisa muito generalizada em todo o mundo , uma coisa que as pessoas compreendem.




A lição de Guitarra de BALTHUS

A obra mais polémica de Balthus. Foi apresentada em 1934 numa exposição da Galeria Pierre Loeb em Paris, mas numa sala à parte, um pouco afastada do percurso da galeria. Só reapareceu em público em 1977 na Galeria Pierre Matisse em Nova Iorque. O puritanismo anglo-saxão obrigou o jornalista Tom Hesse a desculpar-se por não poder reproduzi-la , devido à intensidade da sua imagem, para ilustrar o artigo que sobre esta obra escreveu na revista New York. Mais tarde ao rever a obra o jornalista declarou que a Lição de Guitarra, sustentada por um excepcional domínio pictórico, era, sem sombra de dúvida, um dos grandes clássicos do século XX mas teremos de esperar outros tempos mais tolerantes para que volte a aparecer. Em 1984, meio século depois de ter sido exposta pela primeira vez, a obra foi proibida de fazer parte da restrospectiva Balthus no Centre Georges Pompidou e no Museum of Modern Art de Nova Iorque. O organizador da exposição explicou no catálogo a ausência da Lição de Guitarra por motivos que não partilhava inteiramente mas que mostravam até que ponto, cinquenta anos depois de ser pintada, a obra ainda incomodava e perturbava. Felizmente a Lição de Guitarra acabou por reaparecer em 2001 na retrospectiva Balthus no Pallazo Grassi de Veneza.







AS ADOLESCENTES DE BALTHUS

Dizia Balthus: "A melhor maneira de não cair numa segunda infância é nunca ter saido da primeira". Quando tinha catorze anos confessou a um amigo que gostava de ficar sempre criança. O artista via as adolescentes como um simbolo "A beleza da adolescência é mais interessante, encarna o futuro, o ser antes de se tornar em beleza perfeita. Uma mulher já encontrou o seu lugar no mundo, uma adolescente não. O corpo de uma mulher está já completo. O mistério desapareceu".





BALTHUS O PINTOR DA INTIMIDADE
O conde Baltasar Michel Klossoviski de Rola, conhecido como Balthus, filho de um historiador de arte e de uma pintora, nasceu em Paris a 29 de Fevereiro de 1908. Casou duas vezes e teve três filhos. Além de pintor, criou cenários, ilustrações e guarda roupa para diversas peças teatrais. Em 1961 André Malraux , ministro da cultura no Governo do General de Gaulle, nomeou Balthus para director da Academia de França em Roma. Apresentado por Jacques Chirac, Balthus recebeu em 1991 o Praemium Imperial atribuido pela Japan Art Association e em 1998 é nomeador Doutor Honoris Causa pelo Universidade de Vroclac. Faleceu na sua casa em Rossinière em 18 de Fevereiro de 2001.